Carcarás atacam bezerros e preocupam pecuaristas da América do Sul

Predadores oportunistas aproveitam vulnerabilidade de animais recém-nascidos; especialistas orientam medidas de prevenção para reduzir perdas com ataque dos Carcarás

A presença do carcará, ave de rapina típica do Nordeste brasileiro e de áreas rurais sul-americanas, está tirando o sono de pecuaristas no agreste de Alagoas e também no Paraguai. Reconhecido por seu comportamento oportunista e necrófago, o carcará vem sendo responsabilizado por ataques a bezerros recém-nascidos, causando prejuízos e exigindo mudanças no manejo das fazendas.

No município de Craíbas (AL), a 140 km de Maceió, o pecuarista Manoel Francisco Filho relatou que, dos 40 bezerros nascidos em um mês, quatro foram feridos na região do umbigo devido ao ataque das aves – relato que levantou grandes discussões na sua época (2010)

Os animais, ainda sem instinto de defesa e com pouco tempo de vida, se tornam presas fáceis. O rebanho de Manoel soma cerca de 600 cabeças e a invasão dos carcarás é constante, com centenas de aves sobrevoando e pousando na propriedade em busca de alimento.

Segundo a bióloga Suélen Tavares, a presença aumentou nos últimos meses devido à preparação do solo para o replantio de capim, que atrai insetos e pequenos animais, servindo de isca para os predadores. Além de bezerros, eles também atacam aves domésticas e até se alimentam de restos vegetais encontrados no pasto.

Ataques também no Paraguai

O problema não é exclusivo do Nordeste brasileiro. No Paraguai, o produtor Antônio Nogueira enfrenta uma infestação de carcarás que atacam bezerros logo após o parto, muitas vezes levando à morte dos animais, conforme vídeo divulgado pelo Giro do Boi, do Canal Rural. A situação se agravou devido à alta concentração de nascimentos em curto período, consequência do uso de Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF).

Esse cenário provoca acúmulo de restos de parto, sangue e umbigo no pasto, conhecidos como fômites, que atraem urubus e carcarás. Normalmente, os urubus chegam primeiro, e os carcarás aproveitam para atacar, principalmente os filhotes de novilhas inexperientes.

bezerros em pasto seco - pecuaria de corte
Foto: Bruno Cecim / Ag.Pará

O comportamento do carcará

De acordo com o médico-veterinário Guilherme Vieira, o carcará pertence à família dos falcões, mas não é um caçador tão eficiente quanto outras aves de rapina, ainda no quadro do Giro do Boi. Suas garras são menos afiadas, e sua dieta é variada e oportunista, incluindo animais, vegetais, carniça e até comida roubada de outras aves — comportamento conhecido como cleptoparasitismo.

A espécie é protegida por lei ambiental no Brasil e em outros países da região, e sua caça é considerada crime.

Medidas de prevenção recomendadas

Para reduzir os ataques, especialistas sugerem mudanças no manejo, especialmente nas fazendas de cria:

  • Separar novilhas de primeira cria em pastos maternidade próximos aos trabalhadores, para vigilância constante.
  • Limpeza imediata do pasto, retirando restos de parto e outros materiais que possam atrair as aves.
  • Monitorar partos para garantir que bezerros não fiquem desprotegidos nas primeiras horas de vida.
  • Ações de manejo sanitário contínuas para diminuir os atrativos para carcarás e urubus.

Impactos e necessidade de adaptação

Embora a presença do carcará faça parte do equilíbrio ecológico, o aumento de sua interação com rebanhos bovinos tem gerado prejuízos diretos e indiretos aos pecuaristas. A adoção de práticas preventivas e o manejo adequado do ambiente de cria são, segundo especialistas, as alternativas mais eficientes para evitar perdas sem infringir a legislação ambiental.

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