Conheça o Rätisches Grauvieh: A raça de gado que sobreviveu ao tempo

O Rätisches Grauvieh é hoje considerado uma raça em risco, com número restrito de animais e vulnerabilidade genética

Em meio às encostas íngremes e aos pastos escassos dos Grisões, no leste da Suíça, uma raça bovina desenvolveu, ao longo dos séculos, características de rusticidade e resistência que a tornaram símbolo de superação: o Rätisches Grauvieh. Com pelagem cinza característica, tamanho compacto e uma impressionante capacidade de adaptação, esses animais se tornaram essenciais para a subsistência de famílias camponesas em ambientes desafiadores.

O nome da raça é uma homenagem direta à antiga província romana da Récia, região que, historicamente, compreendia os Alpes Réticos — o mesmo território onde esses bovinos enfrentaram o frio, as ladeiras e a escassez de alimento por gerações.

Origem e trajetória: da quase extinção ao resgate genético

Até o início do século XX, a população bovina dos Grisões era composta por duas linhagens principais do Tiroler Grauvieh: o tipo Oberländer, maior e mais pesado, e o tipo Albula, de porte menor e mais adaptado a terrenos difíceis. Ambos os tipos eram conhecidos por sua tripla aptidão: forneciam tração animal, leite e carne, o que os tornava extremamente valiosos para os produtores locais.

No entanto, na década de 1920, a introdução e o crescimento do rebanho Braunvieh, uma raça de maior produtividade leiteira, levaram à absorção e quase desaparecimento do Rätisches Grauvieh. Foi apenas em 1985, após décadas de declínio, que a organização suíça ProSpecieRara iniciou um projeto de recuperação da raça, com a introdução de animais do tipo Albula, vindos da Áustria, geneticamente semelhantes aos originais.

O resultado desse esforço de conservação foi a formação de uma nova base populacional, que, segundo dados de 2015, já contava com cerca de 2.000 exemplares registrados.

Características morfológicas: Rusticidade em cada centímetro

O Rätisches Grauvieh impressiona por sua estrutura compacta e funcional. Os machos atingem altura entre 120 e 128 cm, com peso variando de 550 a 750 kg. Já as fêmeas apresentam altura de 119 a 126 cm, com peso médio entre 350 e 500 kg. A pelagem cinza é uma de suas marcas mais reconhecíveis, conferindo proteção térmica natural, essencial para as variações climáticas dos Alpes.

Mas o grande diferencial da raça está na sua capacidade de adaptação a pastagens de baixa qualidade e terrenos montanhosos, mantendo boa conversão alimentar e resistência a doenças típicas de ambientes de altitude.

Foto: https://www.heumilch.com

Produção e versatilidade: Dupla aptidão com foco em eficiência

Embora seja uma raça de menor porte quando comparada a outras europeias, o Rätisches Grauvieh apresenta boa produtividade de leite, com destaque para o alto teor de gordura, muito valorizado na produção de queijos artesanais típicos da Suíça. Na produção de carne, o animal oferece carcaças com bom acabamento, carne de textura macia e sabor pronunciado, características cada vez mais apreciadas por nichos de mercado gourmet.

Essa dupla aptidão permite que pequenos e médios produtores tenham flexibilidade na exploração econômica do rebanho, com ganhos tanto na pecuária de leite quanto na de corte.

Conservação genética: Uma questão de biodiversidade e segurança alimentar

O Rätisches Grauvieh é hoje considerado uma raça em risco, com número restrito de animais e vulnerabilidade genética. Por isso, iniciativas como as da ProSpecieRara, além de bancos genéticos e programas de cruzamento controlado, são fundamentais para evitar a perda definitiva desse patrimônio zootécnico.

A rusticidade, longevidade e eficiência alimentar do Rätisches Grauvieh também têm despertado o interesse de criadores fora da Europa, especialmente em projetos voltados à produção sustentável e à preservação de raças adaptadas a condições extremas.

O que o Brasil pode aprender com o Rätisches Grauvieh?

Embora o cenário climático dos Alpes Suíços seja distinto do brasileiro, algumas regiões de altitude ou com clima mais rigoroso, como partes da Serra da Mantiqueira, do Sul de Minas ou da Serra Gaúcha, poderiam se beneficiar de raças com genética voltada à resistência, eficiência alimentar e produção em sistemas extensivos ou agroecológicos.

O conceito de trabalhar com raças de dupla aptidão, resistentes e com baixa exigência nutricional, também encontra sinergia com os projetos de pecuária sustentável e de baixo carbono, cada vez mais incentivados por políticas públicas e pelo mercado consumidor.

Conclusão: Valorizar o passado para construir o futuro da pecuária

O Rätisches Grauvieh representa mais do que um rebanho de características exóticas. Ele simboliza a capacidade de adaptação, a resiliência genética e o potencial de produção eficiente em condições adversas. Em tempos em que a sustentabilidade e a segurança alimentar se tornam pautas centrais no agronegócio, conhecer e preservar raças como essa é investir na diversidade genética que pode garantir o futuro da produção bovina mundial.

Escrito por Compre Rural

VEJA MAIS:

ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira

Quer ficar por dentro do agronegócio brasileiro e receber as principais notícias do setor em primeira mão? Para isso é só entrar em nosso grupo do WhatsApp (clique aqui) ou Telegram (clique aqui). Você também pode assinar nosso feed pelo Google Notícias

Não é permitida a cópia integral do conteúdo acima. A reprodução parcial é autorizada apenas na forma de citação e com link para o conteúdo na íntegra. Plágio é crime de acordo com a Lei 9610/98.

Siga o Compre Rural no Google News e acompanhe nossos destaques.
LEIA TAMBÉM