Com a volta da umidade, banco de sementes de invasoras germina em massa. Especialistas alertam: sem manejo rápido e estratégico, perdas na lavoura podem ultrapassar 40%.
Para o agricultor, a primeira chuva significativa após um período de seca é o som mais esperado do ano. Ela é o sinal verde para o plantio, a garantia de germinação da safra e a promessa de uma colheita cheia. No entanto, debaixo da superfície, essa mesma água dispara um alarme para um exército silencioso e multibilionário: o banco de sementes de plantas daninhas.
Em questão de dias, áreas que pareciam limpas na entressafra podem ser tomadas por uma competição feroz. Buva, Capim-amargoso, Corda-de-viola e outras invasoras emergem com vigor, prontas para disputar cada gota de água, cada raio de luz e cada unidade de nutriente com a cultura recém-plantada.
Ignorar este “despertar” não é uma opção. É uma decisão econômica que pode definir o fracasso ou o sucesso da safra antes mesmo que ela se estabeleça.
O Prejuízo em Reais
O prejuízo da matocompetição é direto e severo. Não se trata de uma pequena perda de potencial; é uma redução drástica da rentabilidade.
“Estabelecer a lavoura ‘no limpo’ é uma das principais estratégias para reduzir a matocompetição nas fases iniciais do cultivo… o uso de herbicidas pré-emergentes torna-se fundamental para reduzir a infestação inicial e permitir que a cultura tenha vantagem competitiva”, destaca a Assistec Agricola, em publicação técnica sobre o tema.
Os números de pesquisas endossam o alerta:
- Capim-amargoso: Dados de um estudo publicado por Kashiwaqui (2016) e amplamente citado pelo meio acadêmico, demonstram que, quando não manejado adequadamente, o Capim-amargoso (Digitaria insularis) pode ocasionar perdas na produtividade da soja de até 66% e no milho de até 69%.
- Buva: Segundo dados da Embrapa e de outras instituições de pesquisa, a Buva (Conyza spp.) é uma das invasoras mais agressivas. Apenas uma planta pode produzir até 200 mil sementes, que são facilmente dispersadas pelo vento. Caso não seja controlada, sua interferência pode reduzir a produção da soja em até 80%, dependendo do nível de infestação.
O Despertar do “Exército Adormecido”
O solo é o maior reservatório de sementes. A chuva é o gatilho que quebra a dormência e promove um fluxo, muitas vezes massivo, de germinação.
“O que a chuva faz é quebrar a dormência dessas sementes. A combinação de umidade e temperatura sinaliza que é o momento ideal para germinar. O problema é que elas são, por natureza, mais rústicas e agressivas que nossas culturas comerciais”, explica o [(Aqui, você pode inserir o nome de um consultor local ou um agrônomo da sua cooperativa)].
As principais ameaças que emergem com as chuvas são:
- Buva (Conyza spp.): A rainha da resistência. Germina em fluxo e, se passar do estágio de roseta (6-8 folhas), torna-se quase impossível de controlar quimicamente.
- Capim-amargoso (Digitaria insularis): O maior desafio atual. Com altíssima resistência ao Glifosato, forma touceiras que “roubam” água e nutrientes.
- Capim-pé-de-galinha (Eleusine indica): Outro capim com resistência crescente, tem rápida disseminação e alta capacidade de competição inicial.
Um Manejo de Duas Frentes
Com a chuva, a janela de ação é curta. O manejo deve ser dividido em “defesa” (pré-emergentes) e “ataque” (pós-emergentes).
Frente 1: O Escudo (Herbicidas Pré-Emergentes)
A estratégia mais inteligente é não deixar o inimigo emergir. Para isso, os herbicidas pré-emergentes são cruciais, pois precisam da umidade da chuva para serem “ativados” no solo.
Conforme orientação da Fundação MT, citada pelo portal Compre Rural, a eficiência dessa ferramenta depende de um posicionamento técnico: “Os herbicidas pré-emergentes devem ser posicionados em função das plantas daninhas presentes na área, atributos químicos e físicos do solo, umidade do solo, [e] seletividade para a cultura”.
Quando bem aplicados, eles criam uma “barreira química” no solo que controla as sementes no momento da germinação, permitindo que a lavoura se estabeleça “no limpo”.
Frente 2: A Espada (Herbicidas Pós-Emergentes)
Para as plantas daninhas que escapam ou para áreas sem pré-emergente, o controle pós-emergente é a solução. Aqui, o timing é o fator que define o sucesso ou o fracasso.
O erro mais comum é esperar a planta daninha “crescer”. Em um documento técnico sobre o manejo de Buva e Capim-amargoso, pesquisadores da Embrapa alertam:
“Muitos agricultores deixam para fazer a dessecação de manejo próximo a semeadura da soja, quando as plantas de buva e de capim-amargoso estão bem desenvolvidos, o que é uma das causas de perda de eficiência dos produtos.”
O controle químico é exponencialmente mais eficaz em plantas jovens. Segundo uma circular técnica da Embrapa sobre o Capim-amargoso, o controle pós-emergente tem maior sensibilidade “até os 35-40 dias de desenvolvimento, quando normalmente se encontra com 3 a 4 perfilhos. Nesta situação o controle pode ser feito com o uso de graminicidas.” Esperar além desse ponto encarece o manejo, exige doses maiores e, muitas vezes, não garante o controle total.
A Solução é a Integração (MIPD)
A chuva não trouxe o problema; ela apenas expôs o que já estava no banco de sementes. A crise da resistência ao Glifosato e a outros herbicidas no Brasil prova que não existe “bala de prata”.
A solução é o Manejo Integrado de Plantas Daninhas (MIPD), que envolve rotação de culturas, uso de plantas de cobertura para criar palhada, e, o mais importante: a rotação de mecanismos de ação dos herbicidas.
A chuva é uma bênção que impulsiona a agricultura. Com planejamento, monitoramento diário pós-chuva e ação rápida, ela será o motor da produtividade, e não a causa de um prejuízo que começa silencioso, mas termina devastador.
Escrito por Compre Rural
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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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