
Mercado enfrenta combinação perigosa de oferta elevada, consumo retraído e reflexo da gripe aviária; arroba do boi gordo recua até R$ 3 em São Paulo, e pecuarista precisa redobrar a atenção
O mercado do boi gordo abriu a semana em queda generalizada nas principais praças pecuárias do Brasil. Segundo levantamento do setor, o boi “comum” recuou R$ 3/@ em São Paulo, sendo negociado nesta segunda-feira (19) a R$ 308/@ no prazo. A novilha também recuou na mesma proporção, cotada a R$ 290/@. A vaca gorda permaneceu estável em R$ 277/@, enquanto o boi-China gira em torno de R$ 312/@.
Esses números, porém, não refletem apenas oscilações pontuais. O cenário atual é resultado de um ajuste estrutural no ciclo pecuário e no consumo interno, além de fatores inesperados — como o surto de gripe aviária. Pressão no pasto: o boi entra na entressafra sentindo o peso da oferta e do mercado interno parado
A tríade da pressão: boiada no cocho, frango sobrando e consumo travado
O mercado enfrenta três pilares de pressão:
- Oferta elevada de boi gordo — resultado do alongamento da safra e das boas condições de pastagem que permitiram a terminação de mais animais;
- Ritmo lento de consumo interno, especialmente após o Dia das Mães, com queda nas compras dos frigoríficos e do varejo;
- Reflexos da gripe aviária, que derrubaram exportações de carne de frango e fizeram esse produto invadir o mercado doméstico a preços mais baixos, prejudicando todas as demais proteínas.
O consumidor sente no bolso e migra para proteínas mais acessíveis. Isso derruba a margem da indústria e trava o apetite comprador, refletindo diretamente nos preços da arroba.
B3 antecipa realidade amarga e projeta preços do boi gordo ainda mais baixos
Na Bolsa, o movimento também é de queda. Os principais contratos futuros do boi gordo registraram forte desvalorização:
- Maio/25: R$ 298,10/@ (-2,13%)
- Junho/25: R$ 300,15/@ (-2,12%)
- Julho/25: R$ 310,60/@ (-1,90%)
- Agosto/25: R$ 314,00/@ (-2,12%)
A curva futura mostra um mercado precificando uma entressafra mais fraca, com contratos operando até R$ 8 abaixo do físico, reforçando o alerta: o momento exige estratégia na hora de fechar negócios e planejar entregas.
Reposição, milho e farelo: todos no mesmo rumo
A pressão não se restringe ao boi gordo. A reposição também sentiu:
- Bezerro: -0,49% (R$ 2.930,03/cab)
- Milho: -4,43% (R$ 73,41/sc)
- Farelo de soja: -1% (R$ 1.812,39/t)
Esse movimento pode representar uma janela de oportunidade para quem ainda vai confinar, mas também indica que o mercado está todo em ajuste e a cautela deve ser redobrada.
Exportação segura parte da arroba
Apesar da fraqueza no mercado doméstico, as exportações seguem firmes e oferecem uma âncora importante. Em abril, o Brasil exportou 211,5 mil toneladas de carne bovina, com receita de US$ 1,062 bilhão e média diária de US$ 62,4 milhões. O preço médio da tonelada ficou em US$ 5.021,20, um dos melhores níveis do ano.
Essa robustez ajuda a conter quedas mais severas — especialmente nos animais padrão exportação —, mas não é suficiente para neutralizar as pressões internas.
O boi de maio está entre dois mundos
O cenário atual mostra o pecuarista no meio do fogo cruzado entre um consumo travado e uma exportação que ainda sustenta, mas não salva sozinha. Mais do que nunca, a leitura de mercado e o ajuste fino na gestão do rebanho são cruciais.
Para muitos, é hora de revisar custos, travar preços e olhar além da porteira — com olhos atentos ao que o mundo e o mercado interno estão ditando.
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