China clona raça de porco com 4.000 anos e mira avanço na medicina

Leitões clonados preservam porco Shaziling, espécie chinesa de 4.000 anos ameaçada de extinção, e impulsionam pesquisas médicas contra o diabetes.

Uma conquista inédita da ciência chinesa está chamando atenção no mundo da biotecnologia e da pecuária. Dois leitões clonados da raça suína Shaziling, nativa da província de Hunan e com mais de 4.000 anos de história, nasceram em 24 de janeiro por meio de uma barriga de aluguel, no condado de Xiangtan. A iniciativa representa não apenas a preservação de um recurso genético raro, mas também um salto nas pesquisas médicas que envolvem o uso de porcos como modelos para o tratamento de doenças como diabetes e problemas cardiovasculares.

Uma raça histórica ameaçada pela modernização

O porco Shaziling já foi presença obrigatória na culinária tradicional de Hunan, especialmente no famoso prato hongshao rou (carne de porco assada). No entanto, com a chegada de raças industriais estrangeiras, a espécie foi rapidamente perdendo espaço nas fazendas chinesas, chegando à beira da extinção.

Em 2006, o governo chinês reconheceu a importância desse patrimônio genético e incluiu a raça na lista nacional de proteção de recursos genéticos animais. Desde então, esforços vêm sendo realizados para recuperar o plantel.

Clonagem de precisão e alta tecnologia

O experimento de clonagem começou em junho do ano passado, liderado pelo pesquisador Yin Yulong, acadêmico da Academia Chinesa de Engenharia, em parceria com o Instituto de Agricultura Subtropical da Academia Chinesa de Ciências.

A técnica utilizada partiu de células de tecido auricular congeladas de porcos Shaziling, que foram transformadas em células de fibroblastos. A partir delas, os cientistas desenvolveram, cultivaram e transplantaram embriões em uma porca receptora.

O resultado foi o nascimento de dois leitões saudáveis, com as características típicas da raça — focinho curto, orelhas de borboleta e olhos grandes — que agora estão sob cuidados especializados na Estação Municipal de Criação de Gado de Xiangtan.

Potencial médico e pesquisas com xenotransplantes

Segundo Yin, as semelhanças anatômicas, fisiológicas, imunológicas e genômicas entre porcos e humanos tornam os suínos modelos ideais para pesquisas médicas. No caso específico do Shaziling, sua genética o coloca entre os melhores doadores para xenotransplantes — transplantes de órgãos e tecidos de animais para humanos.

O pesquisador Wu Maisheng, do Departamento Municipal de Agricultura e Assuntos Rurais de Xiangtan, revelou que estudos realizados desde 2005 mostram que o Shaziling apresenta altíssima biossegurança e excelente desempenho no tratamento de diabetes por meio de transplante de células de ilhotas pancreáticas, com taxa de sucesso de 95,45%.

Porco Shaziling: Importância estratégica para o futuro

Para Wu, o nascimento dos porcos clonados garante a preservação a longo prazo da raça e cria um modelo experimental valioso para métodos inovadores de conservação. Pesquisas futuras vão avaliar a adaptabilidade ambiental, desempenho reprodutivo, qualidade da carne e características genéticas da progênie.

Além de sua importância como fonte de proteína de alta qualidade, o Shaziling também pode desempenhar papel decisivo em tratamentos clínicos e pesquisas médicas avançadas.

Uma ponte entre tradição e inovação

O sucesso dessa clonagem une dois mundos: a preservação de um patrimônio cultural e genético milenar e o avanço da ciência para enfrentar desafios da saúde humana. Para Yin Yulong, o potencial do Shaziling vai muito além da agricultura:

“Ele é ao mesmo tempo alimento, modelo para estudo de doenças e possível doador em transplantes. Sua relevância só tende a crescer na agricultura moderna e na medicina.”

Com a tecnologia de clonagem, a China pretende multiplicar indivíduos superiores da raça, selecionados por alta conversão alimentar, rendimento de carne e qualidade de produto, garantindo não apenas a sobrevivência, mas a valorização desse recurso genético único.

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