Carne inigualável: Com menos de 500 exemplares puros no mundo, o gado Pustertaler Sprinzen sobrevive graças ao empenho de criadores europeus e se destaca pela dupla aptidão e rusticidade incomum
Pustertaler Sprinzen, uma raça bovina extremamente rara, originária do Vale do Puster, na província autônoma de Bolzano, no norte da Itália. Também conhecido como Pustertaler (na Itália) ou Pustertaler Schecken (na Alemanha), este bovino de dupla aptidão – carne e leite – sobrevive em rebanhos limitados e chama atenção por sua carne marmorizada de alta qualidade, rusticidade e valor histórico-cultural.
A história da raça remonta a séculos de criação nos ambientes montanhosos do Tirol do Sul, onde sua resistência física e capacidade de adaptação garantiram sua preservação em áreas de difícil acesso. Ainda hoje, menos de 500 indivíduos puros existem no mundo, a maioria concentrada entre a Itália, Áustria e regiões específicas da Suíça e Alemanha.
A raça só passou a ser oficialmente registrada na Itália em 1994, e em 2015 foi incluída no livro genealógico suíço para gado de corte. Na Nova Zelândia, tentativas de introdução da raça ocorreram a partir de 2009, via embriões e sêmen importados da Alemanha, mas com presença ainda tímida.
Os animais são de porte moderado a grande, com pelagem branca marcada por grandes manchas pretas ou vermelho-amarronzadas ao longo dos flancos. As manchas podem variar: se forem grandes, a raça é chamada de “Schecken”; se pequenas, “Sprinzen”.
Os touros pesam entre 800 e 900 kg, com cerca de 140 cm de altura, enquanto as vacas variam de 500 a 650 kg e medem em média 130 cm na cernelha. Também são conhecidos por seus chifres curtos, abertos ou voltados para frente.
Um dos maiores atributos da raça está em sua longevidade e facilidade de parto. Vacas Pustertaler são reconhecidas por produzirem bezerros vigorosos, com alto ganho de peso diário, mesmo com dietas simples. Além disso, a produção de leite tende a aumentar a cada nova lactação, o que a torna viável também para sistemas mais tradicionais de produção leiteira.
No aspecto carniceiro, o Pustertaler Sprinzen impressiona. Sua carne apresenta marmoreio (marbling) acima da média, com gordura distribuída de forma uniforme entre as fibras musculares, o que resulta em maciez, suculência e sabor intensos. O aroma característico é outro diferencial, garantindo uma experiência sensorial valorizada pelos consumidores mais exigentes.
Essa qualidade tem sido documentada e valorizada por organizações como a Fondazione Slow Food, que ressalta a importância da preservação da raça e de seus produtos, sobretudo frente à padronização dos sistemas industriais.
O Pustertaler Sprinzen faz parte de um seleto grupo de dezesseis raças menores de gado italianas com difusão limitada, reconhecidas e protegidas pelo Ministero delle Politiche Agricole Alimentari e Forestali, o ministério da Agricultura da Itália. Em 2002, pesquisas genéticas mostraram grande semelhança entre o Pustertaler e a raça Barà (da província de Torino), o que levou à fusão oficial dos registros genealógicos de ambas.
Atualmente, o Pustertaler é utilizado sobretudo como gado de corte em sistemas mistos com vacas leiteiras, especialmente em propriedades familiares do Tirol do Sul, Áustria e Suíça. A preservação da raça só é possível graças a criadores comprometidos e associações de proteção genética, que têm mantido os rebanhos e difundido informações sobre o potencial zootécnico desse verdadeiro patrimônio vivo.
O gado Pustertaler Sprinzen não é apenas uma curiosidade entre as raças europeias — é símbolo de resistência, tradição e qualidade genética. Em tempos de busca por sustentabilidade, diversidade genética e alimentos premium, a valorização dessa raça se torna não apenas um resgate histórico, mas também uma estratégia de futuro para a produção de carne e leite com identidade.
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