Cafés premiados por mais de R$ 1 mil o quilo – e quase não chega às xícaras do Brasil – vão para onde?

Leilão internacional em dezembro deve direcionar os microlotes brasileiros dos cafés mais valiosos para Alemanha, Japão e outros mercados de alto padrão.

O Brasil voltou a protagonizar o cenário mundial dos cafés especiais. No início de novembro, o Cup of Excellence 2025, considerado o “Oscar do Café”, elegeu os melhores grãos do país em três categorias que representam o topo da qualidade sensorial e da inovação: Experimental, Via Úmida e Natural. Agora, os campeões dos cafés premiados se preparam para disputar o leilão internacional de dezembro, onde poucas sacas, produzidas em quantidades extremamente limitadas, atingem valores que podem superar R$ 1 mil por quilo.

As categorias premiadas refletem diferentes formas de pós-colheita, responsáveis por definir grande parte do sabor de cada microlote. Esses processos, apesar de conhecidos, são aplicados com rigor técnico máximo pelos competidores:

  • Experimental — utiliza fermentações induzidas, com leveduras e bactérias específicas para criar perfis aromáticos únicos e altamente complexos.
  • Via Úmida — envolve lavagem intensiva logo após a colheita, seguida de descascamento e secagem controlada, resultando em xícaras mais limpas e delicadas.
  • Natural — o método mais tradicional do Brasil: os grãos são colhidos com casca no ponto ideal de maturação e secos integralmente antes do despolpamento.

Esses métodos, aplicados em lotes minúsculos e sob manejo preciso, tornam o produto final raro, e desejado no mundo todo.

Embora seja o maior produtor de café do planeta, o Brasil praticamente não bebe os seus grãos mais valiosos. No leilão de 2024, por exemplo, dos 27 lotes disponibilizados, apenas um foi comprado por uma empresa brasileira. Os demais seguiram para países como Alemanha e Japão, onde cafeterias e torrefações especializadas costumam disputar os microlotes brasileiros.

O preço médio ultrapassou R$ 12 mil por saca, e muitos países compram esses cafés para vendê-los em embalagens mínimas, de 250 gramas, a valores extremamente elevados, criando séries limitadas e numeradas que se tornam itens de colecionador entre apreciadores.

Entre os destaques novamente está a Fazenda Bioma Café, que conquistou o 1º lugar na categoria Experimental em 2024 e agora venceu também a Via Úmida em 2025. No ano passado, a propriedade disponibilizou apenas três sacas de 60 kg, arrematadas por R$ 84,7 mil cada.

Localizada em Campos Altos (MG), a 270 km de Belo Horizonte, a propriedade tem 240 hectares, dos quais saem cerca de 6 mil sacas por ano, cultivadas em altitude de 1.200 metros. A fazenda trabalha com:

  • manejo regenerativo de solo,
  • insumos biológicos,
  • adubação orgânica,
  • e um modelo de cuidado social diferenciado com toda a equipe.

Desde 2011, quando os sócios Flávio Silva e Marcelo Assis Nogueira iniciaram o projeto focado exclusivamente em cafés especiais, já são 38 premiações nacionais e internacionais.

Para Thiago Pereira, Diretor de Conteúdo do Compre Rural, que esteve presente na Semana Internacional do Café (SIC), o mercado de café segue aquecido e com uma mudança no paladar do consumidor. “O que a gente observa é que o consumidor não está focado apenas na rastreabilidade (origem) do café consumido. Agora a geração mais nova está sabendo “tomar um café de qualidade”, ou seja, ele busca notas sensoriais, ele quer cafés mais puros e refinados. Outro destaque que observamos durante a SIC foi o grande número de outros países presentes na feira em busca do café brasileiro”, observou o Diretor.

Embora os microlotes premiados dificilmente permaneçam no Brasil, parte da produção da Bioma Café é acessível ao público brasileiro, e já é cultuada por cafeterias de referência, como:

  • Moka Clube e Lucca Cafés (Curitiba),
  • Elisa Café e Academia do Café (Belo Horizonte).

O restante segue para mercados onde o consumo de cafés especiais cresce de forma acelerada. Estados Unidos, Canadá e países da Europa figuram entre os principais destinos.

O leilão internacional de dezembro deve repetir o cenário dos últimos anos: forte presença de compradores estrangeiros, disputa acirrada por quantidades mínimas e preços que reforçam o prestígio do café brasileiro no mercado global.

Seja qual for o destino final, esses cafés premiados mostram ao mundo, e também ao consumidor brasileiro, que o país não é apenas o maior produtor, mas também um gerador de cafés de excelência absoluta, capazes de competir com qualquer origem do planeta.

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