Conheça a doença que pode acabar com o seu rebanho

A cisticercose é uma doença parasitária que afeta tanto animais quanto seres humanos e é causada pela ingestão de ovos da Taenia solium, um tipo de tênia. O tratamento da enfermidade no gado é desafiador e muitas vezes impraticável devido à localização dos cistos nos tecidos e órgãos internos dos bovinos, sendo a melhor escolha, a prevenção; entenda melhor

A pecuária brasileira tem sido uma das principais forças impulsionadoras da economia do país, contribuindo significativamente para o crescimento e desenvolvimento do setor agrícola. No entanto, em meio ao sucesso crescente da pecuária, surge uma preocupação emergente: a cisticercose bovina. Esta doença parasitária, causada pela ingestão de ovos da Taenia solium, tem se tornado cada vez mais prevalente, representando um desafio tanto para os produtores quanto para a saúde pública.

Entre os anos de 2010 e 2020, cerca de 6,5 milhões de carcaças de bovinos foram identificadas com cisticercose no Brasil, refletindo não apenas uma questão de saúde animal, mas também um problema econômico significativo para o setor. Os impactos da cisticercose vão além das perdas financeiras diretas para os produtores, estendendo-se à reputação da indústria pecuária brasileira e à segurança alimentar dos consumidores. Neste contexto, é crucial explorar medidas preventivas eficazes e promover a conscientização para mitigar os efeitos negativos dessa doença na pecuária nacional.

O que é a cisticercose?

Cisticercose bovina
Legenda – A1: Ingestão do cisticerco na carne bovina pelo homem, A2: parasito desenvagina no intestino delgado, A3: desenvolvimento da tênia adulta no intestino humano, A4: liberação de pedaços do corpo da tênia com centenas de milhares de ovos para o ambiente, B: presença de ovos na água, planta forrageira e outros alimentos para bovinos, C1: ingestão de ovos pelos bovinos, C2: liberação do parasito no intestino bovino e penetração até a circulação sanguínea, C3 e C4: desenvolvimento do cisticerco na carne e órgãos do bovino.

A cisticercose é uma doença parasitária que afeta tanto animais quanto seres humanos e é causada pela ingestão de ovos da Taenia solium, um tipo de tênia. Nos animais, como o gado, a doença se desenvolve quando esses ovos são consumidos através de alimentos ou água contaminados, resultando na formação de cistos nos tecidos musculares, órgãos e até mesmo no sistema nervoso central. Esses cistos podem comprometer a saúde do animal, levando a perdas econômicas significativas para os produtores.

Além do impacto na pecuária, a cisticercose também representa uma preocupação para a saúde pública, uma vez que os seres humanos podem contrair a doença ao consumir carne contaminada com os cistos ou ao ingerir diretamente os ovos do parasita. Nos seres humanos, a cisticercose pode causar uma série de complicações, especialmente quando os cistos se alojam no sistema nervoso central, resultando em problemas neurológicos graves e até mesmo em casos fatais.

Principais sintomas da doença em bovinos

Cisticercose bovina
Foto: Portal Giro do Boi

Os animais infectados com cisticercose bovina podem não apresentar sintomas específicos em estágios iniciais da doença, o que dificulta o diagnóstico precoce. No entanto, à medida que a infecção progride e os cistos se desenvolvem nos tecidos musculares, órgãos e sistema nervoso central, alguns sintomas podem se manifestar. Aqui estão alguns dos principais:

Perda de peso e baixo ganho de peso: Bovinos infectados podem apresentar uma diminuição no ganho de peso ou até mesmo perda de peso, o que pode afetar diretamente a produção e rentabilidade do rebanho.

Letargia e fraqueza: Os animais podem mostrar sinais de letargia, falta de energia e fraqueza muscular devido ao comprometimento dos tecidos e órgãos afetados pelos cistos.

Claudicação: Em alguns casos, a presença de cistos nos músculos pode levar a dificuldades de locomoção e claudicação nos bovinos.

Dificuldades respiratórias: Se os cistos se alojarem nos pulmões, os bovinos podem apresentar dificuldades respiratórias, manifestadas por respiração rápida ou ofegante.

Distúrbios neurológicos: Nos casos mais graves, quando os cistos atingem o sistema nervoso central, os bovinos podem exibir sinais de distúrbios neurológicos, como convulsões, tremores, desorientação, mudanças de comportamento e até mesmo paralisia.

É importante ressaltar que nem todos os bovinos infectados com cisticercose apresentarão todos esses sintomas, e a gravidade dos sintomas pode variar de acordo com o grau de infestação e a localização dos cistos no corpo do animal. Portanto, é fundamental estar atento a qualquer sinal de alerta e procurar a assistência de um médico-veterinário para um diagnóstico adequado e tratamento adequado.

