Carne, leite e ovos são fontes essenciais de nutrientes, reafirma FAO

A FAO, Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura, é categórica em afirmar que carne, leite e ovos são “fontes essenciais de nutrientes”

Por Prof Sergio Pflanzer* – Não é de agora que sabemos que os alimentos de origem animal, principalmente as carnes, o leite e os ovos são produtos cheios de nutrientes e devem fazer parte de uma dieta completa e balanceada. Entretanto, nos últimos anos, uma enxurrada de notícias alarmantes e sensacionalistas tem sido publicada por influenciadores (pseudocientistas), alegando que os produtos de origem animal não são importantes para nossa dieta e alguns chegam a sugerir a exclusão total do seu consumo.

Esse dilema acabou essa semana, pois a FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura), uma das entidades mais importantes e reconhecidas nas questões alimentares, foi categórica em afirmar que os alimentos de origem animal (carne, leite e ovos) “são vitais para atingir as metas globais de nutrição para 2025, que visam reduzir o baixo peso ao nascer, atraso no crescimento e sobrepeso entre crianças menores de cinco anos, anemia em mulheres de idade reprodutiva, obesidade e doenças não transmissíveis relacionadas à alimentação em adultos”.

A FAO publicou um relatório de aproximadamente 300 páginas, que foi redigido e avaliado por cientistas de diversas áreas do conhecimento, e foi preparado após a avaliação de mais de 500 artigos científicos.

O trabalho da FAO cita as evidências históricas/ancestrais da importância do consumo de alimentos de origem animal pelo ser humano. Diz que o consumo elevado destes alimentos por nossos antepassados foi responsável pela maior estatura, tamanho do cérebro e longevidade, provavelmente estabelecendo necessidades metabólicas no corpo humano que permaneceram até o presente.

carne leite lacteos queijo ovos
Foto: Divulgação

Assim, parece ficar claro que nós, seres humanos, estávamos, estamos e precisamos estar próximos dos animais e que o consumo frequente de seus produtos (carne, leite e ovos) é importante para nossa evolução e manutenção da saúde. Para enfatizar ainda mais essa premissa, o relatório cita evidências de que a domesticação das plantas e revolução agrícola (mais vegetais na nossa mesa) trouxeram, para algumas populações, dietas mais pobres, menor estatura, menor expectativa de vida, maior carga de doenças infecciosas, mais cáries dentárias, entre outros déficits de saúde.

O relatório explica a importância dos produtos de origem animal na obtenção dos macro e micronutrientes necessários para uma dieta saudável e completa. Para os macronutrientes, a ênfase é dada as proteínas, que estão em maior quantidade, são mais biodisponíveis e são melhores digeridas e absorvidas que outros alimentos de origem vegetal. Ainda são citadas as gorduras boas (ácidos graxos de cadeia longa), que se apresentam em boa quantidade e com muitos ácidos graxos essenciais, os quais são importantes para o nossa cognição, em todas as etapas da vida.

faz mal comer carne vermelha fotao - churrasco
Foto: Divulgação

Os micronutrientes presentes nos produtos de origem animal foram separados entre os minerais e as vitaminas. O relatório aponta que o ferro e o zinco presentes na carne bovina e suína estão ligados a componentes que os deixam mais biodisponíveis, facilitando a digestão e absorção, quando comparados com alimentos de origem vegetal. Vale lembrar que as deficiências de ferro e zinco são altamente prevalentes em populações em todo o mundo, contribuindo significativamente para a carga global de doenças. Já o leite, foi destacado pela alta concentração e disponibilidade de cálcio e outros nutrientes. De forma geral, os produtos de origem animal são fontes ricas de selênio (que desempenha papéis cruciais nos processos anti-inflamatórios e no nível do genoma), vitamina B12 (necessária para o crescimento, função e manutenção dos neurônios) e colina (funções vitais no crescimento humano, neurotransmissão e integridade da membrana celular), sendo que seu consumo frequente ajuda ainda a neutralizar os efeitos dos antinutrientes encontrados em alimentos à base de vegetais.

