Crescimento da demanda, protagonismo do Oriente Médio e expansão de novos corredores logísticos impulsionam o setor pecuário brasileiro, que para caminha para recorde histórico na exportação de gado vivo
A exportação de gado vivo do Brasil está prestes a atingir um marco inédito em 2025, com a previsão de embarque de até 1,5 milhão de animais, segundo dados compilados pela Agrifatto. O volume representa um crescimento de mais de 16% em relação a 2024, consolidando o maior resultado da série histórica da pecuária brasileira.
Esse avanço é puxado, principalmente, pela retomada das compras por países do Oriente Médio e Norte da África, como Turquia, Iraque, Marrocos, Egito e Líbano — responsáveis por quase 80% da demanda. A Turquia, em especial, voltou ao mercado brasileiro em julho após uma ausência que afetou significativamente os volumes exportados no primeiro semestre.
Brasil bate recordes e reforça competitividade no mercado global
Somente em setembro de 2025, foram embarcadas 137,17 mil cabeças de gado, segundo maior volume mensal já registrado, gerando uma receita de US$ 147,93 milhões com média de US$ 76,32 por arroba. A CEO da Agrifatto, Lygia Pimentel, explica que o boi brasileiro é atualmente o mais barato do mundo, o que sustenta a alta competitividade e o crescimento nas exportações.
No primeiro semestre de 2025, o Brasil exportou 487,6 mil bovinos vivos, um salto de 47,1% em relação ao mesmo período de 2024. A perspectiva, segundo a Scot Consultoria, é que o país atinja novamente — ou supere — a marca de 1 milhão de cabeças exportadas, caso o ritmo se mantenha até o fim do ano.
Diversificação de rotas: RN e RJ entram no circuito
Além dos tradicionais polos exportadores como Pará (59,59%), Rio Grande do Sul (22,38%) e São Paulo (5,08%), outros estados começam a se estruturar para entrar na rota da exportação de gado vivo. É o caso do Rio Grande do Norte, que planeja realizar ainda em 2025 seu primeiro embarque de animais vivos pelo Porto de Natal, com aproximadamente 3.500 cabeças de gado.
A operação potiguar foi detalhada durante a Festa do Boi 2025, em Parnamirim, onde o secretário estadual de Agricultura, Guilherme Saldanha, destacou que o estado agora conta com um porto habilitado, uma Estação de Pré-Embarque (EPE) aprovada pelo MAPA e um frigorífico em operação. A iniciativa é vista como estratégica para fortalecer a pecuária regional, gerar empregos e abrir mercados bilionários no exterior.

Um diferencial competitivo importante do RN é a proximidade com o Oriente Médio: enquanto embarques a partir do Sul e Sudeste do país levam de 15 a 21 dias até países como o Egito, pelo Porto de Natal esse tempo cai para 11 a 13 dias, reduzindo significativamente os custos logísticos.
No Rio de Janeiro, o governo estadual também estuda iniciar exportações pelo Porto do Açu, em São João da Barra. A proposta está em fase experimental e busca viabilizar a exportação com base em ajustes nos protocolos sanitários e de bem-estar animal.
Perfil da exportação de gado vivo: animais jovens, mercados exigentes e impacto na pecuária nacional
Segundo os dados de julho de 2025, a Turquia concentrou sua demanda em animais mais leves, com menos de 300 kg, adquirindo 21,9 mil cabeças — todas provenientes do Rio Grande do Sul. Já o Pará liderou o volume geral, com 56,4 mil cabeças no mês.
Embora o ritmo de crescimento impressione, a exportação de gado vivo ainda representa uma parcela modesta do mercado nacional, com apenas 3,15% do abate total em 2024, podendo chegar a 3,59% em 2025. Para especialistas, trata-se de um nicho com grande potencial, mas que não deve assumir protagonismo no curto prazo.
Ainda assim, o impacto é relevante: exportações exigem animais com padrão genético, nutrição e manejo qualificados, o que tem incentivado investimentos em melhoramento de rebanho. O empresário Cláudio Escóssia, responsável pelo primeiro embarque no RN, destaca que essa movimentação deve provocar um “efeito transformador” no perfil da pecuária local.
O avanço na exportação de gado vivo brasileiro em 2025 não apenas reposiciona o país como fornecedor global estratégico, como também abre oportunidades para estados historicamente fora do circuito comercial internacional. Trata-se de um movimento que, embora ainda seja considerado nichado, transforma estruturas, valoriza a genética do rebanho e movimenta cadeias inteiras da economia rural nacional.
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