CEO da Kepler Weber: déficit de armazenagem deve sustentar demanda por 30 anos

O País consegue armazenar atualmente apenas 60% da produção de grãos, ante 93% em 2016, e essa diferença não será revertida no curto prazo.

São Paulo, 27 – O CEO da Kepler Weber, Bernardo Nogueira, afirmou, nesta quinta-feira, 27, que o déficit estrutural de armazenagem no Brasil garante demanda para a companhia nas próximas décadas, mesmo diante do ciclo adverso que pressiona margens e investimentos no agronegócio. Segundo ele, o País consegue armazenar atualmente apenas 60% da produção de grãos, ante 93% em 2016, e essa diferença não será revertida no curto prazo. “O déficit não é conjuntural. É estrutural e deve continuar pelos próximos 30 ou 40 anos”, disse Nogueira durante o Kepler Day 2025, realizado em São Paulo.

Ele destacou que a combinação de preços baixos das commodities, juros elevados e crédito restrito desacelerou investimentos em máquinas e insumos, mas não freou projetos de armazenagem. “A gente entrou 2025 com carteira de pedidos superior ante ano anterior. Mesmo com turbulência, armazenagem virou prioridade crítica.”

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A fala ocorre após a Kepler reportar margem Ebitda de 17,4% no terceiro trimestre, avanço de 5,2 pontos porcentuais sobre o trimestre anterior, apesar da retração de 13,5% no lucro líquido, que somou R$ 51,6 milhões. Para o executivo, o desempenho contrasta com ciclos anteriores e evidencia transformação profunda na empresa. “Já operamos nesse mesmo cenário macro com Ebitda negativo. Hoje rodamos próximos de 16% nos últimos 12 meses.”

Nogueira afirmou que a transformação da empresa se apoia em três pilares: a falta de armazéns no Brasil, um plano de diversificação construído ao longo da última década e um modelo de gestão mais enxuto e organizado adotado desde 2015. Ele reconheceu que o setor atravessa um momento difícil, com preços mais baixos, juros altos e pouco crédito disponível, mas disse que a demanda por armazenagem acaba compensando esses fatores. “Quando o produtor está apertado, ele até adia a compra de trator ou pulverizador, mas não abre mão de armazenagem. Ela reduz risco, dá velocidade e preserva valor”, afirmou.

O CEO destacou, ainda, a competitividade única do agro brasileiro, ancorada no plantio de duas safras no mesmo verão, fenômeno que expandiu a produção de 50 milhões para mais de 350 milhões de toneladas em uma geração. “Isso só existe no Brasil. Usa o mesmo trator, a mesma terra, os mesmos funcionários. E pressiona por velocidade em secagem, limpeza e armazenagem.”

Sobre 2026, Nogueira foi direto: “Vai ser um ano difícil para o nosso negócio”. Ainda assim, reforçou que a companhia está preparada, com operação organizada e portfólio diversificado. “A Kepler se transformou. Somos outra empresa.”

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