Conheça o Karakul, uma raça ovina milenar que vem revolucionando o setor no Brasil

Rusticidade, pele valiosa e cauda adiposa fazem do Karakul uma promessa para a nova ovinocultura brasileira; Nova frente de valorização da raça tem apoio da Associação Brasileira de Criadores de Ovinos (ARCO)

O Brasil assiste a um movimento silencioso, mas promissor, de resgate e valorização de uma raça ovina que atravessou milênios e continentes: o Karakul. Com registros de criação datados de 1400 a.C., essa raça de origem asiática volta a ganhar espaço no país graças à sua resistência, adaptabilidade e potencial produtivo, características ideais para o enfrentamento de desafios ambientais e econômicos enfrentados pela ovinocultura nacional.

Origem milenar e prestígio internacional

Natural das regiões áridas da Ásia Central — como o atual Uzbequistão, norte do Irã e do Afeganistão —, o Karakul é considerado uma das raças ovinas mais antigas do mundo. Tradicionalmente criado em áreas de clima seco e solo pobre, o Karakul é reconhecido por sua capacidade de adaptação a ambientes hostis e por produzir uma das peles mais nobres da indústria de moda: a “astrakan”, extraída de cordeiros abatidos nos primeiros três dias de vida.

A pelagem, que levou o nome da cidade russa de Astrakhan, tornou-se símbolo de luxo na Europa e em outros mercados de alta-costura, sendo utilizada na confecção de casacos, gorros e acessórios sofisticados.

Anatomia peculiar e resistência extrema

O Karakul pertence ao grupo dos ovinos de cauda larga adiposa. A cauda, também chamada de “cola”, armazena gordura e serve como reserva energética durante os períodos de escassez alimentar — recurso vital em regiões áridas. Segundo contou ao Canal do Criador, Ramiro Oliveira, criador da Cabanha da Divisa, essa característica garante ao animal autossuficiência nutricional em tempos difíceis: “É dela que o Karakul se alimenta quando o pasto escasseia”, explica.

A raça ainda se destaca por seu baixo custo de manutenção, resistência a enfermidades (como verminoses e foot rot) e conformação corporal distinta: corpo piriforme, membros longos, pescoço fino e cauda em formato de lira com terminação em “S”, que pode pesar mais de 6 kg.

Diversidade de pelagens e lã mista

O Karakul apresenta várias variedades de pelagem, determinadas pela cor e tipo de pelo:

  • Arabi: preto intenso, a mais comum;
  • Shiras: tons de cinza, do claro ao azulado;
  • Konbar: marrom, do bege ao café;
  • Sur: reflexos metálicos em tons de ouro, platina e bronze;
  • Guligas (Halili): nuances rosadas e lilás, com pelos marrons e brancos misturados.

Seu velo é composto por lã mista, reunindo fibras compridas e grossas (até 20 cm) e fibras finas mais curtas. Essa combinação é ideal para a produção de peças têxteis rústicas e duráveis, mas o principal foco continua sendo a pele dos cordeiros recém-nascidos.

Resgate da raça no Brasil: do esquecimento à nova aposta

A história do Karakul no Brasil remonta a 1914, quando exemplares chegaram via Argentina, e depois em 1931, com a importação para o Rio Grande do Sul pelo diplomata e agrônomo Assis Brasil. Apesar do início promissor, a criação da raça acabou reduzida ao longo das décadas, quase desaparecendo.

Foto: Divulgação/Cabanha da Divisa

Hoje, a Cabanha da Divisa lidera uma nova frente de valorização da raça, com apoio da Associação Brasileira de Criadores de Ovinos (ARCO). Foram resgatados registros genealógicos e reativadas estratégias de comercialização de reprodutores, inclusive voltadas para o cruzamento industrial em regiões do Norte do país, onde as condições adversas favorecem raças rústicas.

Karakul e o futuro da ovinocultura brasileira

Os estudos atuais buscam comprovar a viabilidade econômica do Karakul em diferentes biomas e sistemas de produção. A meta é aproveitar sua rusticidade para melhorar o desempenho de cruzamentos comerciais, tornando a atividade mais sustentável e acessível.

Foto: ARCO

Além do aproveitamento da pele, que ainda desperta interesse internacional, a carne do Karakul é apreciada por seu sabor e baixo teor de gordura, ampliando o leque de oportunidades comerciais.

“A rusticidade passada aos cordeiros reduz o custo de produção e amplia a viabilidade econômica da atividade”, afirma Ramiro Oliveira, reforçando que a raça pode ser um diferencial importante para pecuaristas que enfrentam limitações estruturais ou climáticas.

Foto: ARCO

Karakul: Uma alternativa viável, rara e estratégica

Pouco conhecida pelos criadores brasileiros, a raça Karakul representa um elo entre tradição e inovação. Sua história milenar, aliada à capacidade de resiliência, rusticidade e baixo custo, a torna uma alternativa inteligente para a construção de sistemas produtivos mais sustentáveis e resilientes.

No momento em que o agronegócio brasileiro busca diversificação genética, adaptação às mudanças climáticas e redução de custos, o Karakul ressurge como símbolo de resistência e oportunidade. A aposta agora é de que essa raça rara, que sobreviveu aos desertos da Ásia, também encontre um novo fôlego nos campos do Brasil.


Com informações do canaldocriador.com.br e arcoovinos.com.br

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