Como raça, alimentação e terroir influenciam o perfil sensorial do leite e do queijo

Uma investigação de como a alimentação das vacas, suas raças e o terroir de diferentes regiões moldam o sabor e as características de leites e queijos ao redor do mundo, do pasto verdejante às prateleiras de queijos artesanais.

Nem todo leite tem o mesmo gosto. Assim como um vinho reflete seu terroir, o leite e os queijos carregam nuances de sabor influenciadas por múltiplos fatores – do capim que a vaca come à raça do animal e ao clima local. Em diferentes cantos do mundo, a combinação entre alimentação, genética e ambiente resulta em produtos lácteos com perfis sensoriais únicos. Estudos confirmam que o que a vaca come influencia diretamente atributos sensoriais como sabor, cor, odor, textura e aroma do leite e seus derivados.

Além disso, variações entre as principais raças leiteiras – Holandesa, Jersey, Gir, entre outras – resultam em leites com composições e qualidades organolépticas distintas. Por fim, o clima, o solo, a pastagem e as tradições locais imprimem identidade própria aos queijos regionais, do parmesão italiano ao queijo de Minas artesanal. A seguir, exploramos em detalhes como esses elementos contribuem para a diversidade de sabores no leite e no queijo.

A alimentação das vacas leiteiras é um dos fatores mais determinantes para a qualidade do leite e dos queijos. Mudanças na dieta, mesmo que sutis, podem repercutir significativamente no sabor, aroma e até na cor do leite. Abaixo, destacamos os principais tipos de alimentação e seus efeitos:

  • Pasto (capim fresco): Vacas criadas em pastagem livre, consumindo gramíneas variadas, produzem leite de perfil diferenciado. O leite de vacas em pasto possui aroma característico de ervas, sabor levemente adocicado e amanteigado, além de coloração mais amarelada pelo alto teor de carotenóides das plantas. Esse pigmento natural dá ao leite (e à manteiga) um tom dourado, evidenciado em produtos de vacas Jersey e Guernsey alimentadas com forragem fresca. Pastagens ricas em diversas ervas e flores silvestres também podem conferir notas complexas e nuances aromáticas ao leite, refletindo-se em queijos de sabor mais rico.
  • Silagem: A silagem (como a de milho ou outras forragens fermentadas) é um alimento comum em regimes intensivos, especialmente fora das estações de pasto. Quando a vaca consome silagem de milho, o leite tende a ter textura mais lisa e paladar suave. No entanto, dietas com silagem podem impactar a fabricação de queijos de longa maturação: o chamado “leite de silagem” contém mais esporos de bactérias que podem provocar fermentações indesejadas (estufamento tardio) nos queijos duros. Por isso, regras de produção tradicional de queijos como Emmentaler e Gruyère na Europa proíbem o uso de silagem, exigindo que as vacas sejam alimentadas apenas com pasto fresco no verão e feno no inverno, preservando o sabor e a qualidade do queijo.
  • Ração concentrada (alimentação industrial): Em sistemas intensivos, vacas recebem rações balanceadas à base de grãos (milho, soja) e suplementos para atingir alta produtividade. Essa dieta gera um leite padronizado e doce, porém com perfil sensorial menos complexo que o de pasto. Avaliações sensoriais indicam que o leite de vacas em confinamento com ração total tende a ser descrito como de sabor “maltoso”, suave e adocicado, enquanto o leite de vacas em pastoreio apresenta notas mais “animais” ou de curral perceptíveis a provadores treinados. É importante notar que essas diferenças costumam ser sutis: consumidores comuns nem sempre distinguem o leite de pasto do leite de ração, embora avaliadores experientes consigam perceber variações de aroma e cor. Ainda assim, em países como os EUA, muitos consumidores associam o leite orgânico (proveniente de sistemas com pasto obrigatório) a um gosto “mais forte de capim” ou mais rico se comparado ao leite convencional, reflexo da dieta natural das vacas e de um teor maior de gordura e nutrientes.
  • Alimentação orgânica e aditivos naturais: Produtores orgânicos evitam pesticidas e buscam equilíbrio na dieta animal, muitas vezes privilegiando pasto e feno orgânicos. Isso pode elevar compostos benéficos no leite, como ácidos graxos ômega-3 e CLA, melhorando o perfil nutricional. Pesquisas experimentais têm explorado adições inusitadas na dieta visando tanto qualidade quanto sustentabilidade. Por exemplo, incluir casca de banana ou spirulina (alga) na ração não alterou significativamente a composição do leite, segundo estudos recentes. Já a suplementação com óleo de oliva mostrou melhorar o perfil de ácidos graxos do leite e do queijo, aumentando gorduras insaturadas saudáveis; contudo, também trouxe leves efeitos adversos no aroma e na acidez do produto final.
  • Influências de ingredientes específicos: Certos ingredientes aromáticos na dieta podem transferir notas ao leite ou derivados. Um experimento na Europa adicionou 400 g de alho por dia à ração de vacas para reduzir emissões de metano; o resultado foi surpreendente no sabor: não afetou o processo de fabricação do queijo, mas alterou cor, textura e intensificou o sabor do queijo curado, aumentando especialmente o gosto salgado no leite e a acidez no queijo. Ou seja, vacas alimentadas com alho produziram leite cujo queijo maturado ficou mais intenso em sabor. Outros estudos apontam que pastos com plantas ricas em certos óleos essenciais ou terpenos (como o azevém perene, algumas leguminosas e ervas) podem realçar notas específicas na manteiga e no queijo, conferindo identidade sensorial ao produto. Por outro lado, alimentos de sabor muito forte – por exemplo, capim com alho selvagem, certas brássicas ou polpas cítricas – podem causar off-flavors no leite (um leve gosto estranho, às vezes descrito como “sabor de vaca” ou acre), se consumidos em grande quantidade próximo ao horário da ordenha.

