
Fruto símbolo do Cerrado brasileiro, o pequi reconstrói sua imagem como ativo econômico e nutricional — com recordes, inovação genética e expansão de mercado
Na culinária da região central do país, o pequi move paixões e polariza opiniões. Há quem evite seu odor intenso, mas há também quem não dispense seu sabor característico no tradicional arroz com pequi. Agora, o “ouro do Cerrado” volta ao centro das atenções por uma façanha inédita: o maior pequi já registrado no Brasil, pesando 2,482 kg, colhido em 11 de dezembro de 2024, na Fazenda Recanto dos Guerreiros, em Pontal do Araguaia (MT).
Mais do que um símbolo cultural, essa conquista reforça o potencial econômico do fruto, que passa por transformações, inovações e busca por mais competitividade no mercado nacional e internacional.
Um recorde que valoriza o agro regional
A produção do fruto excepcional ficou a cargo da família Aleximar Parreira Sia, cuja dedicação resultou no reconhecimento do fruto pelo RankBrasil. O empenho incluiu manejo do solo, seleção genética e técnicas de cultivo aprimoradas, demonstrando que o pequi pode deixar os limites da produção extrativista e migrar para sistemas mais padronizados e rentáveis.
Pequi funcional: comprovação científica e saúde
Estudos recentes indicam que o óleo de pequi tem potencial para proteger rins, coração e fígado, além de modular inflamação e metabolismo lipídico. Testes em animais mostraram redução de marcadores inflamatórios e proteção do tecido renal, reforçando hipóteses sobre ação nefroprotetora.
Adicionalmente, compostos bioativos do fruto já foram associados a efeitos antioxidantes, anti-inflamatórios, redução de colesterol LDL e até ação contra lesões hepáticas. Apesar dos resultados promissores, especialistas enfatizam que ainda são necessários ensaios clínicos em humanos para confirmar eficácia, dose segura e mecanismos de ação.
Mercado do pequi: preços, produção e exportações
Produção nacional e escala
Segundo dados do IBGE, a extração de pequi em 2021 ultrapassou 74 mil toneladas, com Minas Gerais respondendo por mais da metade da produção nacional. Goiás, Tocantins e estados do Centro-Oeste lideram o restante da produção.
Em termos de produtividade per plant, cultivares mais recentes como a GOBRS 103 entregam cerca de 40 kg de fruto por planta por ano. Já a cultivar GOBRS 201 (com espinhos) alcança produtividade média de 85 kg por planta, segundo fontes de divulgação.

Preços de mercado
No varejo e atacado, encontram-se ofertas variadas:
- Pequi descascado (qualidade média): aproximadamente R$ 40.000,00 por tonelada em alguns anúncios.
- Pequi congelado em cooperativa (pacotes de 300 g): fardo com 50 pacotes custa cerca de R$ 390,56, o que equivale a aproximadamente R$ 13,02 por kg.
- Pequi embalado a vácuo (450 g) é vendido por R$ 15,00, o que indica valor agregado para produtos prontos para consumo.
- No mercado internacional (lojas online), por exemplo, 500 g de pequi em caroço congelado é ofertado a US$ 14,99 (~R$ 80-90, dependendo da cotação).
Esses valores mostram que o produto já pode atingir preços compatíveis com nichos gourmet ou exóticos, dependendo da agregação de valor, logística e certificações.
Exportação e oportunidades
Embora ainda incipiente, o pequi já aparece em lojas especializadas no exterior, especialmente em versões congeladas ou em conserva. Por exemplo, há oferta de pequi congelado no mercado americano.
O principal desafio para escalonamento da exportação é a padronização, certificação de origem, rotulagem fitossanitária e adequação às normas internacionais. Se superados, o pequi pode disputar espaço em nichos de frutos tropicais, cosméticos e ingredientes funcionais.
A revolução do pequi sem espinhos
Depois de quase 25 anos de pesquisa, a Embrapa em parceria com a Emater-GO lançou seis novas cultivares de pequi, sendo três sem espinhos. Esse avanço representa grande salto tecnológico para a fruticultura do Cerrado.
As cultivares sem espinhos (GOBRS 101, 102 e 103) mantêm os atributos desejáveis da polpa — aroma, sabor e teor de óleo —, mas eliminam os riscos ao manipular o caroço espinhoso. Isso facilita o consumo, reduz acidentes e abre portas para mecanização no processamento e uso industrial intensificado.
A cultivar GOBRS 103 se destaca por apresentar polpa espessa (7 a 8 mm), característica que favorece extração e uso agroindustrial.

Com o registro no Ministério da Agricultura (MAPA) e a distribuição de mudas aos produtores, o pequi sem espinho está começando a se disseminar comercialmente, embora ainda em escala limitada.
Oportunidades e desafios para consolidar o mercado
A introdução do pequi sem espinho e o recorde de fruto gigantesco oferecem novos argumentos para fortalecer toda a cadeia — da produção à exportação. Alguns pontos para atenção:
- Investimento em pesquisa de pós-colheita, para garantir vida útil, conservação e transporte internacional.
- Certificação de origem e rastreabilidade, importantes para mercados exigentes.
- Incentivo à agroindustrialização local, agregando valor por meio de polpas, óleos, extratos e cosméticos.
- Capacitação dos produtores, para manejo e cultivo das novas cultivares.
- Promoção e marketing internacional, destacando o pequi como fruto exótico do Cerrado com apelo funcional.
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