Parceria anunciada como inédita, promete transformar Maricá em polo agroindustrial, além de fortalecer a agricultura familiar no Brasil por meio da parceria com estatal chinesa para montar fábrica de tratores para o MST
A relação entre Brasil e China acaba de ganhar um novo capítulo no setor agrícola. Um acordo firmado entre a estatal chinesa Sinomach Digital Technology Corporation, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), a Prefeitura de Maricá (RJ) e a empresa brasileira OZ.Earth prevê a instalação de uma fábrica de tratores voltada para a agricultura familiar. O anúncio foi feito após a assinatura de um memorando de entendimento em Brasília, consolidando uma cooperação que une tecnologia, mecanização e inclusão social.
A proposta busca fortalecer a agricultura familiar em áreas de reforma agrária, ampliando o acesso a tratores, máquinas inteligentes e plataformas digitais de gestão agrícola. Além da produção de equipamentos, o acordo inclui transferência de tecnologia, capacitação técnica e apoio para o desenvolvimento de soluções sustentáveis, como bioinsumos e energias renováveis.
Segundo Kelli Mafort, secretária-executiva da Secretaria-Geral da Presidência, a iniciativa é estratégica: “Em tempos de mudanças climáticas e crise ambiental, é essencial garantir o acesso à tecnologia e ao maquinário adequado à realidade dos agricultores familiares”.
Maricá como polo agroindustrial
A cidade de Maricá, localizada no litoral do Rio de Janeiro, será o epicentro desse projeto. A unidade fabril ficará instalada entre Ponta Negra e o Espraiado, próxima ao Ciamar, onde hoje funciona a produção de peixes e camarões. O investimento estimado é de R$ 100 milhões, e a fábrica terá capacidade inicial para produzir 2 mil tratores por ano, em versões de 25 e 50 cavalos de potência, modelos adaptados a pequenas propriedades.
A expectativa é de que a planta gere 200 a 250 empregos diretos e centenas de vagas indiretas, consolidando o município como um polo de inovação rural e reduzindo sua dependência dos royalties do petróleo.
Testes e adaptação da tecnologia
Antes do acordo definitivo, maquinários chineses como colheitadeiras, adubadeiras e plantadeiras foram testados em 2024 na Fazenda Água Limpa (UnB) e em assentamentos organizados pelo MST. Os resultados mostraram boa adaptação ao solo brasileiro, o que reforçou a confiança na viabilidade do projeto.
Entre inovação e controvérsia envolvendo o MST
O envolvimento do MST reacendeu debates no país. De um lado, críticos lembram a atuação do movimento em ocupações de terras improdutivas, apontando riscos de insegurança jurídica e conflitos fundiários. De outro, há quem defenda que o MST possui uma rede organizada e com capilaridade capaz de garantir a produção de alimentos agroecológicos e fortalecer a agricultura familiar.
Impactos esperados
Para o prefeito Washington Quaquá (PT), o acordo simboliza um avanço na diversificação econômica da cidade: “Vamos produzir tratores para a agricultura familiar e suprir a enorme carência existente no Brasil. Muitos agricultores já têm acesso ao crédito do Pronaf, mas não encontram maquinário disponível”.
Além de ampliar a mecanização no campo, a parceria deve estimular:
- Industrialização rural com foco em inclusão social;
- Expansão da agricultura sem agrotóxicos em Maricá e região;
- Integração tecnológica Brasil-China, aproximando pequenos produtores da inovação;
- Redução da pobreza rural e fortalecimento da segurança alimentar.
Um marco para a cooperação Brasil-China
A iniciativa reforça a agenda estratégica entre os dois países, que já vêm estreitando laços no setor agrícola desde 2022, quando o Consórcio Nordeste firmou cooperação técnica com universidades chinesas. Agora, com a instalação da fábrica de tratores e plataformas digitais em solo brasileiro, especialistas acreditam que o projeto poderá transformar a realidade da agricultura familiar, dando protagonismo a pequenos produtores e assentados em todo o país.
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