Campeiro ou Crioulo? Diferenças que todo amante de cavalos precisa conhecer

Embora compartilhem raízes ibéricas, Campeiro e Crioulo seguiram caminhos distintos na formação, no uso e no tipo de andamento — e cada um deles se tornou indispensável para um perfil específico de cavaleiro e de trabalho no campo.

O imaginário do cavalo sul-americano costuma colocar lado a lado o Cavalo Campeiro e o Cavalo Crioulo, gerando a impressão de que se tratam de uma mesma raça com pequenas variações regionais. Mas essa associação é incorreta. Apesar de ambos descenderem dos antigos cavalos ibéricos trazidos pelos colonizadores, as duas raças seguiram processos de seleção completamente diferentes, influenciados pelo ambiente, pela cultura e pelas necessidades de cada região do Sul do Brasil e da América do Sul. O resultado é a formação de dois tipos de animais com funções, aptidões e padrões de andamento bastante distintos.

Enquanto o Crioulo se consolidou como um cavalo de resistência, força e explosão, preparado para suportar longos percursos e executar movimentos rápidos e precisos nas provas de desempenho, o Campeiro se destacou como o “marchador das araucárias”, combinando docilidade, marcha confortável e rusticidade para tarefas mais longas e contínuas no campo. Cada raça carrega, portanto, um valor único e uma identidade própria dentro da cultura equestre brasileira.

A história do Cavalo Campeiro está profundamente ligada ao Planalto Catarinense, à Serra Gaúcha e ao sudoeste do Paraná. Criado em regiões frias, acidentadas e marcadas pela vegetação de araucárias, o Campeiro desenvolveu qualidades de resistência, adaptação ao terreno e uma marcha natural de quatro tempos, perfeita para percorrer longas distâncias com conforto.

Foto: JG Martini

Já o Cavalo Crioulo tem origem na América do Sul continental, especialmente no Pampa do Rio Grande do Sul, da Argentina e do Uruguai. Modelado pela necessidade de enfrentar intempéries, grandes percursos e o trabalho intenso com gado, o Crioulo se tornou um cavalo extremamente resistente, de porte robusto, rápido e inteligente — características que fizeram dele uma das raças mais competitivas nas provas de laço, rédeas e nas tradicionais disputas do Freio de Ouro.

Aqui está um dos pontos que mais diferenciam as raças:

  • Cavalo Campeiro: possui marcha em quatro tempos, regular, suave e contínua, sempre mantendo pelo menos um dos membros no solo. A sensação ao cavaleiro é de estabilidade, suavidade e menor impacto.
  • Cavalo Crioulo: apresenta passo, trote e galope, sendo reconhecido pela força e resistência nesses andamentos. É um cavalo de explosão, não de marcha — ideal para manobras rápidas, curvas fechadas, apartações e arrancadas.

A docilidade do Campeiro somada à marcha confortável faz dele uma raça ideal para:

  • lida de gado em longas distâncias,
  • cavalgadas prolongadas,
  • atividades de lazer,
  • trabalhos que exigem constância e bom temperamento.

Já o Crioulo domina cenários que demandam:

  • provas esportivas como laço, rédeas e apartação,
  • manejo rápido e intenso com gado,
  • competições de alto desempenho,
  • treinos que exigem explosão muscular e resposta imediata.

Com isso, os dois acabam se complementando dentro do universo rural — um mais indicado para a resistência confortável, o outro para a energia e agilidade.

Cavalo campeiro. Foto: Fazenda Nossa Senhora do Carmo do Guarda Mor

Cavalo Campeiro

  • Origem: Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul.
  • Perfil: dócil, resistente, rústico e adaptável.
  • Aptidão: lida do gado, cavalgadas e lazer.
  • Porte: machos entre 1,42 m e 1,54 m; fêmeas entre 1,40 m e 1,50 m.
  • Diferencial: marcha confortável e constante.

Cavalo Crioulo

  • Origem: Rio Grande do Sul e países vizinhos.
  • Perfil: robusto, inteligente e resistente a climas extremos.
  • Aptidão: esportes de desempenho, provas funcionais e trabalho com gado.
  • Porte: médio a grande.
  • Diferencial: força e explosão nos andamentos tradicionais.

Embora compartilhem o sangue dos antigos cavalos ibéricos, as diferenças entre Campeiro e Crioulo são claras e fundamentais. O primeiro é o cavalo da marcha confortável, da docilidade e do uso contínuo no campo. O segundo é o atleta das pistas, símbolo de resistência e explosão, protagonista das maiores provas funcionais da América do Sul.

Ambas as raças, porém, representam capítulos decisivos da história equestre brasileira, preservando tradições, habilidades e qualidades que, juntas, reforçam a diversidade e a força da equinocultura no país.

Seja na marcha suave do Campeiro ou no galope poderoso do Crioulo, uma coisa é certa: cada raça tem seu valor, sua função e seu público — e é justamente essa singularidade que as torna tão especiais.

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