Ex-presidente Bolsonaro admitiu ter usado ferro de solda no equipamento de monitoramento; Primeira Turma do STF avaliará manutenção da prisão preventiva nesta segunda-feira
O ex-presidente Jair Bolsonaro atravessa um dos episódios mais delicados de sua trajetória política e jurídica desde que deixou o Palácio do Planalto. Preso preventivamente após tentar violar sua tornozeleira eletrônica com um ferro de solda, Bolsonaro passou neste domingo (23) por uma audiência de custódia realizada por videoconferência na Superintendência da Polícia Federal (PF) em Brasília. Apesar da sessão, ele permanecerá detido até que a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) analise, nesta segunda-feira (24), se mantém ou revoga a decisão que ordenou sua prisão.
A situação ganhou escala nacional depois que o relatório da Secretaria de Administração Penitenciária do Distrito Federal revelou que Bolsonaro admitiu ter aplicado calor com ferro de solda no fecho da tornozeleira, provocando queimaduras visíveis no equipamento. O sistema de monitoramento registrou a violação às 00h07 de sábado (22), e a Polícia Federal foi acionada imediatamente. Horas depois, o ministro Alexandre de Moraes determinou a prisão preventiva, citando o risco de fuga e a possibilidade de tumulto diante da vigília convocada pelo senador Flávio Bolsonaro próximo à casa onde o pai cumpria prisão domiciliar.
Audiência de custódia confirma integridade física, mas mantém prisão de Bolsonaro enquanto STF delibera
A audiência deste domingo, conduzida pela juíza-auxiliar Luciana Yuki Fugishita Sorrentino — e não por Moraes — teve como objetivo verificar a legalidade da prisão e as condições físicas e psicológicas do ex-presidente. Bolsonaro afirmou que teria vivido um “surto” ao tentar abrir a tornozeleira e negou qualquer intenção de fuga, dizendo que teria agido sozinho. Ele também respondeu às perguntas protocolares sobre acesso a advogados e respeito a direitos fundamentais.
Por ser uma prisão ordenada pelo STF, a audiência não tinha competência para soltá-lo. O relatório da sessão será enviado ao gabinete de Moraes e, na sequência, submetido à Primeira Turma, que reúne, além dele, os ministros Cristiano Zanin, Cármen Lúcia e Flávio Dino. O julgamento será virtual, das 8h às 20h desta segunda-feira.
Defesa pede prisão domiciliar humanitária e tenta reverter narrativa de risco de fuga
Ao longo do fim de semana, a defesa de Bolsonaro ingressou com pedidos no STF para tentar reverter a prisão. Um dos principais foi a solicitação de prisão domiciliar humanitária, sob a alegação de que o ex-presidente possui doenças permanentes e precisaria de acompanhamento médico intenso dentro de casa. O pedido foi negado por Moraes, que manteve a determinação de que Bolsonaro receba atendimento médico integral dentro da própria Superintendência da PF.
Os advogados também contestaram a tornozeleira eletrônica, afirmando que o equipamento teria sido imposto para gerar “humilhação” e que a hipótese de fuga seria apenas uma construção narrativa. O STF, porém, considerou a tentativa de romper o dispositivo um fato grave, reforçado pela vigília organizada pelo filho do ex-presidente — o que poderia, segundo o ministro, “facilitar eventual tentativa de fuga”.
Visita de Michelle e filhos é autorizada após ajustes formais
Ainda neste domingo, o ministro Moraes autorizou Michelle Bolsonaro a visitar o marido na Superintendência da PF entre 15h e 17h, após a audiência de custódia. A solicitação inicial da defesa incluía os filhos, mas o pedido foi considerado incompleto porque não especificava quais deles estariam presentes.
Somente após a retificação — com os nomes de Flávio Bolsonaro, Carlos Bolsonaro e Jair Renan — a visita dos três passou a tramitar normalmente. Outras visitas previamente autorizadas, como a de governadores aliados, foram suspensas até nova decisão.
Prisão preventiva de Bolsonaro ocorre paralelamente a condenação por trama golpista
A prisão pela tentativa de violação da tornozeleira não está vinculada diretamente ao processo da trama golpista, no qual Bolsonaro já foi condenado a 27 anos e três meses de prisão em regime fechado. A Primeira Turma rejeitou recentemente os últimos embargos de declaração apresentados pela defesa, e neste domingo vence o prazo final para a apresentação dos últimos recursos possíveis.
Caso essas manifestações sejam rejeitadas, a execução da pena poderá ser autorizada nas próximas semanas — o que torna o episódio da tornozeleira ainda mais sensível no campo político e jurídico.
Cenário na PF reúne apoiadores, opositores e forte presença policial
Do lado de fora da Superintendência da Polícia Federal em Brasília, o clima foi de tensão moderada, com grupos favoráveis e contrários ao ex-presidente comparecendo ao local. Imagens registradas pela imprensa mostram reforço de policiamento e divisões entre os manifestantes, mas sem incidentes graves até o momento.
A equipe jurídica de Bolsonaro manteve silêncio frente à imprensa após sair tanto da audiência quanto de encontros prévios com médicos e representantes da PF.
Próximos passos
A decisão desta segunda-feira deve definir o futuro imediato de Bolsonaro:
- pode confirmar sua permanência na PF,
- revogar a prisão preventiva,
- estabelecer outras medidas cautelares,
- ou abrir caminho para a execução da pena no processo da trama golpista.
Qualquer que seja o desfecho, trata-se de um dos julgamentos mais aguardados do ano, com impacto direto no cenário político brasileiro e na trajetória de um dos personagens mais polarizadores da história recente do país.
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