Brasil quer converter dois Paranás em Agricultura com ajuda da China

A ideia do governo Lula é de que os chineses financiem a conversão de terras no Brasil; “Podemos dobrar a produção agrícola”, afirmou o Ministro Fávaro

Num projeto suntuoso, o governo Lula quer transformar milhões de hectares de pastagem em áreas de produção agrícola. Mas, para isso, negocia a participação da China no financiamento de um plano que pode mudar a paisagem rural do país e aumentar a produtividade, sem a necessidade de qualquer desmatamento, as informações são de Jamil Chade, colunista do UOL.

Apesar do cancelamento da viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a China por conta de uma pneumonia, técnicos do Ministério da Agricultura continuaram as reuniões e visitas às entidades e órgãos chineses. A viagem tinha como objetivo reposicionar Pequim na economia nacional, com a assinatura de mais de 20 acordos. Todos eles serão adiados até a confirmação de uma nova data para a visita de Lula.

O Brasil é o principal fornecimento de alimentos para a China e o país asiático é o principal destino das exportações brasileiras do agronegócio.

Agora, o governo brasileiro quer que os chineses participem também da conversão de terras no país, inclusive para aumentar a produtividade e assegurar o abastecimento.

“Podemos dobrar a produção agrícola” Ministro Carlos Fávaro

Pelos cálculos do Ministério da Agricultura, custará US$ 3 mil por hectare para realizar a conversão de pastagem para cultivo. No caso brasileiro, existem pelo menos 40 milhões de hectares que poderiam ser transformados, o que implica que tal projeto exigiria mais de 100 bilhões de dólares.

distribuicao de areas de pastagens por degradacao

Para se ter uma ideia do tamanho da área que pode ser transformado em lavouras, se convertermos os 40 milhões de hectares chegamos ao número de 400 mil quilômetros quadrados, equivalente a dois estados do Paraná. Atualmente essas áreas estão destinadas a pecuária de baixa intensificação.

Diminuem as áreas de pastagens, com melhora na qualidade e produtividade

Do ponto de vista estrutural, as áreas de pastagens no Brasil vem reduzindo ao longo dos anos, enquanto o rebanho bovino vem aumentando, o que implica em um aumento na produtividade da pecuária brasileira por hectare. Já em relação ao nível de degradação, as áreas totais de pastagem consideradas severamente degradadas saíram de 28% em 2007 para 22% do total em 2021, enquanto as áreas consideradas sem degradação aumentaram de 29% para 37% do total no mesmo período, mostrando além de menor, a área total de pastagem no Brasil vem se tornando menos degradada – Com informações da DATAGRO.

areas de pastagens x rebanho bovino brasileiro
Foto: Divulgação
integracao pecuaria flores - ipf - cruzamento nelore x angus - fotao
Foto: Roberto Barcellos

Financiamento chinês, em troca de abastecimento

Um dos caminhos buscados pelo Brasil é a participação da COFCO, a maior empresa de alimentos e agricultura da China. Apenas em 2021, a estatal lidou com 130 milhões de toneladas de commodities, movimentando US$ 42 bilhões. Nos últimos anos, a empresa se expandiu pelo mundo, justamente na busca de garantias de abastecimento para o rápido crescimento chinês.

A ideia do governo Lula, agora, é de que os chineses financiem a conversão de terras no Brasil e que, ao longo dos anos, os próprios produtores façam o pagamento desses créditos em forma de soja, milho ou qualquer outro produto.

Uma segunda opção seria a ajuda dos chineses para financiar o BNDES. O banco brasileiro, nesse caso, facilitaria o crédito aos produtores nacionais que optarem pela mudança. Fontes do governo indicaram que a COFCO sinalizou interesse e que iria designar uma pessoa no Brasil para iniciar conversas.

O governo ainda encomendou um estudo na Embrapa para avaliar qual é realmente a dimensão das terras de pastagens desgastadas que poderiam ainda ser convertidas. Algumas estimativas apontam que a área seria duas vezes maior do que se conhece hoje.

O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, explicou aos interlocutores chineses que o governo brasileiro estimulará a conversão de 40 milhões de pastagens degradadas em áreas cultiváveis, o que permitiria praticamente dobrar a área destinada à produção agrícola sem desmatamento e com sustentabilidade.

Uma das mensagens foi passada em um evento realizado pelo Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC) em parceira com o Institute of Finance and Sustainability (IFS), o Climate Bonds Initiative (CBI) e o Global Environment Institute (GEI).

Xi Jinping, Presidente da China desde 2013
Xi Jinping, Presidente da China desde 2013

“Este é um programa que será incentivado pelo governo com linhas de crédito atrativas, para que o produtor, em vez de pensar em novos desmatamentos, capte recursos para converter pastagens, com uso de calcário, fertilizantes e matéria orgânica”, disse o ministro a representantes de instituições financeiras e fundos de investimentos chineses.

Durante o evento, o Assessor Especial do Ministro da Agricultura, Carlos Augustin, pediu aos chineses a concederem financiamento de longo prazo para a conversão de pastagens no Brasil. Em sua avaliação, isso seria de interesse dos próprios chineses, já que contribuiria também para o aumento da segurança alimentar do país que precisa alimentar 1,4 bilhão de pessoas.

“Podemos dobrar a produção agrícola”, afirmou Fávaro em um evento nesta segunda-feira em Pequim. Segundo ele, segmentos dos produtores apostam mais no desmatamento para conseguir ampliar a produção. Mas a lógica pode mudar com o financiamento garantido pelo BNDES.

Com informações do UOL

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