
Sobretaxa de 50% imposta por Washington, ou ‘Tarifaço’ dos EUA, eleva custo da carne brasileira, reduz competitividade e força setor a buscar novos mercados
A recente decisão dos Estados Unidos de impor uma tarifa de 50% sobre a carne bovina brasileira já provoca efeitos concretos na cadeia pecuária nacional. Em Barretos (SP), onde a carne bovina responde por mais de 60% das exportações municipais, um confinamento de grande porte — especializado em atender o mercado externo e com capacidade para 25 mil cabeças — registrou queda de 10% no faturamento apenas com a notícia da taxação, devido à desvalorização imediata do boi gordo.
Segundo a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), a medida pode representar uma perda de até US$ 1 bilhão para o setor. O “tarifaço” foi resultado da combinação de uma sobretaxa de 40%, anunciada em julho, com outra de 10% definida em abril, totalizando 50% de imposto adicional sobre o produto brasileiro.
Antes da medida, o Brasil vendia carne aos EUA a preços médios de US$ 6.100 por tonelada, abaixo dos principais concorrentes. Com o novo cenário, o valor subiu para US$ 8.415/t, tornando o produto US$ 1,7 mil mais caro que a carne argentina e menos competitivo frente a países como Austrália e Uruguai.
Em entrevista ao G1, André Perrone Reis, diretor do confinamento afetado, ressaltou que a carne brasileira é fundamental para os hambúrgueres nos Estados Unidos, usados em blend com a carne local. Ele destacou que o mercado americano pagava valores até superiores aos da China, proporcionando margens melhores. “Temos certeza de que a indústria fará um trabalho para tentar recuperar esse mercado”, afirmou.
Redirecionamento de mercados
O consultor de mercado Felipe Fabbri aponta que, apesar do peso do mercado americano, é possível substituir o volume exportado para outros destinos já certificados para a carne brasileira, como México, Rússia e Indonésia. O desafio, segundo ele, está na remuneração, já que os EUA pagavam entre US$ 6 mil e US$ 7 mil/t, cerca de US$ 1,5 mil a mais que a China.
Especialistas também observam que, caso concorrentes como Uruguai, Austrália e Argentina priorizem o fornecimento aos EUA, outros mercados poderão ficar descobertos, abrindo espaço para o Brasil ampliar embarques à Ásia e à União Europeia.
Efeitos no mercado interno da carne bovina
No curto prazo, entre agosto e setembro, pode haver redução dos preços ao consumidor brasileiro devido à oferta extra de carne que seria exportada. Contudo, a queda tende a ser temporária, já que no fim do ano há menor oferta de boiadas, pois pecuaristas costumam segurar os animais para abate.
Apesar das dificuldades, não há previsão de demissões em massa no setor. Isso porque 70% a 80% da carne produzida no país é consumida internamente, garantindo a demanda por mão de obra.
Perspectivas com tarifaço dos EUA
Mesmo com a perda de competitividade nos EUA, analistas projetam que o Brasil poderá atingir um recorde de exportações de carne bovina em 2025, impulsionado pela diversificação de destinos e pela forte presença no mercado global. O governo federal, por sua vez, anunciou um pacote de ajuda aos setores mais vulneráveis, embora o segmento de carnes tenha se mostrado mais resiliente e capaz de se adaptar rapidamente.
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