
Versátil, sustentável e altamente lucrativa, o cânhamo surge como uma das culturas mais promissoras do futuro agrícola, com potencial de movimentar bilhões e transformar o campo nacional.
O cânhamo, uma variedade da Cannabis sativa L. com menos de 0,3% de THC — portanto sem efeito psicoativo —, vem sendo apontado por pesquisadores e empresas de inteligência agrícola como uma das culturas mais rentáveis do mundo. Segundo levantamento da Kaya Mind, a planta pode gerar retorno líquido de até R$ 23.306,80 por hectare, valor 11 vezes maior que o da soja, que entrega cerca de R$ 2.053,34 por hectare na média brasileira.
Estudos mostram que o cânhamo é uma das plantas mais versáteis já cultivadas pela humanidade, com registros de uso que remontam a 10.000 a.C. na Ásia. Suas fibras eram utilizadas para fabricar cordas, tecidos e até as velas das caravelas portuguesas que chegaram ao Brasil em 1500. Hoje, porém, o potencial econômico e ambiental do cânhamo vai muito além da história.
O caule, as sementes e as flores da planta podem ser aproveitados em mais de 25 mil aplicações industriais, segundo a pesquisadora Daniela Bittencourt, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia. O cânhamo é utilizado na produção de bioplásticos, fibras têxteis, materiais de construção civil, cosméticos, suplementos alimentares e alimentos funcionais, como carnes e leites vegetais.
Além de sua ampla utilidade, o cultivo é sustentável: melhora a estrutura do solo, reduz a emissão de carbono e pode ser integrado em sistemas de rotação de culturas, favorecendo a recuperação de áreas degradadas e o uso racional de maquinário agrícola já existente.
Rentabilidade do cânhamo e geração de empregos
De acordo com o estudo da Kaya Mind, o cânhamo apresenta uma das melhores margens líquidas do agronegócio mundial. Para efeito de comparação, enquanto a soja gera em média R$ 2 mil/ha e o milho R$ 3,4 mil/ha, o cânhamo pode alcançar R$ 23,3 mil/ha — especialmente no cultivo voltado para flores ricas em CBD (canabidiol), componente de alto valor comercial utilizado nas indústrias farmacêutica e cosmética.
O impacto social também é expressivo: em países como a Colômbia, estima-se que a cultura crie 17,3 empregos por hectare cultivado, demonstrando seu potencial para promover desenvolvimento rural e diversificação da produção agrícola.

Obstáculos e o cenário regulatório no Brasil
Apesar de todo esse potencial, o Brasil ainda não regulamentou o cultivo do cânhamo industrial. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proíbe a importação e o plantio, já que a planta é derivada da Cannabis sativa — espécie controlada por lei. No entanto, a discussão avança no Congresso Nacional, com o Projeto de Lei 399/2015, que propõe a regulamentação da produção e comercialização de produtos de cannabis e cânhamo industrial, limitando o teor de THC a 0,3%.
O tema ganhou força após decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) reconhecer o direito de importar sementes e cultivar cânhamo para fins medicinais e farmacêuticos, obrigando a Anvisa a estabelecer parâmetros técnicos e legais. Especialistas defendem que a regulamentação traria não apenas segurança jurídica, mas também abriria um novo mercado bilionário.
Segundo projeções da Kaya Mind, a legalização poderia movimentar R$ 4,9 bilhões no quarto ano de cultivo regulamentado, com arrecadação tributária estimada em R$ 330,1 milhões.
Sustentabilidade e inovação
Além da rentabilidade, o cânhamo é considerado uma das culturas mais sustentáveis do planeta. Sua fibra substitui produtos sintéticos, como plásticos e isolantes industriais; suas folhas e caules produzem carvão vegetal de alta eficiência; e suas sementes são superalimentos ricos em proteínas, ômegas e minerais essenciais.
A planta cresce rapidamente, em cerca de 100 dias, e absorve grandes quantidades de CO₂, tornando-se aliada natural em programas de descarbonização e economia verde. Por essas características, diversos países — entre eles Estados Unidos, Canadá, França e China — já consolidaram cadeias produtivas de cânhamo para exportação, evidenciando o potencial brasileiro ainda inexplorado.
O cânhamo reúne todos os elementos de uma revolução agrícola: alta rentabilidade, sustentabilidade, versatilidade industrial e geração de empregos. A legalização e regulamentação de seu cultivo podem colocar o Brasil em uma posição estratégica na nova economia verde global. Em um país que já é potência agroambiental, o cânhamo pode ser a próxima grande fronteira — a planta capaz de transformar o campo e multiplicar o lucro do produtor rural.
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