
Descubra os detalhes dessa trajetória, da ascensão ao declínio da maior fabricante de tratores do Brasil, a CBT; Uma história que mistura orgulho, nostalgia e lições que ainda ecoam
Você se lembra dos tratores CBT? Nos anos 70 e 80, o ronco inconfundível dessas máquinas amarelas ecoava pelos campos do Brasil. Mais do que simples tratores, eles representavam o símbolo de um país que sonhava com independência tecnológica e força no agronegócio. A Companhia Brasileira de Tratores (CBT) nasceu como um projeto ousado e 100% nacional, transformando-se rapidamente em orgulho do agricultor brasileiro e em uma das maiores fabricantes de tratores da América Latina.
Mas, assim como muitas gigantes nacionais, a CBT não resistiu às crises, às más decisões e à chegada da concorrência estrangeira. O que antes representava progresso e soberania acabou mergulhando no esquecimento, deixando uma legião de admiradores e uma história que ainda desperta nostalgia.

CBT: Um sonho brasileiro nascido em São Carlos
A Companhia Brasileira de Tratores, conhecida pela sigla CBT, foi fundada em 1º de setembro de 1959 pelo empresário Mário Pereira Lopes. Inicialmente instalada em Ibaté (SP), a empresa começou fabricando motores e peças para tratores, e logo passou a montar modelos da marca norte-americana Oliver.

Em 1961, a CBT inaugurou uma nova e moderna fábrica no distrito de Água Vermelha, em São Carlos (SP). Foi ali que os tratores começaram a ser produzidos com tecnologia nacional. Em pouco tempo, a marca CBT se tornaria sinônimo de força e resistência no campo brasileiro.
O primeiro trator montado pela companhia foi o Oliver 950, produzido ainda em 1961. No ano seguinte, nascia o CBT-1020, considerado o primeiro trator totalmente nacional. O modelo marcou uma nova fase da mecanização agrícola no país, pois demonstrava que o Brasil era capaz de projetar e fabricar máquinas agrícolas robustas e eficientes.
A era de ouro: orgulho nacional e potência nos campos
Durante as décadas de 1970 e 1980, a CBT viveu seu auge. A empresa chegou a fabricar cerca de 111 mil tratores ao longo de sua história e consolidou-se como uma das maiores fabricantes da América Latina. Só até 1971, já haviam saído de suas linhas de montagem mais de 14 mil unidades.
Os tratores CBT conquistaram os agricultores por sua robustez, simplicidade mecânica e durabilidade. Fabricados com chassi próprio e alto índice de nacionalização — chegando a quase 80% de componentes produzidos internamente —, os modelos eram ideais para o trabalho pesado. Os motores Perkins e Mercedes-Benz garantiam torque elevado e força bruta, indispensáveis para abrir pastos, arar terras virgens e lidar com os desafios dos solos duros do interior do país.
A marca se destacava ainda por sua independência tecnológica. Diferente de outras montadoras que dependiam de licenças estrangeiras, a CBT desenvolvia seus próprios projetos. Isso a tornava um símbolo de orgulho para o Brasil que queria se firmar como potência agrícola e industrial.
O trator do desbravamento do Centro-Oeste
Os tratores CBT tiveram papel importante na expansão agrícola rumo ao Centro-Oeste nas décadas de 1970 e 1980. Foi com a força dessas máquinas que muitos produtores abriram áreas de cerrado, enfrentando solos duros e longas distâncias em regiões ainda pouco estruturadas.
Os modelos CBT eram resistentes, fáceis de consertar e adaptados às condições do campo brasileiro. Em muitas propriedades de Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, o ronco de um CBT se confundia com o som do progresso. O trator nacional cumpria uma missão quase patriótica: levar a mecanização e a produtividade a regiões onde antes só havia mato e desafios.

Inovação e o ousado projeto Javali
Em seus últimos anos, a CBT tentou diversificar a linha de produtos e lançou o Javali, um utilitário 4×4 produzido entre 1988 e 1990. Equipado com motor turbo-diesel de três cilindros, o veículo buscava unir força e versatilidade, tanto para o campo quanto para o uso urbano. Apesar do design simples, o Javali é lembrado até hoje como um projeto à frente de seu tempo — uma tentativa de modernizar e salvar a marca num momento de grandes transformações no mercado.
A queda: concorrência, custos e o fim de uma era
A partir dos anos 1990, a CBT começou a enfrentar sérias dificuldades. A abertura econômica promovida pelo governo Collor facilitou a entrada de tratores importados, que chegavam ao país com preços competitivos e tecnologia mais avançada. A empresa, que tinha uma estrutura altamente verticalizada e custos de produção elevados, não conseguiu acompanhar o ritmo da concorrência.
Em 1991, a produção caiu para 883 unidades, e em 1994 foram fabricados apenas 214 tratores. A queda nas vendas tornou insustentável a manutenção da fábrica, que dependia de escala para se manter rentável. Endividada e sem capital para modernizar suas operações, a CBT entrou em colapso.
Em 1995, a empresa interrompeu a produção de tratores, e dois anos depois, em 1997, teve a falência decretada oficialmente. Os pavilhões da antiga fábrica de São Carlos foram leiloados, e a marca desapareceu do mercado, deixando para trás centenas de empregos e uma história que marcou a engenharia nacional.
No local, funciona o Centro Tecnológico da TAM e o Museu Asas de um Sonho, ademais do Aeroporto de São Carlos (construído pela própria CBT, que é denominado Aeroporto Mário Pereira Lopes e foi totalmente remodelado).
Um legado que ainda ecoa
Mesmo após três décadas do fechamento da fábrica, o nome CBT ainda desperta orgulho e nostalgia entre produtores e mecânicos do interior. Muitos tratores seguem em funcionamento nas fazendas, testemunhando a qualidade e a durabilidade que fizeram da marca uma lenda.
Mais do que máquinas, os tratores CBT simbolizaram uma era em que o Brasil acreditava em sua capacidade de produzir, inovar e competir com as grandes potências industriais. Sua história é uma lembrança das vitórias e das fragilidades da indústria nacional — uma lição sobre a importância de aliar orgulho e tecnologia à visão de longo prazo.
A CBT pode ter desaparecido, mas sua força permanece viva no imaginário de quem ajudou a construir o campo brasileiro. Em cada ronco de motor antigo ainda ativo nas fazendas, ecoa o som do sonho de um país que quis ser dono de seu próprio destino.
No fim das contas, nenhuma montadora BRASILEIRA sobreviveu as montadoras internacionais.
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