Brasil está ficando sem milho, e agora?

Ondas de frio reduzem estimativa de produção de milho segunda safra para 60,9 milhões de toneladas; Além disso, preços seguem elevados acima de R$ 100/sc!

Não é exagero dizer que nunca se viu uma segunda safra de milho como a atual. O problema já começou com o plantio mais tardio da história e continuou com as lavouras se desenvolvendo sob clima irregular, e como se não bastasse, para fechar, três ondas sucessivas de frio – a primeira em 29 de junho, a segunda em 20 de julho e a última nos dias 29 e 30 – resultaram em geadas severas no Paraná, Mato Grosso do Sul e São Paulo.

No campo, os técnicos avaliaram as condições do milho mais tardio e os danos causados pela geada. Resultado: um novo corte de 4,4 milhões de toneladas, reduzindo a estimativa de produção feita pela Agroconsult, organizadora do Rally da Safra, de 65,3 milhões para 60,9 milhões de toneladas— uma quebra de 20,6% sobre a safra anterior, quando foram produzidas 76,7 milhões de toneladas.

“O grande problema dessa safra não foi a geada, que costuma ocorrer nessa época, mas sim o atraso no plantio que fez com que as lavouras estivessem em estado crítico de desenvolvimento quando as ondas de frio ocorreram”, afirma Debastiani.

A grande questão é que o problema não está só na quebra da safra. Por conta da alta demanda mundial pelo cereal e os estoques de passagem que estão ficando a cada ano mais abaixo da média, os preços interno no Brasil está preocupando a ponta consumidora.

Segundo os dados divulgados, nesta última semana os preços se mantiveram firmes a R$ 102,00/sc, na média das praças avaliadas. A sustentação dos preços se deve a baixa oferta do cereal para comercialização e margens apertadas da ponta consumidora.

Menor oferta interna, valorização do real, e preços internacionais relativamente baixos têm contribuído para o aumento de importação de milho para alimentação animal. Em entrevista ao programa Ligados e Integrados, o diretor de suprimentos da JBS, Arene Trevisan destacou que mais navios trazendo milho para a companhia devem aportar nos próximos dias.

“O modo que nós encontramos para manter a produtividade e o nosso sistema integrado competitivo foi trazer o milho da Argentina. Temos três navios que devem chegar no porto nos próximos dias, importamos mais alguns navios e estamos prospectando mais alguns”, afirmou ele entrevista nesta semana.

Graos

Conab reduz estoques finais de milho

A projeção de segunda safra, que está sendo colhida, foi reduzida para 66,97 milhões de toneladas, ante 69,96 milhões na previsão anterior e 75 milhões de toneladas na temporada passada, disse a Conab, colocando ainda números mais conservadores do que projeções de analistas privados.

Diante dos ajustes, disse a Conab, o estoque final esperado ao fim do ano-safra 2020/21 é de 5,5 milhões de toneladas, redução de 48,4% em relação à safra anterior. A projeção representa um corte de mais de 2 milhões de toneladas ante o número de junho.

A estatal, contudo, reduziu a projeção de consumo de milho do país em quase 1 milhão de toneladas, para 71,3 milhões de toneladas, que ainda assim deverá superar o volume da temporada passada (68,7 milhões).

Santa Catarina busca alternativas para abastecimento de milho

“Para Santa Catarina, o milho é o grão de ouro. O nosso setor produtivo de carnes e leite não para de crescer e sabemos que nossa demanda será cada vez maior. Por isso, nós tomamos a frente e lançamos um projeto que incentiva a produção de cereais de inverno para a ração”, destaca o secretário Altair Silva.

O agro catarinense consome mais de sete milhões de toneladas de milho por ano e grande parte desse volume é importado de outros estados ou países. Na safra 2020/2021, as lavouras do estado sofreram com a estiagem prolongada, além dos ataques da cigarrinha-do-milho, e a produção acabou com uma queda de 27%.

As estimativas do Centro de Socioeconomia e Planejamento Agrícola (Epagri/Cepa) apontam para uma colheita de 1,8 milhão de toneladas, sendo necessário importar cerca de 5,5 milhões de toneladas do grão este ano.

Para reduzir a dependência de milho e os custos de produção da cadeia produtiva de carnes e leite, a Secretaria da Agricultura lançou o Projeto de Incentivo ao Plantio de Cereais de Inverno. Com investimento de R$ 5 milhões, os produtores receberam apoio para cultivar trigo, triticale, centeio, aveia e cevada – que devem ser utilizados para fabricação de ração. No primeiro ano de ação já foi percebido um aumento de 70% na produção de trigo e safra deve chegar a 290 mil toneladas – um recorde histórico para Santa Catarina.

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