Nascidos quase ao mesmo tempo para contar a vida na roça, os dois gêneros evoluíram em paralelo até se fundirem, criando a estética que hoje domina o agronegócio e a música no Brasil
Quando o som da viola de 10 cordas ecoa, ele toca fundo na alma. É a tradução da vida no campo, um retrato sonoro das estradas de terra e da simplicidade. Mais do que um gênero musical, o sertanejo raiz é parte vital da cultura brasileira e compartilha um DNA surpreendentemente semelhante ao do country music americano.
Ambos os estilos nasceram quase ao mesmo tempo, em continentes diferentes, mas com a mesma missão: dar voz ao homem rural. Embora tenham começado separados, seus caminhos se cruzaram décadas depois, resultando em uma fusão cultural e sonora que hoje define o Brasil. Siga a leitura e acompanhe o Compre Rural, aqui você encontra informação de qualidade para fortalecer o campo!
O Berço Brasileiro
O sertanejo raiz fincou suas primeiras estacas no início do século XX, quando o coração do Brasil batia no ritmo da vida rural. A música brotava da lida: eram cantigas de trabalho, modas de viola e melodias de festas religiosas no interior de São Paulo e Minas Gerais.
Violeiros anônimos, ainda sem saber, fundavam um gênero ao cantar sobre seu cotidiano: a fé, o amor, a lida com o gado e a saudade da terra natal.
O ponto de virada veio com o visionário Cornélio Pires, considerado o “pai do sertanejo“. Ele foi o primeiro a perceber que aquelas canções simples, nascidas nas fazendas, possuíam um valor cultural imenso e mereciam ser gravadas. Em 1910, ele registrou “Jorginho do Sertão“, o primeiro fonograma de música caipira, abrindo oficialmente a porteira para o que estava por vir.

A sonoridade da terra e seus cronistas
A alma desse som é, indiscutivelmente, a viola caipira. O instrumento de 10 cordas, uma herança portuguesa que se tornou um símbolo do Brasil rural, tinha as afinações e os timbres perfeitos para o canto narrativo.
Com essa ferramenta, duplas lendárias como Tonico & Tinoco, Tião Carreiro & Pardinho e Milionário & José Rico se tornaram os cronistas do campo. Eles levaram essas histórias para os rádios e festas do interior, transformando o cotidiano em canções eternas. Músicas como “Chico Mineiro” e “Menino da Porteira” não são apenas melodias; são documentos rimados da vida rural.
O mesmo coração, outro sotaque
Enquanto o sertanejo se consolidava no Brasil, um movimento quase idêntico explodia nos Estados Unidos. O country music também surgiu no início do século XX, vindo do sul do país.
Seus protagonistas eram os mesmos: trabalhadores rurais, cowboys (vaqueiros) e imigrantes que misturavam suas tradições. A receita sonora fundia baladas folk de origem britânica, blues e música gospel.
A missão era idêntica à do nosso sertanejo: contar histórias do povo e celebrar o estilo de vida rural. O caipira brasileiro e o cowboy americano usavam a música para expressar a vida longe das cidades, o orgulho das tradições e o amor pela terra.
A fusão cultural
Por décadas, os dois gêneros correram lado a lado, como rios paralelos. Foi nos anos 1970 e 1980 que suas águas começaram a se misturar, com uma clara influência norte-americana sobre o som brasileiro.
Artistas nacionais, buscando modernizar a sonoridade sem perder a raiz, passaram a incorporar elementos do country. A guitarra elétrica, violão de aço, contrabaixo e pedal steel guitar foram adicionados aos arranjos sertanejos.
Duplas como Chitãozinho & Xororó foram pioneiras nessa transição. Inspirando-se em ícones como Johnny Cash, Willie Nelson e Garth Brooks, eles ajudaram a criar o que hoje chamamos de “country nacional“, provando que era possível manter o coração caipira com um toque sofisticado e internacional.

A estética do rodeio e o sertanejo moderno
Essa influência não se limitou à música; ela moldou uma estética inteira. A partir dos anos 1990, os rodeios inspirados nos grandes eventos americanos explodiram no Brasil. Festas gigantescas como Barretos e Jaguariúna tornaram-se as grandes vitrines dessa fusão cultural.
A moda cowboy — botas de couro, fivelas grandes, camisas xadrez, jeans e chapéu — foi adotada em massa. Essa nova roupagem romântica e moderna, impulsionada por artistas como Leandro & Leonardo e Zezé Di Camargo & Luciano, consolidou a fusão.
Hoje, essa herança é visível nos maiores nomes da música, como Gusttavo Lima, Ana Castela e Luan Santana. Eles misturam o sertanejo com pop e outros ritmos, mas a estética do campo, inspirada nesse encontro entre Brasil e Estados Unidos, permanece como pilar de sua identidade visual.
A alma que permanece
O sertanejo fez uma longa jornada: do raiz ao romântico e, enfim, ao universitário. Mesmo com tantas transformações e a clara influência country, o gênero nunca perdeu seu vínculo com a origem.
Enquanto guardiões como Almir Sater e Sérgio Reis mantêm a chama da viola raiz acesa, a nova geração usa a estética cowboy para cantar sobre temas modernos. É essa incrível capacidade de se reinventar, absorvendo influências sem jamais perder a autenticidade e a emoção da vida no campo, que faz do sertanejo a verdadeira trilha sonora do Brasil.
Escrito por Compre Rural.
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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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