Em resumo, a dieta influencia tanto os aspectos sensoriais (gosto, aroma, cor, textura) quanto a composição química (teor de gordura, ácidos graxos, vitaminas) do leite e, consequentemente, dos queijos. Leite de vacas em pasto tende a ser mais amarelo e aromático, enquanto dietas à base de ração produzem leite de sabor mais neutro.

Além disso, conhecer esses efeitos permite aos produtores ajustar o manejo alimentar para moldar o perfil do leite conforme o produto desejado – seja um queijo mais cremoso, um iogurte de sabor suave ou uma manteiga de cor viva. A nutrição tornou-se, assim, uma ferramenta para diferenciar produtos lácteos, atendendo nichos de mercado que buscam desde queijos artesanais de terroir até itens funcionais enriquecidos.

A genética do gado leiteiro desempenha um papel central na quantidade e na qualidade do leite produzido. Cada raça de vaca leiteira possui aptidões e composições lácteas próprias – o que impacta diretamente o sabor e a aptidão daquele leite para diferentes derivados. As principais diferenças entre raças refletem-se nos teores de gordura e proteína do leite, já que a lactose varia pouco entre elas.

Esses componentes (gordura/proteína) são a base da textura e do sabor lácteo – a gordura, em especial, carrega os ácidos graxos voláteis responsáveis pelo aroma e palatabilidade do leite e do queijo.

Conheça algumas das raças leiteiras de destaque e suas características organolépticas:

