
Parceria com a estatal Sinomach da China firma acordo com MST e inclui fábricas de tratores, plataformas digitais e apoio direto à agricultura familiar em áreas da reforma agrária
Em uma iniciativa que aprofunda a cooperação estratégica entre Brasil e China no campo, a empresa estatal Sinomach Digital Technology Corporation, da China, assinou na última sexta-feira (11), em Brasília, um memorando de entendimento com a Prefeitura de Maricá (RJ), o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), por meio da Unicrab, e a empresa brasileira de agrotecnologia OZ.Earth.
A parceria visa fortalecer a agricultura familiar com tecnologia de ponta, mecanização acessível e plataformas digitais voltadas à gestão agrícola em territórios da reforma agrária. Confira as informações apuradas pelo Brasil de Fato, além dos detalhes que envolvem o Governo brasileiro e o movimento dos sem terra.
Transferência de tecnologia e digitalização do campo
A Sinomach, que já atua com projetos de modernização agrícola em países da África e da Ásia, comprometeu-se a fornecer máquinas agrícolas inteligentes, sistemas digitais de gestão agropecuária e apoio técnico para a instalação de fábricas locais no Brasil, com foco na agricultura familiar.
“Fortalecer os processos de desenvolvimento dos agricultores familiares brasileiros é um grande desafio. Em tempos de mudanças climáticas e crise ambiental, é essencial garantir o acesso à tecnologia e ao maquinário adequado à realidade desses produtores”, explicou Kelli Mafort, secretária-executiva da Secretaria-Geral da Presidência da República.
Em 2024, diversos equipamentos enviados pela China – como colheitadeiras, adubadeiras e plantadeiras – foram testados com sucesso na Fazenda Água Limpa (UnB) e em assentamentos organizados pelo MST, comprovando adaptação dos maquinários ao solo e às condições do país.
Maricá será polo da inovação rural
O município de Maricá, no estado do Rio de Janeiro, será um dos principais polos do projeto. O acordo prevê a instalação de fábricas de tratores e equipamentos inteligentes com tecnologia chinesa, voltados exclusivamente ao pequeno produtor rural.
“Essa parceria é um marco histórico para o setor. Maricá tem compromisso com a produção de alimentos sem agrotóxicos e com o fortalecimento da agricultura familiar”, disse Ivana Melo, secretária de Articulação Institucional do município.
Para Diego Moreira, representante da Unicrab, a parceria também abre portas para projetos de bioinsumos, energia renovável e ampliação da mecanização nos assentamentos. “Precisamos avançar com soluções reais para as necessidades do campo, e essa cooperação pode ser transformadora”, afirmou.

Entre a inovação e a controvérsia: o papel do MST
Apesar do enfoque tecnológico da parceria, a presença do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) entre os beneficiários do acordo reascende debates nacionais sobre o papel do movimento. Conhecido por sua atuação em ocupações de terras improdutivas e propriedades privadas, o MST também é alvo de críticas por ações consideradas invasivas por setores do agronegócio e por parte da sociedade.
Segundo dados da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), o movimento já realizou centenas de ocupações ao longo das últimas décadas, alegando cumprir o papel de pressionar o Estado pela efetivação da reforma agrária. Em contrapartida, produtores rurais e entidades do setor apontam prejuízos econômicos, insegurança jurídica e conflitos fundiários como resultado dessas ações.
Ainda assim, o governo federal mantém diálogo aberto com o movimento, reconhecendo sua capilaridade organizacional e sua influência em comunidades rurais, especialmente no que diz respeito à produção de alimentos agroecológicos e à organização de assentamentos produtivos.
Cooperação Brasil-China: uma agenda em construção
A relação sino-brasileira no campo agrícola se fortalece ano após ano. Em 2022, o Consórcio Nordeste firmou um acordo com o Instituto Internacional de Inovação de Equipamentos Agrícolas da Universidade Agrícola da China, e, desde então, os dois países vêm colaborando tecnicamente com foco na inovação para a agricultura familiar.
Com o novo memorando assinado em Brasília, Brasil e China dão um passo estratégico para viabilizar a industrialização do campo com inclusão social, num momento em que a produção de alimentos saudáveis, a transição energética e o combate à pobreza rural estão no centro da pauta política.
Fontes: Brasil de Fato, Secretaria-Geral da Presidência, Prefeitura de Maricá, CNA, Unicrab
Edição: Flavia Quirino
Reportagem adaptada por: Thiago Pereira, com base em informações de Luiza Melo
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