John Landers foi o grande mentor do Plantio Direto no Cerrado. Descubra como o agrônomo britânico tropicalizou a agricultura, combateu a erosão e garantiu a sustentabilidade do agro brasileiro
Se hoje o bioma do Centro-Oeste é reconhecido mundialmente como o celeiro do país, batendo recordes sucessivos de produtividade, muito se deve à visão de um homem que transformou a maneira de cultivar a terra. O agrônomo britânico John Nicholas Landers (1932–2019) não foi apenas um pesquisador; ele foi o verdadeiro mentor do Plantio Direto no Cerrado, liderando uma revolução que salvou o solo brasileiro da degradação e garantiu a viabilidade econômica do agronegócio na região.
Enquanto o pioneiro Herbert Bartz iniciava os testes no Paraná em 1972, Landers assumiu uma missão distinta e complexa: tropicalizar o sistema. Ele precisava adaptar as técnicas de conservação de solo para as condições edafoclimáticas desafiadoras do Centro-Oeste. A consolidação do Plantio Direto no Cerrado foi a resposta definitiva para produzir alimentos em larga escala sem destruir o meio ambiente.
Quem foi o mentor dessa transformação?
Nascido em Watford, na Inglaterra, John Landers desembarcou no Brasil com uma bagagem técnica robusta, formada pela Universidade de Reading e com especialização em irrigação na Califórnia. No entanto, foi a partir de 1973, atuando no coração do Brasil, que sua trajetória se fundiu à história do Plantio Direto no Cerrado.
Landers percebeu rapidamente que a pesquisa acadêmica precisava chegar ao homem do campo. Sua atuação na Embrapa Cerrados foi marcada pela extensão rural. Ele entendia que, para mudar a cultura do “arado e da grade”, era necessário união. Foi com esse espírito que, em 1992, ele fundou a Associação de Plantio Direto no Cerrado (APDC). A entidade foi fundamental para disseminar conhecimento técnico, validar máquinas e convencer produtores de que a palhada sobre o solo não era “sujeira”, mas sim adubo e proteção.
O reconhecimento de sua obra veio em vida: Landers recebeu o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal de Goiás (UFG) e a prestigiada Ordem do Império Britânico (OBE).
O desafio antes do Plantio Direto no Cerrado

Para entender a magnitude do legado de Landers, é preciso olhar para o passado. Antes da adoção massiva do Plantio Direto no Cerrado, a agricultura na região vivia um cenário de quase colapso ambiental e custos insustentáveis. O manejo convencional provocava:
- Erosão Severa: As chuvas intensas lavavam a terra arada, criando voçorocas e assoreando rios.
- Compactação do Solo: O uso excessivo de grades pesadas criava o “pé-de-grade”, uma camada dura que impedia a infiltração de água.
- Baixa Fertilidade: A matéria orgânica era oxidada rapidamente pelo sol escaldante, exigindo doses cada vez maiores de fertilizantes químicos.
A introdução do Plantio Direto no Cerrado por Landers e sua equipe estancou essa sangria, provando que era possível produzir “na palha” com maior eficiência.
Comparativo: Impacto Econômico no Bolso do Produtor
A mudança não foi apenas ecológica, mas financeira. Veja como o sistema defendido por Landers supera o modelo antigo:
| Indicador | Manejo Convencional (Antigo) | Sistema Plantio Direto (Atual) | Vantagem Competitiva |
| Combustível | Alto consumo (aragem/gradagem). | Baixo consumo: Menos passadas de trator. | Economia de até 60% no diesel/ha. |
| Tempo Operacional | Lento: Preparo leva semanas. | Ágil: Plantio direto sobre a palha. | Otimização da janela de safra. |
| Maquinário | Desgaste alto de peças e pneus. | Vida útil estendida dos equipamentos. | Menor custo de manutenção. |
| Resiliência | Perda total em veranicos curtos. | Alta retenção de água no solo. | Segurança na safrinha. |
Os 3 Pilares que sustentam o sucesso
A metodologia que Landers ajudou a adaptar para os trópicos baseia-se em três princípios inegociáveis. Para que o Plantio Direto no Cerrado funcione plenamente, o produtor deve seguir o tripé:
- Mínimo revolvimento do solo: A terra não é revolvida. O plantio é feito em sulcos estreitos, preservando a estrutura biológica e os canais formados por raízes antigas.
- Cobertura permanente (Palhada): O solo deve estar sempre coberto por resíduos vegetais ou plantas em crescimento. Isso reduz a temperatura do solo (crucial no Cerrado) e evita a erosão eólica e hídrica.
- Rotação de culturas: A alternância de espécies (como soja, milho e braquiária) quebra ciclos de pragas e promove a reciclagem de nutrientes em diferentes profundidades do solo.
O legado de John Landers para o futuro
A contribuição de John Landers transcende os limites técnicos. Ele estabeleceu uma filosofia de produção que serviu de base para evoluções mais recentes, como a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF).
Graças ao trabalho incansável deste mentor, o Brasil saiu de uma agricultura degradante nos anos 70 para se tornar líder mundial em tecnologia tropical. O livro “A História do Plantio Direto no Cerrado”, escrito por ele, registra como a persistência venceu o ceticismo.
Hoje, ao observar uma lavoura vigorosa de soja crescendo sobre a palha seca no Centro-Oeste, estamos vendo o legado vivo de John Nicholas Landers. O Plantio Direto no Cerrado não apenas aumentou a produtividade: ele ensinou ao mundo que preservar o solo é a única forma de garantir o futuro da alimentação.
Escrito por Compre Rural
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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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