
Raça francesa, conhecida pela beleza e resistência, tem origem anterior às Cruzadas e hoje é símbolo de uma luta pela preservação genética. Conheça o cavalo Boulonnais
Na costa norte da França, mais precisamente na região de Boulogne-sur-Mer, nasceu uma das mais antigas e majestosas raças de cavalos de tração da Europa: o cavalo Boulonnais, também conhecido como White Horse Marble — ou “Cavalo de Mármore Branco”, em alusão à sua pelagem clara e musculatura esculpida que lembram estátuas vivas. A raça, marcada por sua imponência, elegância e temperamento dócil, guarda séculos de história, tradição e serviço ao campo europeu. Mas, hoje, enfrenta um dos maiores desafios de sua existência: a ameaça da extinção.
A história do Boulonnais remonta à Antiguidade. Há registros que indicam a presença de seus ancestrais durante a invasão da Gália pelos exércitos de Júlio César, o que faz desta uma das raças mais antigas do continente. Durante os séculos seguintes, o cavalo da região de Boulogne foi aprimorado por meio de cruzamentos seletivos com raças orientais, como o Árabe, o Barb e o Andaluz, especialmente durante e após as Cruzadas e o Renascimento, moldando o padrão moderno da raça: um animal grande, musculoso, com linhas suaves e presença marcante.
Antigamente, existiam subtipos regionais do Boulonnais, adaptados a diferentes tipos de trabalho rural. No entanto, com o tempo, esses subtipos foram sendo unificados por meio de cruzamentos até restar o tipo único que se conhece atualmente.
O Boulonnais mede entre 1,55 m e 1,80 m de altura na cernelha, possui um corpo largo e compacto, peito profundo, membros fortes e bem articulados, além de franjas de pelos nas pernas que reforçam sua imponência. A pelagem é geralmente cinza ou branca, embora o registro francês da raça também permita tonalidades castanhas ou pretas, embora essas sejam muito mais raras.
Apesar de seu porte robusto, o Boulonnais é amplamente reconhecido por seu temperamento dócil, inteligente e cooperativo. Essa combinação de força física e personalidade tranquila o torna ideal não apenas para tração pesada, mas também para atividades de lazer, apresentações cerimoniais, reprodução seletiva e provas de exibição.
Por séculos, o Boulonnais foi uma peça-chave na agricultura do norte da França. Arações profundas em terrenos difíceis, transporte de cargas pesadas e até o trabalho nos delicados vinhedos da região dependiam da força e resistência deste animal. Era um companheiro incansável dos agricultores e vinicultores franceses.

Mesmo com o avanço das máquinas agrícolas, a raça encontrou novas formas de se manter relevante. Hoje, o cavalo Boulonnais tem ganhado espaço em projetos de agricultura sustentável, que valorizam práticas menos agressivas ao meio ambiente e que integram o uso de animais em atividades rurais de maneira consciente. Além disso, sua imponência estética faz dele uma atração em desfiles, concursos e exposições.
A despeito de sua importância histórica e genética, o Boulonnais está hoje classificado como uma raça vulnerável. Estima-se que existam apenas alguns milhares de exemplares registrados, e esse número está em declínio. A modernização das práticas agropecuárias e a substituição dos cavalos por máquinas contribuíram para a redução drástica da criação.
Para enfrentar esse desafio, diversas associações francesas e europeias têm se mobilizado para promover a conservação do cavalo Boulonnais, incentivando a reprodução responsável, o aumento da variabilidade genética e a conscientização do público sobre o valor histórico da raça. Feiras agrícolas, programas de incentivo ao criador e registros genealógicos rigorosos fazem parte dessa mobilização.

Apesar das adversidades, o cavalo Boulonnais resiste. Ele não é apenas um cavalo de tração: é um símbolo vivo da tradição camponesa, da força silenciosa do campo europeu e da beleza esculpida ao longo dos séculos. Sua permanência é uma prova da dedicação de criadores apaixonados e do valor de preservar a diversidade genética equina.
Enquanto o tempo avança e o mundo rural se transforma, o cavaloBoulonnais segue firme como um elo entre passado e futuro — com os cascos firmes no chão e a cabeça erguida, como se soubesse que carrega nas veias a memória viva da história da humanidade.
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