
Plano aprovado por credores do Grupo Santa Fé, permite prorrogação das dívidas por até dez anos, com 18 meses de carência e reestruturação dos CRAs; medida preserva operações do grupo e evita recuperação judicial
Em uma reviravolta estratégica após dois anos de dificuldades financeiras, o Grupo Santa Fé, tradicional nome do agronegócio goiano, conseguiu homologar na Justiça seu plano de recuperação extrajudicial, com o apoio da maioria dos credores e aval do Banco do Brasil, maior credor da companhia.
A medida permitirá a reestruturação de R$ 191,2 milhões em dívidas, com prazos estendidos por até dez anos e carência inicial de 18 meses para início dos pagamentos. “Após esse período, serão pagos apenas os juros, e, posteriormente, inicia-se a amortização do principal, em linha com a geração de caixa projetada”, informou o Grupo Santa Fé em comunicado divulgado nesta quinta-feira, 26 de junho.
Do auge ao endividamento: os bastidores da crise
Com sede em Santa Helena de Goiás (GO), o Grupo Santa Fé é comandado pelo empresário Pedro Merola, que transformou o negócio familiar em um dos mais respeitados da pecuária brasileira. Em 2014, Merola diversificou a atuação da empresa, ampliando para o varejo de carnes nobres com a marca Feed.
Entretanto, a elevação dos juros, queda nos preços do boi gordo e redução de produtividade agrícola afetaram severamente a capacidade de geração de caixa. O grupo, que chegou a confinar 60 mil cabeças em 2022 e cultivar 8,5 mil hectares, precisou reduzir o rebanho para 20 mil animais e vender parte das fazendas para tentar equilibrar as finanças.
Mesmo assim, o endividamento alcançou R$ 435 milhões, sendo reduzido para R$ 279 milhões após venda de ativos. Em 2024, o grupo tentou novos financiamentos, mas encontrou resistência dos bancos e teve negado, em primeira instância, o pedido de recuperação extrajudicial. Após recurso, o Tribunal de Justiça de Goiás suspendeu temporariamente as cobranças, permitindo ao grupo renegociar com os credores e apresentar nova proposta.
Acordo com credores e homologação judicial
A proposta foi aprovada por 65,71% dos credores da Classe II (com garantia real) e por 56,69% da Classe III (quirografários).

O plano homologado pela Justiça prevê:
- Carência de 18 meses para pagamento de juros e principal;
- Pagamento escalonado: 15% do principal até 2030 e o restante nos cinco anos seguintes;
- Prazo total de até 10 anos para quitação;
- Cláusula de ganho compartilhado: se a empresa lucrar acima do previsto, 50% do excedente será usado para abater a dívida anualmente.
A maior parte da dívida renegociada está concentrada no Banco do Brasil, que responde por R$ 116,9 milhões, quase 60% do total. O plano também inclui R$ 80 milhões em Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs), com vencimento originalmente previsto para 2024, que tiveram o prazo de amortização estendido em quatro anos.
O advogado responsável foi o escritório Murillo Lobo & Advogados Associados, enquanto a consultoria EXM Partners estruturou a proposta e articulou as negociações. Segundo o consultor Eduardo Scarpellini, o plano extrajudicial é menos oneroso e evita os desgastes do processo judicial tradicional.
“O processo extrajudicial é mais rápido, barato e menos burocrático. Preserva a operação e dispensa os bancos de fazer provisões contábeis”, afirmou Scarpellini.
Operação preservada e projeção de crescimento do Grupo Santa Fé
O Grupo Santa Fé informou que a decisão judicial que converteu o processo em recuperação extrajudicial “preserva a capacidade produtiva do grupo, com todos os empregos e operações mantidos”. Em 2024, o grupo faturou R$ 190 milhões e projeta atingir R$ 250 milhões em 2025. Atualmente, cerca de 190 funcionários estão empregados e 55% da receita vem da produção agrícola, com destaque para grãos e algodão.
Com a homologação do acordo e a reestruturação dos passivos, o grupo retoma o foco na operação e sinaliza a recuperação de fôlego financeiro sem intervenção judicial mais drástica.
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