
Visionário paulista do século XIX, Luiz Vicente de Souza Queiroz investiu sua fortuna pessoal para fundar a instituição que se tornaria referência na formação de líderes do agronegócio nacional: a ESALQ/USP.
A história do agronegócio brasileiro está diretamente ligada à trajetória de homens que, muito além de acumular riquezas, tiveram a ousadia de sonhar grande e transformar sua realidade. Um desses nomes é Luiz Vicente de Souza Queiroz, fazendeiro paulista que, no final do século XIX, dedicou sua vida e sua fortuna para criar a escola que se tornaria um dos maiores centros de excelência em ciências agrárias do país: a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ/USP), localizada em Piracicaba (SP).
Nascido em 1849, em Limeira (SP), Luiz de Queiroz era neto de grandes fazendeiros e filho de senador do Império, o que lhe garantiu uma infância cercada de privilégios no auge da elite cafeeira paulista. Como era costume da época entre famílias abastadas, foi enviado ainda criança à Europa para estudar.
Na França, frequentou a Escola de Agricultura de Grignon, uma das mais prestigiadas do continente, e depois seguiu para a Suíça, onde estudou em Zurique. Essa vivência no Velho Mundo marcou profundamente sua visão sobre o papel da educação e da ciência na modernização da agricultura.
De herdeiro a empreendedor
Com a morte do pai, em 1872, Luiz herdou a Fazenda Engenho d’Água, em Piracicaba. Ali, demonstrou sua visão empreendedora: instalou uma fábrica de tecidos, aproveitando a força do rio Piracicaba, e integrou a produção agrícola à industrialização. Sua fazenda cultivava algodão e sua fábrica o transformava em tecidos, modelo inovador para a época.
Essa iniciativa aumentou sua fortuna e permitiu que realizasse outras ações sociais de impacto: construiu uma vila operária, arborizou Piracicaba e chegou a ajudar escravos fugidos, em um período ainda marcado pela escravidão no Brasil.
Apesar de sua prosperidade, Luiz de Queiroz tinha um projeto mais ambicioso: fundar uma escola agrícola no Brasil nos moldes das que conheceu na Europa. Convicto de que o futuro da agricultura nacional passava pela ciência e pela formação técnica, em 1889 comprou a Fazenda São João da Montanha, com 319 hectares, considerada ideal para sediar seu projeto.
Não poupou esforços: encomendou o projeto arquitetônico na Europa, trouxe professores e arquitetos dos Estados Unidos e decidiu morar na antiga casa da fazenda para acompanhar de perto as obras.

Dificuldades e doação ao governo
A empreitada, no entanto, exigia recursos vultosos. Diante das dificuldades financeiras, Luiz pediu auxílio ao governo do Estado de São Paulo, mas foi recusado duas vezes. Sem desistir, decidiu doar a fazenda e todas as benfeitorias ao governo, com a condição de que a escola fosse concluída em até dez anos.
Infelizmente, os trabalhos caminharam lentamente e foram interrompidos sob a justificativa de “cortar gastos do governo”. Luiz de Queiroz faleceu em 1898, sem ver concretizado o seu sonho.
Apenas em 1901, três anos após sua morte, foi inaugurada a Escola Prática Luiz de Queiroz, homenagem póstuma ao seu fundador. Décadas depois, em 1934, a instituição se consolidou como a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ), tornando-se uma das sete escolas fundadoras da Universidade de São Paulo (USP).
Desde então, a ESALQ se consolidou como referência mundial em ciências agrárias, formando grandes líderes, pesquisadores e profissionais que moldaram o agronegócio brasileiro, hoje um dos pilares da economia nacional.

Luiz Vicente de Souza Queiroz: Um legado vivo no agronegócio
A trajetória de Luiz de Queiroz mostra que grandes legados nascem de visão, sacrifício pessoal e compromisso com o futuro. Mais do que um fazendeiro próspero, ele foi um pioneiro que compreendeu o papel do conhecimento como motor de transformação social e econômica.
Graças à sua dedicação, o Brasil ganhou uma instituição que até hoje influencia a produção agropecuária e a pesquisa científica no campo, fazendo de Piracicaba um polo de excelência conhecido internacionalmente.
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