Os produtos de origem animal colaboram com a nutrição (melhoria do estado nutricional e crescimento), saúde (redução de doenças infecciosas, melhora o funcionamento do sistema imunológico e melhora da saúde óssea) e cognição (melhor desenvolvimento, neuroproteção, prevenção de doenças neurológicas).

Isso vale para todas as fases da vida, sendo mais importante para crianças e adolescentes, mulheres grávidas e em amamentação e para idosos, grupos esses que requerem um aporte maior de macro e micronutrientes. Como exemplo, a ingestão de leite e seus derivados, por mulheres em gestação, ajudam a elevar o peso dos bebês e aumentar a circunferência da cabeça dos fetos.

Entre as crianças e adolescentes, o consumo frequente de carne, leite e ovos melhoram as taxas de crescimento, reduzem as chances de obesidade e melhoram a cognição. Em adultos saudáveis, o consumo de leite e derivados (queijo e iogurte) tem efeitos positivos na redução da mortalidade, hipertensão, derrame, diabetes, câncer, obesidade, osteoporose e fraturas. Já o consumo de 85 a 300 gramas de carne vermelha por dia protege os adultos da deficiência de ferro e anemia. Ainda em adultos, a ingestão frequente de produtos de origem animal reduzem os casos de sarcopenia (perda de massa e força muscular), demência e doença de Alzheimer.

Para além da importância destes produtos na saúde e nutrição, o relatório aponta para a importância da forma que esses alimentos são produzidos, devendo ser obedecidas as premissas de Bem-estar Animal e de produção ambientalmente sustentáveis. O relatório cita ainda alguns perigos carregados pelos alimentos de origem animal, como as alergias e intolerâncias a determinados alimentos (ovos e leite), doenças transmitidas por alimentos contaminados (diarreias bacterianas) e a resistência a antimicrobiamos.

carne-bovina
Foto: Divulgação

Todos esses perigos devem ser avaliados com cautela e ações podem e são tomadas para sua redução e mitigação. Cita ainda alguns estudos que correlacionam o consumo de produtos cárneos industrializados (ex. salame, salsicha, mortadela….) como causadores de câncer de intestino. Entretanto, o relatório deixa claro que todos os trabalhos referenciados são observacionais (estudo tipo coorte), ou seja, provam uma correlação, mas não causa e efeito, e foram realizados em países ricos. Além disso, os aumentos da taxa de risco, mesmo significativos, são baixos. Por exemplo, o consumo de 50 gramas por dia de produtos cárneos industrializados, todos os dias da nossa vida, aumentaria o risco relativo de desenvolver câncer de intestino em 1,16%. Para se ter uma ideia, no Reino Unido, a chance de uma pessoa desenvolver câncer de intestino é de 2,9%, mesmo não comendo produtos cárneos industrializados. Se comer essa dose citada, diariamente, a chance passaria para 3,4%, um aumento de 16%, mas apenas 0,5% de aumento real.

cartela de ovos
Foto: Divulgação

O relatório destaca ainda alguns tópicos emergentes, como a produção de produtos vegetais que tentam mimetizar as características sensoriais dos produtos de origem animal, denominados plant-based. Mais uma vez a FAO evidencia que esses alimentos não podem ser considerados substitutos, quando se trata de composição nutricional. Os alimentos plant-based são deficientes em nutrientes essenciais e possuem elevados teores de gordura saturada, sal e açúcar. Ainda há uma citação quanto à carne cultivada, porém o relatório não apresenta dados concretos sobre o produto, pois o mesmo ainda carece de uma produção em escala industrial e de pesquisas para avaliar seu teor nutricional. O mesmo vale para alimentos feitos com insetos. Ainda que os mesmos apresentem algum teor nutricional, sua produção pequena e as barreiras culturais não permitem traçar indicativos nutricionais concretos.

Como podemos verificar, A FAO considera que o consumo frequente de produtos de origem animal, mais especificamente as carnes, o leite e seus derivados e os ovos, são alimentos essenciais e indispensáveis para uma dieta balanceada e para manutenção da saúde. Isso é ainda mais importante para algumas fases, onde a maior demanda por macro e micronutrientes, de fácil digestão e absorção, são requeridos.

Prof Sergio Pflanzer – Faculdade de Engenharia de Alimentos – UNICAMP

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