Conheça a Ovelha Hebridean, raça viking que resiste há séculos nas ilhas da Escócia

Com lã negra, múltiplos chifres e resistência lendária, a rara ovelha Hebridean sobreviveu ao tempo e se tornou símbolo de conservação e patrimônio rural escocês.

A ovelha Hebridean, também chamada de ovelha das Hébridas, é uma das raças mais antigas e resistentes do mundo. Originária das ilhas Hébridas, ao largo da costa noroeste da Escócia, essa pequena ovelha de lã negra e múltiplos chifres carrega em si séculos de adaptação à vida em condições extremas, moldada pelos ventos frios do Atlântico Norte e pela rusticidade do solo escocês.

Acredita-se que a raça tenha descendido das ovelhas primitivas trazidas pelos colonizadores nórdicos há mais de mil anos, durante o período das invasões vikings. Assim como outras raças nórdicas de cauda curta, como a Shetland e a North Ronaldsay, as Hebridean preservaram traços primitivos e notáveis — entre eles, a cauda naturalmente curta (que dispensa o corte), a lã dupla e os múltiplos chifres, que podem chegar a dois, quatro ou até seis em alguns indivíduos.

Esses chifres, presentes tanto em machos quanto em fêmeas, dão à raça uma aparência imponente e selvagem, reminiscente das paisagens que habita. Os carneiros de dois chifres são particularmente valorizados, e seus chifres são procurados por artesãos para a confecção de bastões e utensílios tradicionais escoceses.

Com peso médio de 40 kg nas fêmeas adultas, as ovelhas Hebridean são de pequeno porte, leves e de ossatura fina, o que lhes permite ocupar áreas de difícil acesso sem causar danos ao solo — uma característica valiosa em ambientes úmidos e sensíveis. Seus casco pretos e resistentes são naturalmente menos suscetíveis a doenças, e sua constituição robusta permite prosperar em pastos pobres, onde outras raças não sobreviveriam.

Foto: Reddit

Essa capacidade de adaptação fez da Hebridean uma das favoritas em projetos de pastoreio de conservação. Utilizadas para manter charnecas e pastagens naturais livres de arbustos invasores, elas ajudam a preservar ecossistemas tradicionais, desempenhando um papel ecológico essencial.

A lã da Hebridean é uma das mais apreciadas entre os artesãos que trabalham com fiação manual. Negra como azeviche, ela apresenta tonalidades sutis que variam com a idade e a exposição ao sol — escurecendo no inverno e desbotando para tons de castanho ou cinza nas pontas durante o verão. Trata-se de uma lã de duplo revestimento, composta por uma camada interna macia e isolante, e uma camada externa grossa e repelente à água, que permite ao animal livrar-se da chuva com um simples sacudir de corpo.

Esse mesmo atributo se reflete nos produtos confeccionados com a fibra, que mantêm resistência e impermeabilidade natural — ideais para o tradicional vestuário escocês usado em campo.

Foto: scottishfoodguide

Apesar de seu ar selvagem e ancestral, as ovelhas Hebridean são fáceis de manejar, obedientes e inteligentes. Respondem bem ao pastoreio e são amplamente utilizadas por treinadores de cães de pastoreio, já que se movimentam em grupo com rapidez e agilidade, oferecendo um excelente treinamento para os cães.

Além disso, são animais de instinto maternal apurado e alta fertilidade: geralmente dão à luz gêmeos, embora o primeiro parto costume resultar em um único cordeiro. Os cordeiros nascem vigorosos, levantam-se e mamam rapidamente — uma vantagem em ambientes frios e expostos.

A carne da ovelha Hebridean é conhecida por ser escura, suculenta e de baixo teor de gordura. Estudos e relatos indicam que o tecido muscular e a gordura dessa raça contêm menos colesterol do que outras ovelhas comerciais, o que a torna uma opção saudável e gourmet. Como as raças primitivas têm crescimento mais lento, os cordeiros atingem o ponto ideal de abate mais tardiamente, por volta do segundo ano de vida, resultando em carne mais saborosa e de textura superior.

Foto: BBCLandward

Com o avanço da agricultura intensiva no século XX, a ovelha Hebridean quase desapareceu. A introdução de raças maiores e de crescimento rápido reduziu drasticamente sua população. Porém, programas de conservação conduzidos por criadores e organizações britânicas conseguiram salvar a raça, reconhecendo seu valor histórico, ecológico e genético.

Hoje, as Hebridean são um símbolo vivo da herança rural escocesa. Encontram-se em fazendas tradicionais, reservas ambientais e até parques nacionais, onde continuam a moldar paisagens e inspirar projetos de sustentabilidade.

Com sua pelagem negra brilhante, seus múltiplos chifres imponentes e um olhar firme que parece atravessar os séculos, a ovelha Hebridean representa mais que uma raça: é um retrato da resiliência e da harmonia entre o homem e a natureza.

Dos ventos gelados das ilhas escocesas às planícies preservadas da Grã-Bretanha moderna, ela segue viva, como um elo entre o passado viking e o futuro da conservação animal.

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