Estudo do Centro de Inteligência do Leite (CILeite) da Embrapa, revela forte concentração produtiva – cerca de 60% do leite produzido em 15 bacias leiteiras, avanço tecnológico regional e criação de uma “nova geografia do leite” no país
A produção de leite no Brasil está passando por uma das transformações mais profundas de sua história recente. Embora os números gerais aparentem estabilidade — 98 milhões de litros de leite por dia em 2024, pouco acima dos 97 milhões registrados no ano anterior — a distribuição territorial e o perfil dos sistemas produtivos estão mudando de forma acelerada. Uma análise técnica conduzida pela Embrapa e IBGE revela que o setor vive um processo de forte concentração espacial, com regiões cada vez mais especializadas, tecnificadas e responsáveis por uma parcela dominante da produção nacional.
O novo estudo identifica 15 bacias leiteiras que, juntas, representam apenas 5% do território brasileiro, mas são responsáveis por 60,1% de todo o leite produzido no país. A partir desse recorte — que rompe com divisões tradicionais como estados e regiões — surge aquilo que especialistas já chamam de a nova geografia do leite brasileiro.
Essas áreas, distribuídas entre Nordeste, Sul, Sudeste e Centro-Oeste, apresentam produtividade crescente, maior dinamismo tecnológico e têm ampliado sua participação no abastecimento nacional.
Bacias leiteiras: pequenas no mapa, gigantes na produção

Segundo o relatório, as 15 bacias ocupam cerca de 434 mil km², o equivalente a apenas 5% do território nacional. No entanto, produziram 59 milhões de litros/dia em 2024, consolidando-se como o principal motor do leite brasileiro.
O estudo destaca que somente nessas bacias houve aumento de produção nos últimos dez anos, enquanto outras áreas do país permaneceram estagnadas ou registraram queda. Isso evidencia uma concentração crescente, resultado direto de ganhos de escala, eficiência produtiva e melhor acesso a insumos e serviços.
Sul, Sudeste e Nordeste lideram o mapa da produção
De acordo com os dados da Embrapa:
- Sul: 22,5 milhões de litros/dia (38% do total brasileiro)
- Sudeste: 17,8 milhões de litros/dia (30%)
- Nordeste: 5,6 milhões de litros/dia (10%)
Somadas, essas três macrorregiões respondem por 78% de toda a produção nacional.
Enquanto o Sul se mantém estabilizado, as bacias do Sudeste e Nordeste foram as que mais cresceram na última década — cada uma ampliou sua produção em cerca de 3 milhões de litros/dia no período.

Produtividade avança e rompe padrões históricos
Um dos pontos mais relevantes do estudo é o salto de produtividade observado nas áreas dinâmicas.
A média brasileira, historicamente baixa quando comparada a países líderes do setor, ganha novo patamar graças às bacias leiteiras:
- Produtividade média nas bacias: 3.682 litros/vaca/ano
- Produtividade média brasileira: 2.362 litros/vaca/ano
O destaque absoluto é a bacia Leste Paranaense, que atingiu 7.581 litros/vaca/ano, índice comparável aos países mais avançados do mundo em produção de lácteos.
Outras bacias meridionais também apresentam desempenho elevado, enquanto regiões do Centro-Oeste e Nordeste têm mostrado forte aceleração tecnológica, embora ainda em estágios diferentes de maturidade.
Por que a concentração favorece o desenvolvimento da cadeia?
A Embrapa aponta que a concentração produtiva gera vantagens estruturais, entre elas:
- logística facilitada para coleta e distribuição
- maior densidade de serviços especializados (assistência técnica, nutrição, reprodução, manutenção)
- ambiente favorável à inovação tecnológica
- mais oportunidades de economias de escala
- maior capacidade de atração de indústrias e investimentos
Esse novo desenho territorial cria clusters competitivos que impulsionam toda a cadeia, desde o campo até o laticínio, fortalecendo o setor como um todo.
Brasil vive reconfiguração silenciosa — e estratégica — do leite
O estudo mostra que a produção leiteira brasileira não está apenas ganhando produtividade, mas também se reorganizando geograficamente. Essa reconfiguração traz elementos importantes para o futuro do setor:
- áreas hiperprodutivas se consolidam como polos estratégicos
- diferenças tecnológicas entre bacias ficam mais evidentes
- o setor passa a depender menos de regiões historicamente tradicionais
- surge uma nova lógica territorial baseada em densidade, eficiência e especialização
A “nova geografia do leite”, portanto, não é apenas uma mudança de mapa, mas um novo modelo de produção, mais competitivo, concentrado e alinhado às exigências industriais e do mercado global.
🔗 O estudo completo pode ser consultado no Centro de Inteligência do Leite (CILeite) da Embrapa: https://www.cileite.com.br/ind_leite_derivados_out_especial_2025
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