Apesar de serem da mesma espécie, cânhamo e cannabis têm usos, efeitos e legislações diferentes. E enquanto o Brasil ainda engatinha na regulamentação, o agro já mira bilhões com uma cultura promissora, sustentável e altamente lucrativa.
Embora compartilhem a mesma espécie (Cannabis sativa), cânhamo e cannabis não são a mesma coisa. A distinção está na composição química e nos usos. A cannabis medicinal tem altos níveis de THC, substância psicoativa responsável por efeitos terapêuticos como alívio da dor, controle de náuseas e crises convulsivas. Seu uso é restrito ao tratamento clínico e, em muitos países, ao uso recreativo regulamentado.
Já o cânhamo é uma variedade com menos de 0,3% de THC, não causa efeitos psicoativos e tem aplicação 100% industrial. Suas fibras e sementes são usadas para fabricar desde tecidos e cordas até alimentos, cosméticos, biocombustíveis e materiais de construção civil.
Cânhamo e cannabis: O que está liberado no Brasil hoje?
A resposta curta é: nem tudo ainda está liberado. Mas o cenário vem mudando. Em novembro de 2024, o STJ (Superior Tribunal de Justiça) determinou que o cânhamo industrial não deve ser considerado ilegal, desde que contenha até 0,3% de THC. Com isso, ficou autorizada a concessão de licenças para plantio, cultivo, industrialização e comercialização do cânhamo, exclusivamente para fins medicinais e farmacêuticos, mediante regulamentação da Anvisa.
Atualmente, a Anvisa já autorizou mais de 50 produtos à base de canabidiol (CBD) e acompanha cerca de 60 mil médicos prescritores. A agência também revisa a RDC 327, cujo novo texto deve ser aprovado até o fim de 2025, ampliando o escopo e a segurança jurídica do setor.
O agro brasileiro quer plantar cânhamo — e com razão
O cânhamo tem chamado atenção de pesquisadores, startups e grandes grupos do agronegócio. O motivo? Rentabilidade absurda e sustentabilidade comprovada. Segundo levantamento da consultoria Kaya Mind, o cultivo de cânhamo pode gerar até R$ 23.306,80 por hectare, valor 11 vezes maior que o da soja, que gira em torno de R$ 2 mil/ha.
Além do retorno financeiro, a planta pode ser usada em mais de 25 mil aplicações industriais, cresce em até 100 dias e exige poucos insumos químicos, melhora a estrutura do solo e captura grandes volumes de CO₂, sendo aliada no combate às mudanças climáticas. Também gera até 17 empregos por hectare, como mostra a experiência colombiana.
E por que ainda não se cultiva cânhamo comercialmente no Brasil?
O principal entrave é a falta de uma legislação definitiva, embora o debate avance no Congresso Nacional com o Projeto de Lei 399/2015, que propõe a legalização da produção de cannabis medicinal e cânhamo industrial. Enquanto isso, produtores, cientistas e investidores aguardam a regulamentação oficial do cultivo comercial, que pode vir já em 2026, segundo projeções da Embrapa.
Uma revolução verde no campo brasileiro
A Embrapa e o Ministério da Agricultura (Mapa) defendem o avanço da pauta. A autarquia federal já possui 43 unidades de pesquisa, 600 laboratórios e capacidade instalada para apoiar o desenvolvimento de uma cadeia produtiva sustentável e rastreável de cânhamo no Brasil. Segundo a pesquisadora Beatriz Emygdio, a planta pode integrar programas de bioeconomia e trazer benefícios ambientais, sociais e industriais.
Potencial bilionário: o que dizem os números
A Kaya Mind estima que, com a legalização e estrutura adequada, o mercado de cânhamo possa movimentar R$ 4,9 bilhões no quarto ano de regulamentação, com arrecadação tributária superior a R$ 330 milhões. E isso apenas com base na demanda atual, que já conta com cerca de 185 mil pacientes utilizando produtos de cannabis medicinal via importação.
Cânhamo e cannabis: Ainda não está tudo liberado — mas está caminhando
A produção e comercialização de cânhamo industrial ainda não estão totalmente liberadas no Brasil, mas o setor avança com decisões judiciais, interesse crescente do agronegócio e pressão por regulamentação. Já a cannabis medicinal está parcialmente autorizada, com produtos registrados, médicos prescritores e estrutura de fiscalização ativa.
Enquanto a legalização total não chega, o cânhamo se firma como a nova fronteira agrícola brasileira — unindo alta rentabilidade, sustentabilidade e múltiplos usos. O produtor que sair na frente pode colher os frutos de uma revolução verde no campo.
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