
A busca por maior lucratividade na pecuária de corte passa, inevitavelmente, por uma gestão cuidadosa das fases de cria, recria e engorda
Em 2025, com os custos de produção ainda em patamares elevados e margens de lucro cada vez mais estreitas, integrar essas etapas de forma eficiente se tornou um diferencial competitivo para os produtores.
Mais do que seguir protocolos técnicos, é necessário entender as especificidades de cada fase, planejar com antecedência e adotar tecnologias que melhorem os resultados tanto no campo quanto no frigorífico.
Cria, Recria e Engorda: Três Pilares do Desempenho
O ciclo produtivo na bovinocultura começa com a cria, momento fundamental para consolidar a base genética e sanitária do rebanho. Esse estágio compreende do nascimento até o desmame, exigindo cuidados com nutrição das matrizes, manejo adequado dos bezerros e protocolos preventivos de saúde.
Na recria, que se estende do desmame até o início da terminação, o foco é o ganho de peso e o desenvolvimento ósseo e muscular do animal. Aqui, o uso de pastagens de alta qualidade, suplementação mineral e controle sanitário rigoroso são essenciais para que os animais atinjam o peso ideal até os 12 meses de idade — meta comum em sistemas mais intensificados. Segundo levantamento da Scot Consultoria, propriedades que alcançam ganhos médios acima de 750 g/dia nesta fase tendem a encurtar o ciclo produtivo e reduzir custos com terminação.
A etapa final, engorda ou terminação, é voltada para preparar o animal para o abate. A estratégia pode incluir o uso de pastagens de inverno com suplementação proteica ou confinamento, dependendo da estrutura da fazenda e dos objetivos de mercado. Em 2025, cerca de 25% dos bovinos terminados no Brasil passaram por sistemas de confinamento, principalmente nos estados do Sul e Centro-Oeste, onde a estratégia visa padronização de carcaça e maior controle sobre o acabamento.
Gestão Integrada: Caso do Grupo Ceolin
Um exemplo de integração bem-sucedida entre as fases é o modelo adotado pelo Grupo Ceolin, no Rio Grande do Sul. Com sede em Uruguaiana, a empresa desenvolve um ciclo completo dentro da própria estrutura. As fêmeas passam por seleção rigorosa para reposição, e os machos seguem para engorda em pastagens temporárias ou confinamento.
De acordo com Juca Quintana, gerente de pecuária do grupo, os melhores resultados vêm da união entre metas claras e indicadores de desempenho acompanhados de perto. “Não adianta intensificar sem planejamento. Saber qual o destino do animal desde o nascimento é o que garante previsibilidade nos resultados”, explica. Ele destaca ainda que o uso estratégico de forragens de verão e inverno, aliado ao manejo sanitário, garante bezerros que atingem peso vivo de 230 kg aos sete meses e chegam prontos para a terminação com menos de 20 meses.

Recria: Fase-Chave Para o Sucesso
Para Vinícius Campos, consultor em nutrição e terminação bovina no Nordeste, a recria é o elo que conecta o potencial genético da cria ao resultado final da engorda. “Quando essa fase falha, o animal chega ao abate subdesenvolvido, com carcaça inferior e menor rendimento. Isso impacta diretamente a rentabilidade”, alerta. Ele aponta que verminoses, deficiências nutricionais e falta de suplementação estratégica são os principais gargalos observados em propriedades que não conseguem atingir os padrões exigidos pelos frigoríficos em 2025.
Campos também reforça que cada decisão tomada durante a recria precisa considerar a realidade do produtor: se há limitação de área, talvez o foco deva ser o ganho por hectare. Já em propriedades com menor pressão de área, o ganho individual por animal pode ser mais vantajoso.
Terminação e Comercialização: Ajuste Fino Para o Lucro
Na fase de terminação, o Grupo Ceolin opta por diferentes rotas de acordo com a categoria animal. Parte dos machos retorna aos campos de inverno aos 18 meses, enquanto outra parcela segue para confinamento com dietas baseadas em silagem de milho e grãos reidratados. Em ambos os casos, o objetivo é atingir carcaças com acabamento mínimo de 3 mm de gordura subcutânea, padrão exigido pelos principais compradores em 2025.
A decisão entre confinar ou manter a pasto considera fatores como custo de insumos, condição corporal dos animais e preço de mercado. “Hoje, uma arroba bem acabada pode chegar a R$ 280 no mercado spot, mas só alcança esse valor quem entrega padrão e regularidade”, ressalta Quintana.
Pecuária Profissional: Pessoas, Planejamento e Precisão
A modernização da pecuária exige mais do que domínio técnico: requer gestão estratégica e envolvimento da equipe. Ter colaboradores treinados, alinhados aos objetivos da fazenda e engajados com os resultados é um dos pilares do sucesso, segundo os especialistas.
Na parte financeira, o produtor deve estar atento ao fluxo de caixa, sazonalidade dos preços e oportunidades de negociação. “Quem trabalha com ciclos longos precisa pensar em planejamento anual, não mensal. Comprar suplemento na baixa e vender boi na alta faz toda a diferença no final da safra”, pontua Vinícius Campos.
Num cenário cada vez mais competitivo, onde apenas 20% a 25% das propriedades brasileiras operam com ciclo completo, a integração entre cria, recria e engorda se destaca como uma das principais estratégias para garantir rentabilidade e sustentabilidade. Seja adotando tecnologias, fortalecendo o manejo sanitário ou investindo em equipe e gestão, o sucesso na pecuária passa por decisões conscientes em todas as etapas do processo.
Como resume Campos: “Hoje, cada erro custa caro. Por isso, é preciso agir com inteligência desde o nascimento do bezerro até a entrega no frigorífico. Só assim é possível fazer da pecuária um negócio viável e competitivo.”
Escrito por Compre Rural
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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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