
Fazenda altamente tecnificada encontrou na raça Canchim um modelo de precocidade, acabamento de carcaça e qualidade superior da carne – características que elevam o padrão da pecuária nacional
No coração do Cerrado goiano, a Fazenda Vargem Grande, em Montividiu (GO), destaca-se como modelo de excelência em pecuária de corte. Comandada pela família Peeters, de origem holandesa, a Agropecuária Peeters combina tradição, tecnologia e melhoramento genético com foco na raça Canchim – desenvolvida pela Embrapa Pecuária Sudeste e hoje adotada por criadores em todo o país.
Com uma história que remonta a 1987, quando trouxeram os primeiros animais da raça para Goiás, os Peeters consolidaram-se como referência na seleção de reprodutores precoces e adaptados ao clima tropical.
Hoje, além do trabalho do Canchim APPGO, a fazenda investe em IATF (Inseminação Artificial em Tempo Fixo), cruzamentos estratégicos (como F1 Angus e tricross Canchim x Nelore x Angus) e ferramentas digitais para gestão pecuária. A propriedade possui o ciclo completo na pecuária de corte: cria, recria e engorda.

A fazenda é reconhecida por suas práticas integradas e sustentáveis e se destaca por aplicar o sistema de Integração Lavoura-Pecuária (ILP), que promove a preservação do solo e maior resiliência do ambiente produtivo. Além disso, utiliza insumos biológicos e faz a gestão adequada dos resíduos na busca pela melhoria do balanço de carbono da propriedade.

Paralelamente à agricultura, a fazenda dedica-se ao melhoramento genético da raça Canchim, desenvolvida pela Embrapa em meados do século passado. A convite da Associação Brasileira de Criadores de Canchim (ABCCAN), o CompreRural conversou com a pecuarista Wendy Peeters, que detalhou o trabalho de seleção de animais voltado para precocidade, acabamento de carcaça e qualidade superior da carne – características que elevam o padrão da pecuária nacional.
Nos conte um pouco sobre o trabalho do Canchim APPGO. Quando iniciou, quantos animais, matrizes, qual o objetivo principal do criatório?
Wendy: A Fazenda Vargem Grande trouxe a raça Canchim para Goiás em 1987, são 38 anos que estamos fazendo melhoramento genético e selecionando animais mais adaptados para o clima do cerrado. Hoje nosso plantel conta com 80 matrizes e o objetivo principal é vender touros reprodutores para fazer um choque de genética de precocidade em ganho de carcaça nos animais de raça zebuína. Além da produção de reprodutores Canchim, nós temos um plantel de fêmeas nelores e fazemos IATF para produzir animais F1 Angus, F1 Canchim e tricross Canchim x Nelore x Angus. Nós temos na fazenda os resultados práticos dos produtos que o Canchim pode oferecer a quem busca entender os ganhos produtivos que a raça pode proporcionar ao rebanho.
Qual o perfil dos animais da raça Canchim que tem ajudado a melhorar o rendimento da pecuária brasileira?
Wendy: A principal marca que a raça Canchim deixa no rebanho é precocidade, seja em ganho de peso, seja em reprodução. Somado a esse fator, ainda temos a rusticidade. O gado Canchim se adapta em qualquer condição do nosso Brasil, o que é um diferencial competitivo muito importante, dado que temos regiões onde o clima é bem extremo e precisamos de animais tropicalizados.
No Brasil, nós temos várias raças sintéticas, na sua opinião, o que difere o Canchim das outras?
Wendy: O Canchim foi uma criação da Embrapa Sudeste. É uma raça formada por 5/8 de Charolês e 3/8 do Nelore. O fato de a raça ter sido desenvolvida por uma instituição de pesquisa tão relevante faz com que ela tenha sido muito estudada e temos dados reais do que representa a eficiência da raça em termos reprodutivos e em relação à qualidade da carne. 70 anos de pesquisa não são 70 dias, foram anos e anos de aprimoramento para termos hoje uma genética que traz uniformidade e melhora o rendimento do rebanho.
Recentemente, através de provas realizadas, destacou-se a precocidade e qualidade de carne da raça nos indivíduos machos. Esses são os grandes diferenciais da raça?
Wendy: Sem dúvidas a qualidade da carne é um grande diferencial. Mas além disso, gostaria de destacar a precocidade em relação à reprodução. O touro Canchim é um animal apto para fazer a cobertura a campo das vacas, em qualquer condição climática desse nosso país que é tão diverso de norte a sul.
Melhoramento genético
A realização anual das provas PCAD/TEA (Programa de Controle e Avaliação de Desempenho/Teste de Eficiência Alimentar) no Instituto de Zootecnia de Sertãozinho tem sido fundamental para consolidar a raça Canchim como alternativa genética de alto desempenho no Brasil. Esses testes rigorosos, que avaliam características como ganho de peso, conversão alimentar e qualidade de carcaça, comprovam cientificamente a superioridade do Canchim em aspectos como precocidade e eficiência produtiva.
Os resultados demonstram que animais Canchim podem alcançar até 15% melhor conversão alimentar comparado a zebuínos puros, enquanto mantêm a rusticidade necessária para os desafios tropicais.
Para os criadores, essa comprovação técnica se traduz em maior rentabilidade: touros testados e aprovados no PCAD/TEA chegam a valer até 30% mais no mercado, enquanto seus descendentes reduzem em até 60 dias o tempo de abate. O programa também impulsionou a valorização comercial da raça, com criadores obtendo premiações em leilões e acesso a mercados premium.
Em um marco para a pecuária sustentável, a edição 2024 da prova incluiu, pela primeira vez, a mensuração de emissões de metano nos machos em avaliação. Essa iniciativa pioneira, alinhada com as demandas globais por produção de baixo carbono, posiciona a raça na vanguarda da pecuária sustentável brasileira.
Os dados coletados permitirão identificar e selecionar animais geneticamente mais eficientes, que combinem ganho de peso superior com menor impacto ambiental – um avanço crucial para produtores que buscam atender mercados exigentes e agregar valor à carne brasileira.
Wendy destaca que utiliza em seu plantel a genética dos animais campeões das provas PCAD/TEA dos últimos anos – uma parceria entre associação e criadores que já apresenta resultados concretos. Essa estratégia consolida a raça como solução para uma pecuária que alia alto desempenho produtivo com responsabilidade ambiental, demonstrando na prática como produtividade e sustentabilidade podem andar lado a lado.
Para finalizar, Wendy falou sobre o cenário atual do setor. “A pecuária brasileira avançou muito nos últimos anos, trabalhamos muito bem a genética, a qualidade da carne e as questões sanitárias. Acho que o nosso principal desafio está em como comunicar todo esse trabalho para a sociedade civil organizada. Temos que mostrar que produzimos um boi verde e que o ciclo de carbono se fecha dentro da própria fazenda, uma vez que as emissões provocadas pelo gado são compensadas pelo sistema produtivo onde ele está inserido, que é um sistema que faz um bom manejo do solo, intensificando as pastagens e preservando todo ecossistema das propriedades” – finalizou ela.
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