
Déficit de armazenagem de grãos alcança 124,3 milhões de toneladas, provocando perdas de qualidade, valor e competitividade. Especialistas alertam: “Produzir é essencial. Armazenar é estratégico”.
Em meio à colheita da maior safra da história, o Brasil se depara com um velho gargalo que estrangula sua competitividade no agronegócio: a falta de capacidade de armazenagem. Segundo análise da Cogo Inteligência em Agronegócio, a safra recorde de grãos de 2025 deve atingir 336,1 milhões de toneladas, mas a estrutura estática de armazenagem do país comporta apenas 212,6 milhões — um déficit alarmante de 124,3 milhões de toneladas.
“O produtor brasileiro tem mostrado excelência em produtividade. Mas a infraestrutura de armazenagem está ficando para trás”, alerta a Cogo em relatório. A consequência? Milhões de toneladas correm o risco de apodrecer a céu aberto, degradando a qualidade e o valor da produção.
Impacto silencioso, perdas bilionárias
Apesar de ser um problema estrutural conhecido, os efeitos do déficit de armazenagem são profundos e silenciosos, segundo a consultoria. “Perdemos qualidade, valor, renda e competitividade”, reforça a análise.
A cadeia é afetada em diferentes níveis:
- 🔻 O produtor é forçado a vender na pressa, com preços deprimidos;
- 🔻 O frete dispara pela concentração de demanda no período da colheita;
- 🔻 A indústria arca com estocagem prolongada e alto custo logístico;
- 🔻 O consumidor final paga mais, como elo mais fraco da cadeia.
Armazenagem cresce menos que a produção
Enquanto a produção de grãos no Brasil avança a 5,3% ao ano, a capacidade de armazenagem sobe apenas 3,4%. Em 2005, o país armazenava 92,8% da safra. Para 2025, a estimativa da armazenamento da safra recorde de grãos é de apenas 63,3%, e o cenário é ainda mais preocupante dentro das propriedades rurais, onde o índice despenca para 16,8%.
Em novas fronteiras agrícolas, o panorama é crítico:
- No Matopiba, menos da metade da produção tem silo garantido;
- Em Rondônia, apenas 23,8% da safra tem onde ser guardada;
- No Maranhão, há casos em que os grãos percorrem até 100 km para chegar ao primeiro armazém — e já foram registrados caminhões sendo usados como silo improvisado.
Crédito limitado e investimento travado, apesar de safra recorde
Um dos principais entraves para a expansão da armazenagem é o custo do investimento. Juros altos, licenciamento ambiental complexo, falta de mão de obra técnica e custo operacional elevado afugentam produtores.
A Cogo destaca que em 2022, 72,7% dos produtores disseram que investiriam em armazéns se houvesse taxa de juros mais atrativa. Hoje, os financiamentos giram em torno de 8,5% ao ano.
Mesmo com o anúncio de R$ 7,8 bilhões no Plano Safra 2024/25 para financiar estruturas de armazenagem — um aumento de 17,4% em relação ao ciclo anterior —, o montante cobre menos da metade da necessidade real. Segundo a Abimaq, seriam necessários ao menos R$ 15 bilhões por ano só para acompanhar o crescimento das safras.
Soja ocupa o espaço, milho fica ao relento
Sem espaço adequado, a soja — por ter maior valor por tonelada — ocupa os silos primeiro, enquanto o milho, que vem logo depois, fica exposto ao tempo, perdendo qualidade ou encarecendo o sistema com logística emergencial.
“Produzir é essencial. Armazenar é estratégico”, resume a análise da Cogo, que reforça o chamado para uma política pública robusta e contínua voltada à infraestrutura pós-colheita. O Brasil já é um gigante na produção, colhendo uma nova safra recorde. Agora, precisa garantir que cada grão colhido seja também bem armazenado.
Foto: Julho/2025 em armazém da Cofco, em Marcelândia (MT)
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