Boi no vermelho? Como separar despesas fixas e variáveis para salvar o caixa do boi

Enquanto custos de insumos pressionam o produtor e a arroba oscila no mercado, cortar gastos sem planejamento pode aprofundar prejuízos; separar despesas fixas e variáveis é o primeiro passo para manter a fazenda no azul

O pecuarista brasileiro vive uma gangorra constante: de um lado, a pressão dos custos de produção, puxados por insumos como milho, soja e suplementação mineral; do outro, a incerteza no preço da arroba, ditada pelo ciclo pecuário, consumo interno e demanda internacional. Quando a conta não fecha e o “boi fica no vermelho”, a primeira reação é cortar gastos. O problema? Sem saber onde cortar, o produtor pode estar sacrificando a eficiência e aprofundando o prejuízo.

A solução está em um pilar básico da gestão de negócios, muitas vezes negligenciado na porteira para dentro: a separação rigorosa entre despesas fixas e variáveis.

O “calcanhar de Aquiles” da pecuária de corte é que muitas de suas despesas são pagas “à vista” (compra de reposição, insumos, sal), mas o retorno (a venda do boi gordo) só acontece meses ou anos depois. Esse descasamento de caixa é fatal.

O produtor que não conhece seu custo de produção fica refém do preço da arroba; ele não gerencia o negócio, ele é gerenciado pelo mercado. Quando a arroba cai, muitos cortam custos de forma reativa, como a suplementação na seca ou a adubação de pasto. Esse é o perigo: cortar um custo variável essencial diminui o Ganho Médio Diário (GMD), aumenta o tempo de abate e, paradoxalmente, acaba aumentando o custo final da arroba produzida. É o famoso “barato que sai caro”.

Para salvar o caixa, o primeiro passo é a “autópsia” financeira. O gestor precisa sentar e classificar cada centavo que sai da conta da fazenda.

Despesas Fixas (Os “Custos da Estrutura”):

São os gastos que o pecuarista terá independentemente de ter 100 ou 1.000 bois no pasto. Eles existem apenas para manter a fazenda “de portas abertas”. A estratégia aqui não é cortar (muitas vezes não é possível), mas sim diluir.

Exemplos Clássicos:

  • Arrendamento ou impostos (ITR, Funrural sobre folha): O valor não muda se o pasto está cheio ou vazio.
  • Mão de obra fixa: Salário do gerente, tratorista e vaqueiros contratados (CLT).
  • Depreciação: Desgaste de máquinas, cercas, currais e tratores.
  • Manutenção estrutural: Reparo de cercas, galpões, sede.
  • Administrativo: Software de gestão, contador, energia da sede.

Despesas Variáveis (Os “Custos da Produção”):

São os gastos diretamente atrelados ao animal. Se o produtor decide aumentar o rebanho, esses custos sobem proporcionalmente. É aqui que mora a eficiência produtiva.

Exemplos Clássicos:

  • Reposição: Compra do bezerro ou boi magro.
  • Nutrição: Sal mineral, proteinado, ração de confinamento, ureia.
  • Sanidade: Vacinas, vermífugos, medicamentos.
  • Insumos de Pastagem: Adubos, sementes, herbicidas.
  • Mão de obra temporária: Diaristas para vacinação, castração ou roçada.
  • Frete e comissão: Pagos no momento da venda do boi.

Uma vez que os custos estão separados, as estratégias ficam claras. O pecuarista passa a ter dois alvos diferentes para atacar:

Alvo 1: Otimizar o Custo Variável (Aumentar a Eficiência)

Não se trata de cortar o proteinado; trata-se de garantir que cada real gasto nele produza o máximo de arrobas. A otimização do variável exige um olhar atento aos indicadores zootécnicos: Qual o custo por arroba produzida? Qual a conversão alimentar?

Isso envolve decisões estratégicas: Estou comprando bem os insumos? Posso travar o preço do milho em época de safra? É melhor adubar o pasto ou confinar?
A otimização do variável significa, em suma, produzir mais com menos, focando no Custo da Arroba Produzida ($/ @).

Alvo 2: Diluir o Custo Fixo (Aumentar a Produtividade)

O custo fixo é como um aluguel. Se uma fazenda paga R$ 5.000 de custos fixos para produzir 100 arrobas, seu custo fixo é de R$ 50,00 por arroba. Se, nessa mesma estrutura, o produtor usar tecnologia (adubação, manejo) para produzir 200 arrobas, seu custo fixo cai para R$ 25,00 por arroba.

Essa diluição do custo fixo é a chave da intensificação. O objetivo é aumentar a “lotação” (UA/ha) ou encurtar o ciclo de abate. Ao fazer isso, o pecuarista usa a mesma estrutura para “colher” mais arrobas por hectare/ano, derrubando o custo final do boi e blindando a fazenda contra a queda de preços.

O “boi no vermelho” raramente é resultado de um único fator, mas quase sempre é agravado pela falta de gestão financeira. O pecuarista não controla o preço da arroba, mas deve controlar seu custo de produção.

A separação entre despesas fixas e variáveis não é um exercício contábil chato; é a ferramenta de diagnóstico que permite ao gestor parar de “apagar incêndios” e começar a tomar decisões estratégicas. Saber se o problema está na eficiência da produção (variáveis altos) ou na ociosidade da estrutura (fixos altos) é o primeiro passo para garantir que o caixa da pecuária feche no azul.

Escrito por Compre Rural

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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira

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