  • Holandesa (Holstein-Frísia): Originária dos Países Baixos, é a raça mais difundida no mundo para produção de leite. De grande porte e pelagem malhada (preto-e-branco clássica), a vaca Holandesa é famosa por altíssimos volumes de produção – em lactações de 305 dias pode chegar a 6 a 10 mil kg de leite. Em contrapartida, seu leite apresenta teores de gordura e proteína mais baixos que o de outras raças especializadas. Tipicamente, o leite de Holandesa possui cerca de 3,5% de gordura e 3,0% de proteína, sendo mais “magro” e de cor mais esbranquiçada. Essa menor concentração de sólidos significa um sabor mais suave e menos encorpado, embora a abundância de volume compense em rendimento total de derivados. Na indústria, valoriza-se que as Holandesas entregam grandes quantidades de sólidos totais por animal, ainda que diluídos em muito leite. É o leite ideal para consumo fluido pasteurizado e produtos em larga escala, mas menos valorizado em mercados que buscam máxima cremosidade ou produção artesanal.
  • Jersey: Pequena no tamanho, mas gigante em qualidade de leite, a raça Jersey (originária da ilha de Jersey, no Canal da Mancha) produz um leite riquíssimo em sólidos – com os maiores teores de gordura e proteína entre as raças leiteiras comerciais. Em média, vacas Jersey rendem leite com 5% ou mais de gordura e cerca de 4% de proteína, contra ~3,5% e 3% da Holandesa. Esse leite concentrado é mais saboroso, nutritivo e valorizado, pois quanto mais componentes, mais intenso o sabor e maior o rendimento em queijos e manteiga. Outra marca do leite Jersey é a cor: devido ao alto teor de beta-caroteno, a gordura não é totalmente convertida em vitamina A, conferindo ao leite um tom amarelo-cremoso evidente na nata e na manteiga (daí a expressão “gold-top milk” para o leite das ilhas do Canal). O sabor do leite Jersey é frequentemente descrito como mais adocicado e “encorpado”, com textura aveludada no paladar. Essas qualidades tornam a raça preferida em laticínios artesanais e produtores de queijos finos, apesar do menor volume por animal (cerca de 15 a 20 litros/dia, bem abaixo dos 30+ litros de uma Holandesa). Vale notar que Jerseys também apresentam eficiência alimentar elevada, convertendo pasto e ração em leite de forma econômica e adaptando-se bem tanto a sistemas a pasto quanto confinados.
  • Gir: Representando as raças zebuínas leiteiras, o Gir Leiteiro tem suas origens na Índia e ganhou destaque no Brasil por sua resistência e produção em clima tropical. Embora produza menos leite que as europeias de alto desempenho, o Gir compensa em robustez e qualidade. O leite das vacas Gir possui elevado teor de gordura e proteína, sendo um produto apreciado pela indústria de laticínios pela riqueza de sólidos. Em estudo, registrou-se em média ~4% de gordura e 3,6% de proteína no leite de vacas Gir, com sólidos não-gordurosos superiores a 9%. Essa composição favorece a fabricação de queijos e doces de leite de sabor marcante e textura firme. Outra peculiaridade é que muitas linhagens de Gir produzem leite A2, uma variante da beta-caseína que tem sido associada a melhor digestibilidade para pessoas com sensibilidade ao leite comum. Consumidores relatam que o leite de raças zebuínas, como Gir e Guzerá, tem sabor levemente mais adocicado e aroma “lácteo” pronunciado, possivelmente devido ao perfil diferenciado de proteínas. Além disso, o Gir é valorizado em cruzamentos (como o Girolando, meio-sangue Gir-Holandês) combinando a rusticidade e gordura do zebu com a produtividade do holandês – resultando em um leite que herda características intermediárias de sabor e teor de sólidos. Em suma, raças zebuínas imprimem um toque tropical à produção: animais mais rústicos, leite encorpado e adequado a queijos regionais típicos de climas quentes.
  • Outras raças e cruzamentos: Além das já citadas, diversas raças contribuem para a paleta de sabores do leite global. A Guernsey, por exemplo, produz leite tão dourado quanto a Jersey, com alto teor de gordura e reconhecido sabor amanteigado. Raças alpinas francesas, como Montbéliarde, Tarentaise e Abondance, fornecem o leite para queijos famosos (Comté, Beaufort, Reblochon), sendo conhecidas por equilibrar boa produção com sólidos de qualidade – o leite Montbéliarde, alimentada em pastos floridos das montanhas, é rico em aromas que dão complexidade aos queijos. A Pardo-Suíça (Brown Swiss), de origem alpina, produz leite de volume moderado e bem equilibrado em teor de gordura, excelente para queijos semiduros. Já raças escocesas como a Ayrshire têm leite com pigmentos e ácidos graxos que rendem manteigas de coloração intensa. No Brasil, o Girolando (resultado do cruzamento Gir × Holandesa) domina os rebanhos pela adaptabilidade: sua produção volumosa e leite de sólidos médios garantem tanto quantidade quanto qualidade, servindo tanto ao mercado de leite pasteurizado quanto à fabricação de queijos regionais. Por fim, nas fazendas familiares brasileiras, cruzamentos diversos – incluindo raças locais e até junções com gado de corte – produzem leites de terroir único, muitas vezes usados in natura em queijos artesanais com características bem peculiares.

