Criadores se esforçam para preservar raça que faz parte da história da pecuária

O gado da raça Retinta é altamente resistente a grandes períodos de seca. Além disso, são animais com bons rendimentos produtivos e reprodutivos, de grande resistência a doenças e facilmente adaptáveis às alterações climáticas.

Na Espanha, técnicos e criadores se esforçam para preservar raças antigas que são parte da história da pecuária, são cabras e bois criados desde a antiguidade, que formam hoje rebanhos muito pequenos. Um patrimônio genético importante que, se não for preservado, pode fazer muita falta no futuro.

A região é marcada por extremos climáticos, neve nos primeiros meses do ano e calor acima dos 40 graus em outros meses.  No local, com espaço pequeno –  área menor do que o estado do Sergipe, por exemplo, estão 33 raças antigas que constam na lista do Ministério da Agricultura da Espanha como animais em vias de extinção.

Essas são espécies que evoluíram durante séculos enfrentando todos os desafios e que fazem parte do tronco de origem de diversas raças espalhadas pelo mundo. Para este conjunto de animais os cientistas dão o nome de: raças autóctones.

Os touros de peleja são animais de pelagem escura, fortes e arredios, criados em pastagens cercadas por muros de pedra. O destino deles são as praças de touros. A tourada é uma tradição milenar da Península Ibérica, mas que atualmente estão sendo alvo de muitas críticas por conta da crueldade com os touros.

Foto: Complejo Agrícola Las Lomas

Segundo o médico veterinário Vicente Madrigal, é o chefe do Centro de Seleção e Reprodução de Animais da Junta de Estremadura, na província de Badajoz a vaca branca cacerenha, introduzida nos primeiros séculos da dominação romana, é o animal mais raro e em todo o mundo só existem 600 exemplares.  

É importante salvar qualquer animal do mundo. Não podemos saber se algumas das características que eles têm pode ser necessária para o futuro, como alguma resistência”, afirmou Vicente.

O trabalho do centro é feito em parceria com os produtores através das associações de criadores de cada raça. Os animais escolhidos pelos técnicos das associações passam por testes de DNA e só os puros são selecionados para coleta de sêmen. Uma parte do material é guardada no banco genético da instituição e a outra é distribuída para os criadores que são encarregados de dar continuidade à raça.

Foto: Divulgação

Gado Retinto

O gado retinto também é nativo da Estremadura. Muito dócil e também muito resistente, os animais suportam temperaturas de 40 graus no verão e abaixo de zero no inverno. De cor avermelhada, demonstram mais aptidão para a produção de carne do tipo marmoreada, portanto, mais saborosa. E, conseguem se adaptar bem em regiões de pouco pasto e água escassa.

Foto: Complejo Agrícola Las Lomas

O médico veterinário José Maria Gomes, Conselheiro de Agricultura Alimentação e Meio Ambiente da Embaixada da Espanha no Brasil, diz que através de um convênio com o governo brasileiro está raça será testada em Mato Grosso e no Nordeste, para onde serão levados embriões e sêmen.

A fazenda La Zafrilla tem 200 animais da raça retinta criados numa área de 300 hectares de pasto nativo. A carne do retinto também está incluída no rol dos produtos de denominação de origem que conseguem preço diferenciado no mercado. Hoje eles não necessitam mais de ajuda para manter as 140 mil matrizes puras. Número suficiente para garantir a continuidade da raça.

Foto: Fleckvieh

Origem da raça Retinta

Segundo a Associação Brasileira dos Criadores de Bovinos da Raça Retinta, a raça Retinta é derivada do tronco étnico denominado Bos taurus turdetamus, originário do Oriente Médio, que bordejando o norte da África, acompanhando as tribos Semitas, alcançou o sul da península Ibérica através do estreito de Gibraltar. 

Deve ter chegado a península seguindo os deslocamentos das populações que usavam o mesmo ponto para atingir o continente europeu.

A raça desenvolveu-se nas regiões de Andaluzia e Extremadura na Espanha, uma parte do país que apresenta invernos muito frios e verões quentes e secos. Ali se aprimorou pela seleção natural e  expandiu para outras partes do território espanhol, sendo hoje a Raça Nacional da Espanha com o maior rebanho do país.

A estirpe com maior número de animais é a Tamerone, que foi melhorada na região de Cadiz na Finca Las Lomas.

Associação Brasileira dos Criadores de Bovinos da Raça Retinta
Foto: Divulgação

Foi durante muito tempo considerada apenas uma raça de animais de tiro e lida. Puxava os carros e carroças que transportavam lã, trigo e carvão interligando as cidades espanholas. Era tão importante para a economia da época este tipo de transporte, que em 1447 os Reis Católicos Fernando e Isabel criaram uma entidade que congregava estes carreteiros.

Durante o período das Grandes Navegações, eram os animais da raça que embarcavam em Sevilha para acompanhar as expedições para vir trabalhar na América. Ajudou a formar as diversas raças Crioulas, presentes em todos os países de colonização ibérica.

No final do século XIX foi desenvolvida a sua aptidão para carne e  no início do século XX a Associação Geral dos Ganaderos da Espanha começou a fazer o registro genealógico que em 1933  foi transferido  para o Ministério da Agricultura.

Em 1970 foi criada  a ‘Asociación Nacional de Ganado Vacuno Selecto de Raza Retinta’, reconhecida pelo governo em 1975, que passou a cuidar deste registro genealógico.

Os animais têm pelagem vermelha variando de escura, a retinta, até a mais clara que são mais comuns nas regiões costeiras.

O macho da raça pesa entre 900 kg a 1100 kg podendo chegar 1400kg e tem uma altura média de 140 cm. A fêmea pesa entre 550 kg e 600kg e tem uma altura média de 136 cm.

Há animais da raça Retinta no Brasil?

Há cerca de 10 anos o estado do Tocantins havia assinado um acordo para a introdução da raça Retinta no Brasil. “O objetivo desta visita vai além de conhecer o rebanho. Queremos demonstrar o interesse do Tocantins em levar a raça Retinta, ainda este ano, para a região”, declarou à época o secretário da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Agrário, Jaime Café. 

Abaixo podemos ver uma novilha da raça Retinta PO, em solo brasileiro, no Município de Ji Paraná, no estado da Rondônia. o vídeo foi publicado pela Associação Brasileira dos Criadores de Bovinos da Raça Retinta.

O governo através de parcerias público-privada forneceu material genético para o projeto, que será implementado pela Seagro, visando divulgar os benefícios da raça retinta aos produtores rurais do Estado. A Seagro indicou a Universidade Federal do Tocantins para receber os sêmens e embriões, realizar o cadastro dos produtores interessados em cruzar a raça com o Nelore, monitorar os resultados e realizar a pesquisa da raça na região.

Tentamos entrar em contato com a associação da raça e não obtivemos resposta até a finalização da matéria.

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