Equipado com um traje anti-abelha feito pelo próprio dono, Boneco é um jumento apicultor que participa da colheita e do transporte de mel no sertão cearense, unindo proteção, logística e parceria no campo.
No município de Itatira, no sertão do Ceará, uma cena inusitada virou caso de estudo em criatividade funcional no campo. O jumento Boneco, companheiro de trabalho do apicultor Manuel Juraci, foi equipado com um traje protetor adaptado para prevenir picadas de abelhas, permitindo que o animal participe do transporte de caixas de mel com segurança.
Em áreas de alta atividade apícola, a exposição a enxames pode causar desde reação alérgica grave até ferimentos e estresse nos animais usados no deslocamento de caixas e insumos. Por isso, Juraci desenvolveu uma vestimenta específica para Boneco, com cobertura de cabeça e corpo, telas respiráveis e material que impede o contato com os insetos, seguindo o mesmo princípio dos trajes humanos de apicultor. A ideia eliminou o risco de ataques e permitiu que o trabalho continuasse sem prejuízo ao animal.
A topografia da região é seca, irregular e de difícil acesso a veículos. É nesse cenário que Boneco se torna peça logística. Mesmo em terrenos áridos e estradas precárias, ele garante o transporte das cargas de mel até os pontos de coleta e beneficiamento. Segundo Juraci, a dupla chega a colher até nove litros de mel por dia, volume superior ao que muitos apicultores individuais conseguem produzir.
Para a Associação de Produtores de Mel da região — que reúne cerca de 120 apicultores — a solução despertou interesse imediato. A entidade já estuda produzir mais trajes para outros jumentos, implementando uma prática que une produtividade, cuidado e respeito animal.
Apesar da eficiência do traje, Manuel Juraci destaca um detalhe que não pode ser replicado em fábrica: confiança. Para ele, o sucesso está tanto na roupa quanto na amizade e lealdade entre ele e Boneco, que acompanha o dono há anos no sertão. “Não é só proteção, é parceria”, diz ele.
O caso de Boneco exemplifica um conceito crescente no agro contemporâneo: inovação viável na pequena escala, feita com os recursos disponíveis, sem perder de vista bem-estar, segurança e resultado econômico.
No sertão cearense, entre caatingas, abelhas e estradas difíceis, um jumento equipado e um apicultor obstinado provaram que tecnologia não é apenas o que vem da indústria, às vezes, ela veste couro, pano, tela e anda em quatro patas.
Quer ficar por dentro do agronegócio brasileiro e receber as principais notícias do setor em primeira mão? Para isso é só entrar em nosso grupo do WhatsApp (clique aqui) ou Telegram (clique aqui). Você também pode assinar nosso feed pelo Google Notícias.