Em resumo, cada raça leiteira entrega um “leite com personalidade”. Vacas de alta produção (Holandesa) oferecem sabor suave e leite abundante; raças de alto teor (Jersey, Guernsey) entregam leite denso, doce e de coloração acentuada; já raças adaptadas a climas adversos (Gir, Guzerá) produzem leite robusto e adequado a processos artesanais. Para o consumidor atento, essas diferenças podem ser percebidas na xícara de leite ou no sabor da muçarela – e para os queijeiros, elas são fundamentais na escolha da matéria-prima ideal para cada tipo de queijo.

Terroir e Variações Regionais no Sabor

Se a alimentação e a raça definem o potencial de sabor do leite, é o terroir – o conjunto de fatores ambientais e culturais de cada região – que molda a expressão final desse sabor nos queijos. O termo francês terroir refere-se à “personalidade geográfica” de um alimento, englobando clima, solo, pastagens, altitude e saber-fazer local. Nos queijos, o terroir se manifesta de formas diversas: o solo e o clima determinam as plantas que nutrem as vacas, e essa pastagem local empresta características únicas ao leite, refletindo-se no sabor e aroma dos queijos. Mudanças de temperatura, umidade e regime de chuvas ao longo do ano também afetam a composição do leite – por exemplo, verões quentes e secos reduzem a variedade de pasto e podem concentrar gordura e lactose no leite, alterando textura e dulçor do queijo produzido

Em regiões tradicionalmente produtoras de queijo, o terroir é quase um personagem. Nas montanhas da Europa alpina, verões curtos e floridos forçam as vacas a uma dieta de alta montanha rica em ervas aromáticas. O resultado são queijos de sabor complexo e floral. Um exemplo emblemático é o Comté francês, produzido no Jura: as vacas da raça Montbéliarde pastam em prados locais e o leite cru é transformado em enormes rodas de queijo em até 24 horas, garantindo frescor e preservação dos aromas da pastagem. Após meses de maturação em caves de temperatura e umidade controladas, desenvolve-se o sabor adocicado e de nozes característico do Comté.

No terroir suíço, algo semelhante ocorre com Gruyère e Emmental – alimentadas com capim de altitude, as vacas fornecem leite com notas que lembram feno seco e flores alpinas, e a proibição de silagem nesses rebanhos evita qualquer sabor estranho, garantindo a pureza do queijo. Em climas mediterrâneos, como na Grécia e sul da Itália, verões áridos levam os produtores a complementar o pasto das vacas com fenos, azeite de oliva (no caso grego, até torta de azeitona ensilada foi testada com sucesso para melhorar o perfil lipídico do leite) e outros alimentos regionais – influenciando queijos como o Pecorino (mistura de leite de vaca e ovelha) ou o Feta, que carregam a salinidade e os aromas das ervas secas daquele ambiente.

Variações climáticas extremas podem alterar o sabor regional ao longo do tempo. Em 2022, a França viveu uma das piores secas do século, secando pastagens e obrigando produtores de queijos com denominação de origem a improvisar na alimentação. Com menos ervas disponíveis, o leite apresentou mudanças em gordura e proteína que afetaram diretamente a textura, o sabor e até o rendimento dos queijos. Associações de queijos AOP tiveram que flexibilizar regras centenárias (como permitir feno de fora da região) para alimentar as vacas, numa medida inédita. Esse episódio evidencia como o terroir não é estático: mudanças no clima ou no manejo podem “reescrever a história” de um queijo tradicional, exigindo inovação para preservar seus sabores únicos. Produtores vêm investindo em soluções para mitigar efeitos climáticos – de colchões térmicos e ventiladores gigantes nos estábulos para aliviar o estresse calórico das vacas, a ajustes no horário de pastejo ou na época de produção do queijo. Como disse uma produtora francesa, “não estamos apenas produzindo leite ou queijo, estamos preservando nossa história e identidade” – e essa identidade está intrinsecamente ligada ao terroir.

