Para isso, a companhia colocou a região do “Matopiba”, dentro do bioma Cerrado, como a de maior prioridade no momento.
A americana Cargill, maior companhia de agronegócios do mundo, avaliou que não conseguirá cumprir o compromisso de garantir que, até 2020, toda a soja que compra no mundo não tenha origem em regiões com desmatamento. Diante dessa constatação, a multinacional lançou nesta quinta-feira um novo plano de ações e investimentos, com foco na América do Sul — sobretudo no Cerrado brasileiro — para garantir o cumprimento da meta até 2030.
Em 2014, a companhia firmou a Declaração de Nova York sobre Florestas, cujos signatários se comprometeram a cortar pela metade as perdas das florestas naturais em suas regiões de suprimento de matérias-primas agrícolas até 2020 e acabar com o desmatamento em suas cadeias até 2030. Porém, organismos internacionais como o Forest 500, projeto da ONG ambiental Global Canopy, já vinha alertando que a meta de 2020 não seria alcançada.
Em teleconferência com jornalistas, a diretora global de sustentabilidade da Cargill, Ruth Kimmelshue, fez a mesma avaliação e afirmou que “toda a indústria deverá falhar” com a meta de cortar pela metade o desmatamento na originação em 2020. “Nós não acreditamos que a indústria tenha respostas para um desafio tão complexo”, afirmou a executiva.
Apesar desse diagnóstico, ela afirmou que a companhia está procurando soluções com parceiros, incluindo competidores e clientes, e anunciou que está disponibilizando inicialmente US$ 30 milhões para ações voltadas especificamente para o Brasil, para a proteção de florestas e da vegetação nativa. O direcionamento dos investimentos será estabelecido com um “facilitador”, que a Cargill ainda está procurando. O perfil desse facilitador ainda não está definido, mas poderá ser uma ONG ou uma associação setorial.
A ação, porém, só fará sentido se outros agentes também contribuírem, argumentou. “A indústria da soja no Brasil tem muitos players pequenos e grandes. Se a Cargill adotar ações sozinha, as mesmas práticas que existem hoje vão continuar”, disse o CEO da múlti, Dave MacLennan, em nota. “A Cargill é uma grande companhia, mas o desmatamento é maior que nós”, reforçou Ruth.
A região considerada mais crítica pela Cargill no mundo para que a meta global de acabar com o desmatamento seja alcançada é o Cerrado brasileiro. Para isso, a companhia colocou a região do “Matopiba”, dentro do bioma Cerrado, como a de maior prioridade no momento.
“Globalmente, as áreas mais críticas de desmatamento são as que nos últimos 25 anos tiveram maior ação humana”, explicou a diretora de sustentabilidade da múlti. Ela comparou a região do Cerrado brasileiro com as áreas de plantio de palma na Indonésia, que também estão sob intensa pressão internacional por causa do desmatamento. O problema na Indonésia fez com que a União Europeia desconsiderasse neste ano o biodiesel feito do óleo de palma como combustível renovável.
No Brasil, a Cargill já é signatária desde 2006 da Moratória da Soja da Amazônia, acordo no qual as indústrias do setor se comprometeram a não comprar mais soja de áreas desmatadas do bioma. A executiva afirmou que o acordo tem sido “efetivo”, dado que anos atrás a Amazônia era a área mais crítica.
Em sua avaliação, o governo Bolsonaro não representa uma dificuldade para envolver os produtores brasileiros nesse plano, e a Cargill pretende buscar engajamento não só com o setor privado, mas também com Brasília. “Entendemos que governo está atuando para buscar um equilíbrio entre preservação e desenvolvimento”, avaliou Ruth.
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Em seu novo plano, a Cargill também considera como áreas de alto risco de desmatamento associado ao fornecimento de soja a região dos Grandes Chacos (que compreende áreas na Argentina, Paraguai, Bolívia e no Pantanal brasileiro). Já as áreas de originação da soja no Uruguai foram consideradas de baixo risco.
O plano prevê uma avaliação ampla dos riscos de desmatamento tanto com fornecedores diretos como indiretos na cadeia de soja. A Cargill também estabeleceu alguns prazos para ações como o mapeamento de regiões específicas de alto risco, comunicação com produtores, listagem de produtores e intermediários considerados “prioritários”, treinamento de grupos comerciais nas origens e nos destinos, entre outras.
Fonte: Valor Econômico.