Conheça a maior fazenda de gado em atividade no mundo, um “país” feito de boi

Em pleno deserto australiano, uma área maior que países inteiros sustenta até 17 mil cabeças de gado em regime extensivo, a fazenda Anna Creek é operada por apenas 11 pessoas com forte apoio tecnológico. Conheça a maior fazenda de gado em atividade no mundo

A resposta para a pergunta “qual é a maior fazenda de gado do mundo?” não está no Brasil, nem nos Estados Unidos. Ela fica na Austrália Meridional, em uma região desértica e quase inabitada: trata-se da Estação Anna Creek, uma propriedade tão grande que já foi comparada a países inteirosmaior que Israel, mais larga que o País de Gales e com área superior à da Holanda.

Enquanto a maioria das fazendas das Américas trabalha com confinamentos intensivos e áreas reduzidas, a Anna Creek adota um sistema de pastoreio extensivo em pleno deserto, exigindo milhões de hectares para sustentar um rebanho relativamente pequeno.

A área da estação é tão vasta que a escala se torna difícil de imaginar. A propriedade funciona em um cenário adverso:

  • Precipitação anual: apenas 200 mm
  • Temperaturas que chegam a 55 °C no verão
  • Vegetação escassa e nativa de deserto
  • Cidade mais próxima (Coober Pedy) a centenas de quilômetros

Justamente por essa aridez, a densidade de gado é baixíssima: entre 10 mil e 17 mil cabeças em anos normais — podendo despencar para 1.500 animais em secas severas. Por contraste, confinamentos menores nos EUA podem manter 30 mil cabeças em poucos hectares.

Anna Creek
Caminhões carregados de boi. Foto: cnpl

A fazenda, hoje sob comando da Williams Cattle Company (adquirida em 2016 por cerca de AUD 16 milhões), trabalha principalmente com:

  • Hereford e Black Baldy — raças com alta resiliência ao calor e à escassez de pasto
  • Angus e cruzamentos com Angus, priorizando carne de qualidade
  • Santa Gertrudis, em presença menor, devido à adaptação ao clima seco

A raça Hereford, por exemplo, é valorizada por sua eficiência reprodutiva mesmo em condições hostis, além de alternar bem entre ganho de gordura e economia de energia nas fases de escassez.

Anna Creek
Anna Creek. Foto: Divulgação

Apesar da dimensão continental, apenas 11 pessoas operam Anna Creek:
um gerente, oito auxiliares, um operador de máquinas e um cozinheiro.

Isso só é possível devido a uma intensa dependência tecnológica:

  • Bombas solares para extração de água de aquíferos profundos
  • Sistemas remotos de controle hídrico
  • Helicópteros e drones para localizar e conduzir o gado
  • Motocicletas no lugar de cavalos na lida diária

O manejo à cavalo cedeu espaço à logística aérea: pilotos atuam como “cowboys do ar”, guiando o gado em operações que seriam inviáveis a olho nu em terra.

Anna Creek
Anna Creek. Foto: Divulgação

Fundada em 1858, originalmente para criação de ovelhas, a propriedade foi forçada a mudar de atividade após sucessivas perdas para predadores (dingos). Com o tempo, especializou-se em bovinos e trocou de donos diversas vezes até chegar ao modelo atual.

A principal lição que emerge é clara: mesmo no maior rancho de gado em funcionamento do mundo, a abundância de terra não significa facilidade — significa necessidade.
Sem milhões de hectares, seria impossível manter rebanho num ambiente onde água, sombra e forragem são exceções.

A fazenda australiana funciona como laboratório real de pecuária em climas extremos. Em um mundo pressionado por:

  • mudanças climáticas
  • escassez de água
  • pressão ambiental
  • migração da produção para novas fronteiras

as estratégias aplicadas na Anna Creek — tecnologia, genética e manejo extensivo sustentável — apontam caminhos para manter a pecuária viva em regiões antes consideradas inviáveis.

A Estação Anna Creek não é apenas a maior fazenda de gado do mundo.
Ela é um marco de resiliência, adaptação e engenharia pecuária em escala continental — e talvez um espelho do que virá nas próximas décadas para o rebanho global.

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