No Brasil, país de dimensão continental, o terroir dos queijos artesanais varia do frio da serra ao calor sertanejo. Em Minas Gerais, referência nacional em queijos artesanais, cada microregião imprime seu sabor. O queijo Minas Artesanal da Serra da Canastra, por exemplo, nasce do leite cru de vacas muitas vezes mestiças (Holandesa × Zebu) criadas em altitudes elevadas (~1.100 m) sobre pastagens nativas do cerrado. Pesquisas ressaltam que clima, altitude, tipo de pasto nativo e outros fatores regionais permitem que o queijo de leite cru dessa região tenha um sabor típico e único. Esses queijos maturados carregam notas ligeiramente picantes e um aroma terroso, atribuídos à flora do solo e às bactérias lácticas naturais do ambiente (o famoso “pingo” usado como fermento). Já na Serra da Mantiqueira, divisa entre MG, SP e RJ, produtores como Francisco Barros, de Alagoa (MG), destacam que “o clima, o tipo de gado, a pastagem e a altitude” contribuem para um queijo diferenciado. Alagoa, a ~1.300 m de altitude, tem clima ameno semelhante ao de Parma (Itália), o que inspirou imigrantes italianos a produzirem ali um queijo tipo parmesão. Hoje, com técnicas aprimoradas, esse queijo ganhou identidade própria e status de indicação geográfica, o “Queijo Artesanal de Alagoa”, com terroir único. No Sul do Brasil, o Queijo Serrano dos Campos de Cima da Serra (RS/SC) também reflete seu entorno: produzido há séculos por famílias em campos de altitude, usa leite de vacas criadas soltas no campo nativo (rasteiro e de inverno rigoroso), resultando em queijos de sabor mais ácido e massa quebradiça – diferente dos queijos de zonas quentes. No Nordeste, por sua vez, o Queijo de Coalho tradicional carrega a rusticidade do sertão: vacas Guzerá ou Sindi suportam o calor alimentando-se de mandacaru, palma forrageira e caatinga seca; o leite, menos volumoso porém concentrado, dá queijos firmes, ligeiramente salgados (muitas vezes pela própria água e forragem da região) e de aroma lácteo intenso, ideais para grelhar. Cada um desses produtos brasileiros mostra como terroir, cultura e sabor andam juntos – e como a diversidade ambiental do país se traduz em uma rica variedade de queijos.

Em outras partes do mundo, poderíamos citar ainda o leite “grass-fed” da Nova Zelândia – país onde as vacas pastejam o ano inteiro em pastos verdejantes, produzindo manteigas e queijos famosos pela cor amarelo-viva e sabor de creme –, ou o leite de feno do Tirol (Áustria), proveniente de vacas alimentadas apenas com feno de alta montanha, sem silagem, rendendo queijos suaves e aromáticos que receberam selo de origem. Até mesmo o leite servido no copo varia entre os países: fatores como pasteurização versus leite cru, uso de tanques refrigerados (que podem oxidar levemente a gordura) e até a microbiota típica de cada fazenda influenciam o paladar. Por exemplo, consumidores na Suécia notaram diferença de sabor ao comparar leite de verão (pasto) com leite de inverno (rações secas), e no Japão existe demanda por leite “premium” de vacas Jersey em Hokkaido, por seu sabor mais adocicado.

A conscientização sobre essas variações tem crescido. Órgãos reguladores e especialistas vêm reconhecendo formalmente o terroir e a tipicidade de queijos e leites. Na Europa, dezenas de queijos possuem denominação de origem protegida (DOP/AOP), cujos cadernos de regras detalham raças permitidas, regiões de pastagem e métodos tradicionais – assegurando que o sabor permaneça fiel às suas raízes. No Brasil, estados como Minas Gerais e Paraíba implementaram selos de certificação de queijo artesanal, enquanto novos estudos científicos corroboram a influência do ambiente na qualidade sensorial do leite. Para o consumidor, isso se traduz em mais informações e opções: hoje encontramos nas prateleiras leite A2, leite orgânico de pasto, queijos de leite cru com identificação de fazenda, entre outros. A busca por produtos lácteos diferenciados faz parte de uma “premiunização” do mercado, onde sabor, origem e história agregam valor.

Por fim, é fascinante perceber que por trás de cada copo de leite ou fatia de queijo há uma história complexa – que começa na forma como a vaca é alimentada, passa pela genética do rebanho e culmina no saber-fazer regional. Como escreveu o especialista Patrick Rance, “uma fatia de queijo nunca é apenas algo para comer; é uma fatia da história”. Hoje, essa história continua a evoluir, unindo ciência e tradição para que possamos saborear, em cada produto lácteo, um pouco do lugar e das mãos de onde ele veio. Do capim à cultura, do curral ao mercado, o leite e o queijo carregam consigo o gosto do mundo.

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