Crédito caro, prazos curtos e promessas insuficientes: a conta que sobra para o produtor rural

O governo anunciou, nas últimas semanas, duas medidas de impacto para o setor: o Plano Safra 2025/26 e o pacote de socorro ao tarifaço de exportações. Apesar do tom otimista das divulgações oficiais, especialistas e lideranças do agro alertam: as ações estão longe de atacar as raízes dos problemas

O novo Plano Safra foi apresentado com cifras bilionárias e promessa de fortalecimento da produção agropecuária. Mas, como aponta o advogado especialista em direito do agronegócio, Dr. Marco Paiva, o número estampado nos jornais é apenas parte da história.

“Quando olhamos além do anúncio, vemos juros que podem ultrapassar 12% ao ano e prazos que não condizem com o ciclo real da produção. Para quem já está descapitalizado ou com restrições, o crédito não passa de uma vitrine. O produtor assina acreditando em expansão, mas, sem estratégia de fluxo de caixa e proteção jurídica, corre o risco de ampliar o endividamento em vez de gerar crescimento.”

Segundo o especialista, a burocracia para acessar os recursos e as limitações impostas pelos protocolos bancários fazem com que boa parte do montante anunciado fique inacessível justamente para quem mais precisa. “O crédito rural, para ser saudável, precisa estar alinhado à margem de lucro real do produtor, e não apenas a metas políticas”, reforça.

Crédito caro, prazos curtos e promessas insuficientes: a conta que sobra para o produtor rural
Foto: Compre Rural

Pacote contra o tarifaço: alívio imediato, efeito limitado

Outro anúncio recente foi o pacote para amenizar os impactos do tarifaço nas exportações, medida que a FAESP (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo) considerou insuficiente para cobrir as necessidades do setor.

O presidente da entidade, Tirso Meirelles, lembrou que os juros bancários e as taxas atuais são alguns dos maiores do mundo, inviabilizando a competitividade internacional.

Dr. Marco Paiva concorda e amplia a crítica:

“O pacote tenta conter a hemorragia, mas ignora a causa. Sem atacar o custo do crédito e sem flexibilizar o acesso, o efeito é paliativo. O produtor pode até conseguir vender a safra, mas, com margens tão comprimidas, o lucro líquido é engolido pelo serviço da dívida. É como enxugar gelo: a cada safra, a corda aperta mais.”

A armadilha da dependência

Para o especialista, as duas medidas têm um ponto em comum: reforçam a dependência do produtor em relação ao crédito oficial, sem oferecer ferramentas efetivas de gestão de passivos.

Do governo, não virá a salvação. A realidade do campo exige que o produtor assuma o protagonismo. Isso significa conhecer as regras, antecipar riscos e buscar assessoria para renegociar dívidas, ajustar o fluxo de caixa e proteger o patrimônio. Quem fica à espera de que Brasília resolva, perde o tempo de agir.”

Dr. Marco conclui lembrando que o cenário atual exige mais estratégia do que nunca: “Não é sobre se render às condições impostas. É sobre se reestruturar para nunca mais ser refém delas.”

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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira

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