Tratamento

Cisticercos calcificados no masseter e coração (A) e superfície de corte de
cisticerco degenerado no masseter (B) de bovino

O tratamento da cisticercose bovina é desafiador e muitas vezes impraticável devido à localização dos cistos nos tecidos e órgãos internos dos animais. Não existe um tratamento específico para eliminar os cistos uma vez que eles se desenvolvem. No entanto, medidas preventivas como o controle de parasitas internos, boas práticas de manejo e monitoramento regular do rebanho são essenciais para reduzir o risco de infecção.

Além disso, é fundamental focar na prevenção da doença, implementando medidas de higiene adequadas, como o tratamento de dejetos e água, e promovendo a conscientização sobre os riscos associados à cisticercose. A educação dos produtores sobre práticas de manejo eficazes e a colaboração com profissionais de saúde veterinária são passos importantes para proteger o rebanho e garantir a segurança alimentar.

Prejuízos significativos

Cisticercose bovina
Foto: Arquivo pessoal Dr. Welber Lopes, UFG

Os prejuízos causados pela cisticercose na pecuária são significativos e abrangentes. Em primeiro lugar, os produtores enfrentam perdas financeiras diretas devido à condenação de carcaças durante o abate, resultando em uma redução no valor de venda dos animais afetados ou até mesmo na recusa de compra por parte dos frigoríficos. Além disso, a presença de cistos nos tecidos musculares e órgãos dos bovinos pode levar à perda de qualidade da carne, afetando a reputação do produto e resultando em uma diminuição no consumo e na demanda no mercado interno e externo.

Além dos prejuízos econômicos, a cisticercose também representa uma ameaça à saúde pública e à segurança alimentar. Carcaças contaminadas representam um risco para os consumidores, pois podem conter cistos que, se ingeridos, podem levar à infecção humana. Isso não apenas coloca em risco a saúde dos consumidores, mas também pode resultar em problemas legais e regulatórios para os produtores e frigoríficos. Assim, os prejuízos causados pela cisticercose vão além dos aspectos econômicos, impactando a saúde, o bem-estar animal e a reputação da indústria pecuária como um todo.

Medidas para proteger o rebanho

vacina
Foto: Divulgação Gado-Rebanho-

Para proteger o rebanho contra a cisticercose e minimizar os riscos de infecção, os produtores podem adotar uma série de medidas preventivas eficazes. Aqui estão algumas recomendações importantes:

Manejo adequado de dejetos: Implementar práticas adequadas de manejo de dejetos é fundamental para reduzir a contaminação do ambiente com ovos de Taenia solium. Isso inclui o uso de fossas sépticas ou sistemas de tratamento de esgoto adequados, além de evitar a disposição inadequada de fezes em áreas onde os animais possam ter acesso.

Higiene na alimentação: Garantir que os animais tenham acesso a água limpa e de qualidade, livre de contaminação por fezes humanas, é essencial. Além disso, é importante fornecer alimentos de boa qualidade e armazená-los adequadamente para evitar a contaminação por ovos de tênia.

Monitoramento regular do rebanho: Realizar exames regulares nos animais para detectar sinais de infecção por cisticercose bovina é fundamental. Isso pode incluir exames clínicos, exames de sangue e até mesmo exames de imagem, como ultrassonografia, para identificar a presença de cistos nos tecidos e órgãos dos animais.

Controle de parasitas internos: Implementar programas de desparasitação regular pode ajudar a controlar outros parasitas internos que podem debilitar os animais e torná-los mais suscetíveis à infecção por cisticercose. Consulte um médico-veterinário para determinar o protocolo mais adequado para o seu rebanho.

Educação e conscientização: Educar os trabalhadores da fazenda sobre a importância da higiene pessoal e do manejo adequado dos dejetos pode ajudar a prevenir a disseminação da cisticercose. Além disso, é importante conscientizar os trabalhadores sobre os riscos associados à doença e as medidas preventivas que podem ser adotadas para proteger o rebanho.

Em resumo, a doença representa um desafio significativo para a pecuária brasileira, causando prejuízos econômicos, ameaçando a saúde pública e comprometendo a segurança alimentar. A alta incidência dessa enfermidade em bovinos destaca a necessidade urgente de implementação de medidas preventivas eficazes, como o manejo adequado de dejetos, o controle de parasitas internos e a conscientização dos produtores sobre os riscos associados.

Além disso, a colaboração entre produtores, autoridades sanitárias e profissionais de saúde veterinária é essencial para enfrentar esse desafio de forma integrada e coordenada. Ao adotar uma abordagem abrangente para o controle da cisticercose, a indústria pecuária pode não apenas proteger a saúde e o bem-estar dos animais, mas também garantir a qualidade e segurança da carne produzida, fortalecendo assim a sustentabilidade e competitividade do setor no mercado nacional e internacional.

Escrito por Compre Rural.

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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Juliana Freire sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira

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