
Problema causado por estresse e manejo inadequado gera lesões, infecções e prejuízos à produção, com condenações que passam de 2% nos frigoríficos
O canibalismo em suínos é um dos comportamentos mais preocupantes dentro das granjas e representa um desafio sanitário e econômico para a suinocultura. A prática, que envolve mordidas em caudas, orelhas e outras partes do corpo de animais do mesmo lote, resulta em feridas abertas, infecções e quedas de desempenho produtivo, além de condenações de carcaças no abate.
Um levantamento realizado em Concórdia (SC), sob acompanhamento do Serviço de Inspeção Federal (SIF), revelou um dado alarmante: de mais de 410 mil suínos abatidos, 2,13% das carcaças foram condenadas por causa de lesões compatíveis com mordeduras e infecções associadas — um prejuízo expressivo, considerando o volume de animais e o impacto financeiro por carcaça perdida.
Por que o canibalismo em suínos acontece?
De acordo com especialistas, o comportamento não é natural e surge como resposta ao estresse e ao desconforto. Entre os principais fatores de risco, estão:
- Alta densidade populacional (animais confinados em espaços muito reduzidos);
- Temperaturas elevadas e falta de ventilação adequada;
- Falta de estímulos ambientais (ambiente monótono e sem enriquecimento);
- Erros nutricionais, como deficiências de minerais ou aminoácidos;
- Doenças que alteram o bem-estar e aumentam a irritabilidade;
- Falhas no manejo, como mistura frequente de lotes e alterações bruscas no ambiente.
O consultor técnico Gladstone Brumano alerta que os sinais começam cedo:
“Quando um animal começa a morder com frequência, mesmo sem causar feridas, já é um indicativo de desequilíbrio. O suíno não nasce agressivo; ele reage a um ambiente que o incomoda.”
Impactos econômicos e sanitários
Além da condenação das carcaças, o canibalismo gera uma série de consequências:
- Maior risco de infecções sistêmicas, como abscessos e septicemias;
- Redução no ganho de peso e aumento da conversão alimentar;
- Maior necessidade de uso de antibióticos, elevando os custos de produção;
- Comprometimento do bem-estar animal e piora na imagem da granja perante os consumidores e auditorias.
Em frigoríficos, lesões visíveis ou infecções internas resultam em condenação parcial ou total da carcaça, o que significa perda direta de receita para o produtor e a integradora.
Como prevenir: manejo, ambiente e nutrição
Especialistas recomendam uma abordagem multifatorial, unindo ajustes no manejo, ambiente adequado e nutrição balanceada.
1. Manejo
- Garantir espaço adequado por animal;
- Evitar mistura constante de lotes;
- Manter rotinas estáveis e reduzir o estresse por mudanças bruscas.
2. Ambiente
- Manter temperatura controlada e ventilação eficiente;
- Garantir ciclos de luz equilibrados;
- Adotar enriquecimento ambiental, como correntes, blocos de brinquedos ou materiais manipuláveis que estimulem o comportamento natural de exploração.
3. Nutrição
A dieta desempenha papel essencial na prevenção. Nutrientes como triptofano auxiliam na produção de serotonina, reduzindo a irritabilidade.
Outros componentes que contribuem:
- Sódio, zinco e magnésio, que equilibram o sistema nervoso;
- Fibras e butiratos, que favorecem o bem-estar intestinal;
- Probióticos, que melhoram a digestão e diminuem desconfortos internos que podem gerar agitação.
Monitoramento constante é essencial
Cada ferida identificada deve ser vista como um sinal de alerta. O comportamento tende a se espalhar rapidamente entre o grupo, tornando a ação rápida e preventiva fundamental.
“Investir em prevenção é mais econômico do que lidar com as perdas depois. Bem-estar animal é produtividade, e granjas que monitoram e corrigem fatores de estresse tendem a apresentar melhores índices zootécnicos”, ressalta Gladstone Brumano.
O canibalismo em suínos é um indicador direto de falhas no sistema de produção. Embora não exista uma única causa, há soluções comprovadas que passam por melhor manejo, nutrição ajustada e ambiente enriquecido.
A adoção de boas práticas é essencial não apenas para reduzir prejuízos, mas também para garantir o bem-estar animal, requisito cada vez mais exigido por mercados consumidores e programas de certificação.
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