Conheça o gado Abigar, o imponente bovino africano criado por tribos nômades

Criado há séculos nas regiões do Sudão do Sul e da Etiópia, o gado Abigar se destaca por seus chifres longos, rusticidade, resistência a doenças e importância cultural entre os povos nilóticos.

Um gigante das savanas africanas, moldado pela cultura e resistência. É assim que pode ser definido o gado Abigar, raça bovina originária da África Oriental, criada principalmente por povos tradicionais da Etiópia e do Sudão do Sul. Mais do que uma fonte de leite ou carne, o Abigar carrega um importante valor simbólico, econômico e de sobrevivência para as comunidades nômades que o manejam há séculos.

Com uma estimativa populacional de mais de 550 mil animais, a raça continua firme em sua função multifuncional: produção leiteira, fornecimento de carne para rituais e, mais recentemente, força de trabalho no campo.

O Abigar é classificado como um gado do tipo “sanga”, grupo genético africano que apresenta características intermediárias entre raças zebuínas e taurinas. A subvariedade mais conhecida é o gado Nuer, criado em uma vasta região que compreende o sudeste do Sudão do Sul e o sudoeste da Etiópia, especialmente na região de Gambella, em distritos como Akobo, Itang e Jekaw.

A raça é manejada por tribos nilóticas tradicionais como os Dinka, Nuer, Shilluk e Anuak, para quem o gado tem profundo significado cultural e social. Nestas comunidades, o Abigar é parte essencial de cerimônias e práticas tradicionais, além de representar riqueza, status e sobrevivência.

Foto: Divulgação

O Abigar impressiona à primeira vista por sua estatura elevada e conformação robusta. Dentre as principais características, destacam-se:

  • Costas e garupa quase retas, com boa circunferência torácica e flancos profundos.
  • Cabeça de perfil reto e chifres extremamente longos, geralmente projetados para cima e para fora, embora haja variações.
  • Pelagem branca, cinza ou fulvo claro, muitas vezes com manchas vermelhas ou pretas.
  • Barbela longa (24-30 cm) e corcova discreta, o que o diferencia dos zebuínos etíopes.
  • Peso corporal que pode atingir 550 kg em condições normais.

Essa conformação confere ao gado Abigar uma presença imponente e adaptada ao manejo em campo aberto.

Embora não esteja entre as raças de maior produtividade, o Abigar apresenta produção média diária de leite entre 3 e 5 litros, com média de 750 kg por lactação e teor de gordura butírica em torno de 6,5%, segundo Faulkner e Epstein (1957). A carne, por sua vez, é utilizada principalmente em cerimônias tradicionais, e o sangue de touros jovens era, no passado, consumido em certas ocasiões rituais.

Foto: Divulgação

Com a chegada de novas tribos à região de Gambella, os bois Abigar também passaram a ser utilizados para o arado, tornando-se animais de tração adaptados ao trabalho agrícola.

A criação do gado Abigar é majoritariamente realizada em sistemas extensivos e nômades, com pastoreio livre e ausência de instalações modernas. A sanidade do rebanho é mantida com métodos tradicionais, como:

  • Defumação contra parasitas externos.
  • Polvilhamento com cinzas para controle de pragas.
  • Uso de pastagens naturais e tratamentos fitoterápicos.
Foto: Divulgação

Essa rusticidade confere à raça uma resistência significativa ao ambiente hostil, embora os estudos indiquem apenas uma tolerância parcial à tripanossomíase, doença comum na zona infestada pela mosca tsé-tsé. Pesquisas em andamento mostram que, nesse aspecto, a raça é inferior a outras etíopes como a Sheko e a Horro, no controle da parasitemia.

Apesar de não estar ameaçada de extinção, a raça exige atenção. O governo da região de Gambella, na Etiópia, já conduz um projeto de conservação e melhoramento genético para assegurar a continuidade e o aprimoramento do Abigar.

Por outro lado, a situação da raça no Sudão do Sul é incerta, devido à instabilidade política e à escassez de dados atualizados. No entanto, o gado continua sendo parte vital das populações tradicionais.

O gado Abigar é muito mais do que um animal de produção: é símbolo de identidade, cultura e adaptação às condições mais adversas da África Oriental. Suas características físicas, aliadas à sua resistência e utilidade multifuncional, o colocam entre as raças bovinas africanas mais notáveis do continente. Ao mesmo tempo, sua preservação depende de políticas de valorização dos saberes tradicionais, incentivo à pecuária sustentável e proteção de seu habitat natural.

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