Mesmo com o “tarifaço” aplicado pelos Estados Unidos desde agosto, Brasil registra receita recorde com exportações de carne bovina em 2025, impulsionado principalmente pela China, União Europeia, México e Chile
Mesmo sob pressão das tarifas adicionais impostas pelos Estados Unidos aos produtos brasileiros desde agosto, a cadeia da carne bovina mostra resiliência e poder de reação no mercado internacional. Dados compilados pela Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo), a partir da Secretaria de Comércio Exterior (Secex/MDIC), revelam que o Brasil perdeu cerca de US$ 700 milhões em vendas para os EUA, mas, ainda assim, caminha para um ano histórico em faturamento com carne bovina.
Em outubro de 2025, as exportações totais de carne bovina (in natura, industrializada, miúdos comestíveis, sebo e outros derivados) somaram 360,28 mil toneladas, gerando US$ 1,897 bilhão em receita. Na comparação com outubro de 2024, o volume embarcado cresceu 12,8%, enquanto a receita avançou 37,4% – um salto expressivo em um cenário de maior protecionismo em importantes mercados compradores.
No acumulado de janeiro a outubro de 2025, o Brasil já atingiu recorde histórico:
- 3,148 milhões de toneladas embarcadas (+18% sobre o mesmo período de 2024)
- US$ 14,655 bilhões em receita, alta de 36% em relação aos US$ 10,773 bilhões registrados até outubro de 2024.
Os números confirmam que, mesmo com obstáculos pontuais, a demanda global pela carne bovina brasileira segue em trajetória de forte crescimento.
China continua como grande motor das exportações brasileiras
A China segue sendo o principal destino da carne bovina do Brasil, consolidando sua posição como “locomotiva” do mercado exportador:
- Em 2024, até outubro, o país asiático havia adquirido 1,089 milhão de toneladas, gerando US$ 4,842 bilhões em receita.
- Em 2025, no mesmo período, as compras chinesas subiram para 1,323 milhão de toneladas (+21,4%), com US$ 7,060 bilhões em faturamento, um avanço de 45,8%.
As compras da China responderam por:
- 42% do volume total embarcado pelo Brasil
- 48,2% da receita total com exportações de carne bovina em 2025.
Quando se olha apenas para a carne bovina in natura, que representa cerca de 90% da receita do setor, a concentração é ainda maior:
- Participação chinesa de 58,7% em outubro
- E de 53,9% no acumulado dos dez primeiros meses do ano.
Pelo segundo mês consecutivo, em outubro de 2025, as vendas de carne bovina para a China superaram a marca de US$ 1 bilhão, reforçando a dependência – e, ao mesmo tempo, a importância – desse mercado para a pecuária brasileira.
Tarifas dos EUA derrubam embarques e geram perda de quase US$ 700 milhões
Se por um lado a China puxa os números para cima, por outro os Estados Unidos – segundo maior cliente individual do Brasil – se tornaram foco de preocupação após a adoção de tarifas adicionais sobre produtos brasileiros, em agosto de 2025.
Os impactos são claros:
- As exportações de carne bovina in natura para os EUA caíram 54% em outubro, frente ao mesmo mês de 2024, somando US$ 58 milhões.
- A carne bovina industrializada recuou 20,3% no mesmo intervalo, gerando US$ 24,9 milhões.
- Já o sebo e outras gorduras bovinas tiveram queda ainda mais acentuada: 70,4%, com receita de apenas US$ 5,7 milhões.
No acumulado de janeiro a outubro de 2025, contudo, os números ainda mostram o reflexo do ritmo forte anterior ao tarifaço: as exportações totais de carnes e derivados bovinos para os EUA cresceram 40,4% frente a 2024, atingindo US$ 1,796 bilhão.
O quadro muda quando o recorte considera apenas o período de vigência das tarifas adicionais:
- De agosto a outubro de 2025, as vendas totais de carnes e subprodutos bovinos para os Estados Unidos recuaram 36,4%,
- Com perdas estimadas em aproximadamente US$ 700 milhões em relação ao que poderia ter sido movimentado sem as sobretaxas.
Apesar disso, a Abrafrigo destaca que essas perdas foram compensadas com folga pelo aumento das vendas para outros mercados. Ainda assim, o diagnóstico é claro: as exportações brasileiras poderiam ser ainda maiores se as tarifas punitivas não tivessem sido impostas pelo governo norte-americano.
União Europeia assume protagonismo como segundo maior destino em outubro
Considerando a União Europeia como mercado único, o bloco foi o segundo maior destino da carne bovina brasileira em outubro de 2025:
- As vendas para o bloco cresceram 112% em relação a outubro de 2024, alcançando US$ 140 milhões em receita mensal.
- No acumulado de janeiro a outubro, as exportações para a UE somaram US$ 815,9 milhões, alta de 70,2% frente ao mesmo período do ano anterior.
- Os preços médios são um destaque à parte: a carne bovina in natura enviada à União Europeia atingiu US$ 8.362 por tonelada, demonstrando o peso das exigências sanitárias e de qualidade, mas também o potencial de valor agregado nesse mercado.
México, Chile e Rússia ganham espaço nas exportações de carne bovina e diversificam a pauta
O levantamento da Abrafrigo mostra que o Brasil também vem consolidando a presença em outros importadores estratégicos, o que ajuda a diluir riscos e reduzir a dependência de um único mercado:
- México
- Em 2024 (jan-out): 38.798 toneladas e US$ 179,3 milhões.
- Em 2025 (jan-out): 104.437 toneladas (+169,2%) e US$ 569,5 milhões (+217,6%).
- Chile
- Em 2024: 86.153 toneladas e US$ 404,8 milhões.
- Em 2025: 103.591 toneladas (+20,2%) e US$ 568,9 milhões (+40,5%).
- Rússia
- Em 2024: 74.062 toneladas e US$ 263,1 milhões.
- Em 2025: 96.897 toneladas (+30,8%) e US$ 413,5 milhões (+57,2%).
Ao todo, 131 países aumentaram suas compras de carne bovina brasileira até outubro de 2025, enquanto 46 reduziram seus volumes importados. O saldo, porém, é amplamente positivo e confirma a capilaridade internacional da carne produzida no Brasil.
Setor mostra força, mas alerta fica ligado para o protecionismo
Os números revelam um cenário de contrastes:
- De um lado, tarifas punitivas dos Estados Unidos que impactam diretamente a rentabilidade de exportadores e frigoríficos brasileiros, com uma perda estimada em quase US$ 700 milhões em três meses.
- De outro, crescimento robusto das exportações, recordes de receita e maior participação em mercados de alto valor, como China, União Europeia, México, Chile e Rússia.
Na prática, o desempenho de 2025 reforça dois pontos centrais para a pecuária brasileira:
- A necessidade de manter e ampliar a diversificação de destinos, reduzindo a vulnerabilidade a decisões unilaterais de grandes compradores.
- A importância de seguir investindo em sanidade, rastreabilidade, qualidade de carcaça e negociação diplomática, para consolidar o Brasil como fornecedor estratégico de carne bovina no longo prazo.
Para o pecuarista, a mensagem que fica é clara: o mercado internacional continua oferecendo grandes oportunidades, mas o ambiente é cada vez mais competitivo e sujeito a mudanças regulatórias. Saber acompanhar esses movimentos – e entender como tarifas, câmbio e novos compradores afetam a formação de preço da arroba – será decisivo para quem quiser permanecer na dianteira do jogo.
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