
Além de firmar acordos em biocombustíveis e pesquisa agrícola, os países reforçam pedido conjunto por vagas permanentes no Conselho de Segurança da ONU
Em uma agenda diplomática intensa e estratégica, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o primeiro-ministro indiano Narendra Modi formalizaram nesta terça-feira (8), em Brasília, uma série de parcerias que posicionam Brasil e Índia como protagonistas em setores-chave como agricultura, bioenergia e segurança internacional. O encontro também selou um pedido conjunto à ONU por assentos permanentes no Conselho de Segurança, fortalecendo a demanda por uma governança mais representativa.
Cooperação no campo: pesquisa, inovação e genética zebuína
O ponto alto da visita, do ponto de vista do agronegócio, foi a assinatura de um acordo entre a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e o Conselho Indiano de Pesquisa Agrícola. O objetivo é fomentar projetos de inovação voltados à produção de alimentos e tecnologias sustentáveis para a agricultura.
“Nossa pecuária deve muito à Índia. 90% do rebanho zebuíno brasileiro é resultado de 60 anos de intensa cooperação bilateral em melhoramento genético”, destacou Lula.
A parceria não apenas reafirma os laços históricos no campo da genética animal, como abre novas portas para o desenvolvimento de sistemas produtivos mais eficientes e adaptados às mudanças climáticas.
Etanol, biodiesel e transição energética
Outro destaque da visita foi o avanço no campo dos biocombustíveis, tema no qual ambos os países têm metas ambiciosas. A Índia, por exemplo, anunciou planos para aumentar para 20% a mistura de etanol na gasolina e chegar a 5% de biodiesel no diesel. O Brasil, referência mundial na produção e uso de etanol, será parceiro estratégico nesse processo.
“Chegaremos à COP 30 como líderes da transição energética justa. Mostraremos que é possível aliar redução nas emissões de gases de efeito estufa com crescimento econômico e inclusão social”, afirmou Lula.
Os dois líderes também firmaram um memorando de entendimento em energia renovável, incluindo ações na área de transmissão elétrica e combate às mudanças climáticas.
Comércio em expansão e meta ousada
Comércio bilateral entre Brasil e Índia alcançou US$ 12 bilhões em 2024, mas há espaço para crescimento. Nos cinco primeiros meses de 2025, houve alta de 24% nas trocas comerciais, sinalizando forte ritmo de expansão.
Enquanto as exportações brasileiras — lideradas por açúcar, petróleo bruto, óleos vegetais e aviões — somaram US$ 5,26 bilhões, as importações da Índia bateram US$ 6,8 bilhões, com destaque para produtos farmacêuticos, químicos e tecnologia.
Modi e Lula apontaram metas ousadas: o primeiro-ministro indiano quer elevar a balança comercial para US$ 20 bilhões nos próximos cinco anos, enquanto o presidente brasileiro afirmou trabalhar para triplicar o volume de trocas no curto prazo.
Acordos estratégicos
Além dos avanços no agro, foram assinados acordos de:
- Combate ao terrorismo e ao crime organizado transnacional;
- Compartilhamento de soluções digitais em larga escala;
- Troca de informações sigilosas para aprimorar a segurança e a governança.
Protagonismo global e reforma da ONU
O encontro entre os dois líderes foi marcado por um forte discurso político em favor da democratização das instâncias de poder global. Brasil e Índia pediram vagas permanentes no Conselho de Segurança da ONU, alegando representatividade insuficiente dos países em desenvolvimento nas decisões internacionais.
“Não é mais possível ver a ONU enfraquecida. Os membros permanentes, que deveriam primar pela paz, são os que mais estimulam a guerra”, criticou Lula.
Modi reforçou que a aproximação dos dois países contribui para a estabilidade internacional e que “disputas devem ser resolvidas pelo diálogo e pela democracia”.
Perspectiva estratégica do acordo entre Brasil e Índia
A visita de Estado reforça a percepção de que Brasil e Índia estão construindo um novo eixo de cooperação sul-sul, com impactos diretos no agro, na energia e na política internacional. A aliança mostra que a produção de alimentos e energia limpa pode andar de mãos dadas com diplomacia ativa e protagonismo global.
Com quase 3 bilhões de habitantes somados, Brasil e Índia caminham juntos como forças emergentes no novo desenho do poder global. E fazem isso com o campo e o agro como ponto de partida.
Foto: MARCELO CAMARGO/AGÊNCIA BRASIL
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