
Sabe aquela prática comum de chegar e selar um cavalo para andar? Sem a genética, os cavalos talvez nunca tivessem se tornado montáveis
A parceria entre homem e cavalo moldou batalhas, abriu caminhos para o comércio e deu força ao trabalho no campo. Mas um ponto central sempre intrigou pesquisadores: como animais selvagens, fortes e ariscos, tornaram-se dóceis e adequados para a montaria?
Um estudo recente publicado na revista Science trouxe a resposta. A genética foi determinante. Alterações no DNA transformaram tanto o comportamento quanto a estrutura corporal dos cavalos, tornando possível a convivência e a utilização desses animais em diferentes funções, nesse caso a montaria.
A domesticação: além da cultura, a biologia
A domesticação dos cavalos começou há cerca de 5 mil anos nas estepes da Ásia Central. Inicialmente, eles eram usados como fonte de carne e leite ou para tração leve. No entanto, o salto mais importante – a montaria – só aconteceu quando mudanças genéticas específicas criaram animais mais seguros para o manejo e resistentes ao peso humano.
Isso mostra que a história equestre não foi escrita apenas pela cultura dos povos antigos, mas também por mutações biológicas que definiram quais linhagens prosperariam.
As descobertas da ciência: DNA que mudou a equitação
Pesquisadores analisaram o DNA de 71 cavalos de diferentes épocas e regiões, além de fósseis com milhares de anos. Entre 266 regiões genômicas estudadas, nove apresentaram sinais claros de seleção.
Docilidade como chave da convivência
Um dos genes de destaque é o ZFPM1, ligado ao controle da ansiedade. Alterações nessa região, que surgiram há cerca de 5 mil anos, reduziram a agressividade dos equinos.
Essa mutação pode ter sido o ponto de virada: cavalos mais calmos eram mais fáceis de treinar e conviver, criando uma base de confiança entre homem e animal.
Força e resistência para suportar a montaria
Outro gene crucial foi o GSDMC, responsável pela proporção corporal e pela estrutura da coluna. Entre 4.700 e 4.200 anos atrás, alterações nessa região fortaleceram o dorso e melhoraram a sustentação para carga e cavaleiros.
Os cavalos com essa característica se multiplicaram: chegaram a ter 20% mais descendentes, evidência de que os humanos selecionaram ativamente os animais com melhor desempenho físico.
O impacto da genética na prática
A combinação entre docilidade e resistência foi determinante para que os cavalos se tornassem parceiros insubstituíveis:
- Na guerra, deram mobilidade e vantagem estratégica a exércitos.
- No transporte, aceleraram o comércio e as viagens.
- No campo, serviram como força de tração antes da mecanização.
A linhagem DOM2, que originou os cavalos modernos, consolidou seu sucesso graças ao gene GSDMC, responsável por ampliar a capacidade de locomoção. Essa característica fez dos equinos um dos motores do desenvolvimento humano ao longo da história.
O futuro da genética equina
Se no passado mutações aleatórias mudaram a história, hoje a ciência abre novas possibilidades. Com o mapeamento genômico e as biotecnologias modernas, criadores já podem:
- Identificar genes ligados ao desempenho atlético.
- Prevenir doenças hereditárias.
- Melhorar a eficiência reprodutiva e a sustentabilidade da criação.
Esses avanços mostram que a genética continua sendo protagonista na evolução da relação entre homem e cavalo.
A descoberta publicada na Science revela algo fascinante: sem a genética, os cavalos talvez nunca tivessem se tornado montáveis. As mutações no comportamento e na estrutura corporal foram o alicerce que sustentou toda a trajetória dos equinos ao lado da humanidade.
Hoje, entendemos que cada linhagem carrega não apenas uma história de seleção, mas também um futuro de oportunidades para o agronegócio, o esporte e a equitação.
Escrito por Compre Rural com informações da Science.
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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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