Cade reconhece Minerva como parte interessada na análise da fusão entre BRF e Marfrig

Decisão abre caminho para que a gigante da carne bovina Minerva apresente formalmente suas preocupações sobre impactos da operação no mercado e conflitos entre acionistas

A proposta de fusão entre BRF e Marfrig, duas das maiores empresas do setor de alimentos do Brasil, ganhou um novo capítulo relevante. Segundo informações divulgadas pela Bloomberg Línea, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) aprovou o pedido da Minerva Foods para participar como parte interessada no processo de análise antitruste da operação.

A decisão abre espaço para que a Minerva manifeste formalmente suas preocupações quanto aos impactos concorrenciais e societários da união entre as rivais.

Minerva teme impactos na competição com fusão entre BRF e Marfrig

A Minerva, com sede em São Paulo e atuação concentrada na produção e exportação de carne bovina, argumenta que será diretamente afetada pela transação, uma vez que compete com a Marfrig no fornecimento de carne bovina à BRF. Segundo documento enviado ao Cade, a fusão pode comprometer a concorrência leal no setor, gerar exclusões de mercado e enfraquecer a posição comercial da Minerva frente ao novo conglomerado.

A BRF é uma das maiores compradoras de carne bovina no país, e a eventual consolidação de sua operação com a Marfrig pode restringir o acesso de fornecedores independentes como a Minerva a esse importante canal de escoamento.

Alerta para conflitos entre acionistas

Outro ponto levantado pela Minerva envolve a atuação do SALIC – Saudi Agricultural and Livestock Investment Company, fundo soberano saudita que figura como maior acionista da Minerva e, simultaneamente, um dos principais investidores da BRF.

A preocupação da companhia brasileira é que essa sobreposição de interesses gere conflitos societários e influência cruzada na governança da empresa resultante da fusão, o que poderia comprometer decisões estratégicas futuras.

Cade analisa contexto com maior cautela

Até então, o Cade havia sinalizado que aprovaria a transação, desde que não houvesse contestação dentro do prazo de 15 dias. Com a entrada da Minerva como parte interessada, o cenário muda. A partir de agora, a companhia poderá apresentar documentos técnicos, questionar formalmente pontos da fusão e, eventualmente, recorrer da decisão final, caso entenda que a operação representa risco à livre concorrência.

Nenhuma das empresas envolvidas – Minerva, BRF ou Marfrig – se pronunciou oficialmente sobre o avanço do processo ou a decisão do Cade até o momento.

Impactos em um setor estratégico

Caso seja aprovada, a união entre BRF e Marfrig dará origem a um dos maiores conglomerados de proteína animal do mundo, com forte presença nos mercados interno e externo, incluindo carne bovina, suína, de frango e alimentos processados. Por outro lado, analistas de mercado apontam que a operação pode gerar redução da competitividade no fornecimento à indústria de alimentos e impactar a estrutura de preços e contratos com distribuidores.

Além disso, a atuação do SALIC em ambas as companhias levanta alertas adicionais sobre transparência nas decisões, risco de concentração de poder e eventuais interferências externas, especialmente em um setor tão estratégico para a segurança alimentar global.

Dessa forma, a entrada da Minerva no processo de análise da fusão entre BRF e Marfrig marca uma mudança no rumo da avaliação do Cade, que agora terá de considerar os efeitos concorrenciais, societários e geopolíticos da operação. A decisão final pode se tornar um marco regulatório para futuras consolidações no setor de proteína animal, e será acompanhada de perto por investidores, exportadores e consumidores em todo o mundo.

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