
Originário da Hungria, o Mangalitsa impressiona pelo peso final que pode superar 500 kg em machos adultos e por produzir carcaças ricas em gordura de alta qualidade, muito valorizadas na charcutaria fina.
O mundo dos suínos é repleto de raças com características específicas para atender às demandas da produção de carne, banha e outros produtos. Entre todas elas, uma linhagem antiga e rústica chama a atenção por um aspecto em particular: o peso corporal final. Trata-se do Mangalitsa húngaro, reconhecido internacionalmente como a raça suína mais pesada do mundo.
Embora não seja a mais eficiente em termos de velocidade de crescimento ou rendimento de carne magra, o Mangalitsa impressiona por atingir pesos corporais superiores a 500 kg em machos adultos, além de gerar carcaças de até 180 kg, com altíssimo teor de gordura marmorizada.
Desenvolvido na Hungria no século XIX por meio do cruzamento de porcos domésticos locais com javalis, o Mangalitsa — também chamado de “porco peludo húngaro” devido à sua densa pelagem encaracolada — foi originalmente selecionado não para a produção de carne magra, como as linhagens modernas, mas sim para gerar gordura de altíssima qualidade.
Essa gordura, rica em sabor e textura, é o grande diferencial da raça e continua sendo valorizada especialmente na Europa, onde é usada na produção de embutidos finos, banha artesanal e presuntos curados de alto padrão.

Embora o Mangalitsa possa ultrapassar 300 kg com facilidade e até 500 kg em machos mantidos até a idade adulta plena (acima de 3 anos), seu crescimento é notoriamente lento. Um animal dessa raça pode levar mais de 12 meses para atingir 100 a 120 kg, patamar que raças comerciais alcançam em apenas 5 a 6 meses.
Como consequência, seu ganho diário de peso é inferior a 300 g, menos da metade do que se observa em raças como Pietrain ou Large White.
Apesar disso, seu rendimento de carcaça gira entre 70% e 75%, resultado da alta deposição de gordura subcutânea e visceral. Animais abatidos aos 14 a 18 meses de idade, com peso vivo entre 160 e 250 kg, geram carcaças de 120 a 180 kg. E não se trata de gordura qualquer: análises químicas mostram que a gordura do Mangalitsa é rica em ácidos graxos monoinsaturados, o que garante uma textura mais cremosa e um sabor inconfundível, ideal para produtos curados e maturados.

Se por um lado o Mangalitsa impressiona pelo peso, por outro ele é superado por outras raças em termos de eficiência produtiva. O Pietrain, por exemplo, apresenta ganho diário superior a 1.100 g, rendimento de carne magra acima de 68% e conversão alimentar excelente.
Já o Landrace e o Large White, pilares da suinocultura moderna, aliam rusticidade e crescimento rápido, alcançando 115 kg em cerca de 150 dias com ganhos médios superiores a 1.000 g/dia.
Ainda assim, nenhuma dessas raças se aproxima do peso final possível do Mangalitsa, que permanece como um símbolo da suinocultura tradicional europeia, onde o foco está na qualidade sensorial do produto final e não apenas em indicadores zootécnicos.
Nos últimos anos, a carne de Mangalitsa ganhou status de produto gourmet, sendo comparada ao wagyu entre os bovinos. Restaurantes de alta gastronomia na Europa, Japão e Estados Unidos valorizam seus cortes pela textura, suculência e complexidade de sabores proporcionada pela gordura intramuscular.

A produção, entretanto, é limitada e exige manejo especializado. Por isso, o Mangalitsa é criado em pequena escala, geralmente em sistemas de criação extensiva ou semiextensiva, com foco no mercado de nicho. Sua carne e derivados podem alcançar valores até cinco vezes superiores aos de raças convencionais, tanto no varejo quanto no atacado.
Apesar de estar longe dos padrões de produtividade da suinocultura moderna, o Mangalitsa húngaro ocupa um espaço único entre as raças suínas: é a mais pesada, uma das mais antigas em preservação ativa e um verdadeiro patrimônio gastronômico. Seu exemplo mostra que, na pecuária, peso e qualidade sensorial também podem andar juntos — desde que o objetivo seja atender aos paladares mais exigentes e aos mercados mais seletivos do mundo.
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