Animal símbolo das montanhas ibéricas, a Cabra-montês surpreende pela habilidade de viver entre os precipícios. Espécie foi reintroduzida no Parque Nacional da Peneda-Gerês após um século ausente
Imagens que circulam nas redes sociais mostram cenas quase inacreditáveis: uma Cabra-montês caminhando calmamente por uma estreita saliência de pedra, a centenas de metros de altura, como se fosse a coisa mais natural do mundo. O vídeo é verdadeiro e revela a impressionante habilidade dessa espécie de cabra para se equilibrar em encostas vertiginosas, desafiando a gravidade com elegância e firmeza.
Esse espetáculo da natureza não é novo para os especialistas. A cabra-montês (Capra pyrenaica) é nativa da Península Ibérica e há séculos é considerada um exemplo notável de adaptação aos ambientes mais extremos da região — das escarpas dos Pirenéus aos cumes de Gredos, passando agora por terras portuguesas.
Espécie em recuperação: extinções, reintrodução e território atual
Duas das quatro subespécies da cabra-montês foram extintas: a C. pyrenaica lusitanica, nativa de Portugal, desapareceu no século XIX; e a C. pyrenaica pyrenaica, conhecida como bucardo, foi declarada extinta em 2000 após a morte da última fêmea viva nos Pirenéus.
Hoje restam duas subespécies:
- C. pyrenaica hispanica, que habita áreas montanhosas da Andaluzia, especialmente a Serra Nevada, mas também regiões costeiras da Península;
- C. pyrenaica victoriae, dominante na Serra de Gredos, e reintroduzida em outras regiões como Guadarrama e nos Pirenéus franceses.
Portugal também reintroduziu a cabra-montês em seu território, mais precisamente no Parque Nacional da Peneda-Gerês. A operação começou no início dos anos 90, com animais oriundos da Galícia. Desde então, o animal voltou a fazer parte da fauna local após mais de 100 anos de ausência.
Vida nas alturas: comportamento e reprodução da Cabra-montês
A cabra-montês é uma especialista em viver no limite. Suas patas são adaptadas com cascos duros e flexíveis, capazes de aderir a superfícies rochosas íngremes com precisão. O equilíbrio é um dos principais fatores de sobrevivência da espécie, que se alimenta de gramíneas e arbustos encontrados mesmo nos locais mais inacessíveis.
Durante a época de reprodução — entre novembro e dezembro — os machos travam combates intensos com fortes cabeçadas, disputando o direito de acasalar com as fêmeas. Cada fêmea geralmente dá à luz uma única cria por parto, que nasce em maio, sendo capaz de se mover com agilidade já nas primeiras horas de vida.
Conservação: desafios ainda presentes
Apesar dos esforços de conservação bem-sucedidos em algumas áreas, a cabra-montês continua vulnerável à caça ilegal, perda de habitat e doenças transmitidas por animais domésticos. Projetos de monitoramento, como os realizados em Portugal e Espanha, têm sido essenciais para garantir o crescimento populacional controlado e a preservação genética das subespécies restantes.
A presença do animal em parques nacionais também impulsiona o turismo de natureza e a educação ambiental, valorizando a biodiversidade e a cultura local ligada às montanhas.
Uma atração natural que inspira
No Parque Nacional da Peneda-Gerês, é possível observar grupos de cabras-monteses em trilhas mais elevadas, especialmente nos vales do Rio Homem e Serra Amarela. A experiência tem atraído turistas, biólogos e fotógrafos, ansiosos para testemunhar de perto a leveza com que esse animal desafia os abismos.
O vídeo compartilhado pela National Geographic e que viralizou nas redes sociais reforça o fascínio por essa espécie. A elegância da cabra-montês, mesmo à beira do abismo, representa uma poderosa metáfora da sobrevivência e do equilíbrio da vida selvagem.
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