O Brasil depende de cerca de 85% de suas necessidades de fertilizantes e, como sabemos, a crise já é vivida pelo setor; Neste cenário, essa crise deve se agravar ainda mais, veja os motivos!
Crise dos fertilizantes deve se agravar no Brasil e no mundo. Com os preços já em alta, devido a problemas político-econômico em importantes países, deve trazer maiores dificuldades após instauração da Guerra na Ucrânia, o que já havia sido anunciado por causa da oferta de potencial reduzido para a crescente demanda mundial de fertilizantes. O Brasil depende de cerca de 85% de suas necessidades de fertilizantes. A Rússia é seu maior fornecedor de matérias-primas para os adubos.
Uma grande parcela do setor vinha adiando compras à espera de uma possível melhora na oferta de insumos e uma mudança dos preços que, com o início de uma guerra e a dificuldade econômica, devem trazer um agravamento da crise e, esses agricultores, devem sofrer um impacto negativo nas suas margens de lucro por conta dos preços elevados e oferta reduzida dos produtos no mercado.
“O mercado vinha trabalhando com uma espera de alguma acomodação dos preços porque a China deve sair das compras após o período que ela reabastece seu mercado. E aí, consequência disso, é que os produtores estão esperando, ninguém fez aquisições. O volume negociado está menor porque também estão relacionados com o pé atras do risco grande de importarem com o preço alto e depois vender aqui a um preço mais baixo” apontou o Consultor do Itaú, César de Castro Alves.
A ação militar da Rússia em território ucraniano gera apreensões em todo o mundo. Em especial, a atividade portuária e o comércio exterior temem pelos reflexos do conflito que podem atingir o mercado e a produção no Brasil. “Para se ter uma ideia, das quase 11,5 milhões de toneladas importadas de fertilizante no ano passado, cerca de 2,35 milhões, mais de 20%, vêm da Rússia”, afirma o executivo.
“É a tempestade perfeita”, disse Jeferson Souza, analista da Agrinvest Commodities.
“Dentre os grandes produtores de soja, o Brasil é o que tem mais a perder“, disse ele, acrescentando que os concorrentes como Estados Unidos e Argentina não usam tanto fertilizante importado quanto o Brasil.
A situação levanta dúvidas sobre se o Brasil pode expandir sua área plantada com soja 2022/2023, pois os podem tornar-se proibitivos, disse Souza. O Brasil comprou cerca de 40 milhões de toneladas de produtos fertilizantes em 2021, um recorde, com a Rússia respondendo por cerca de 9 milhões de toneladas desse volume, segundo os dados compilados pela Agrinvest.
Crise e avaliação do impacto
Apesar da apreensão da alta nos preços, o assessor técnico da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Lucas Martins, acredita que a valorização pode não se concretizar. “Ainda é cedo para falar em crise no mercado de fertilizantes, precisamos esperar os desdobramentos desse conflito. A produção de fertilizantes depende muito de gás natural e essa commodity convive com volatilidade nos preços há um bom tempo”, pontua.

Como explica o gerente executivo do Sindicato da Indústria de Adubos e Corretivos Agrícolas no Estado do Paraná (Sindiadubos), Décio Luiz Gomes, tanto a Rússia como o país vizinho, Belarus, são grandes produtores de fertilizantes, principalmente o cloreto de potássio.
“A apreensão é quanto os problemas logísticos para escoar esses produtos. A invasão da Rússia à Ucrânia complica ainda mais a situação que já estava delicada com a Belarus, outro importante mercado”, comenta.
Segundo Gomes, o mercado e a indústria dos fertilizantes no Brasil – assim como em todo o mundo – já estava sentido há algum tempo, quando a Rússia decidiu suspender as exportações dos produtos.
Outra situação no Leste Europeu, que também já vinha preocupando o segmento, era o impedimento imposto pela Lituânia para circulação de produtos da Belarus. O país é outra opção, além da Rússia, para o escoamento da produção de cloreto de potássio para o mundo. “Uma alternativa para o mercado brasileiro, na importação do produto, seria o Canadá, também grande produtor e exportador do cloreto”, completa.
A maioria das empresas produtoras de fertilizantes nos dois países – Rússia e Belarus –, como ainda explica Gomes, são estatais. “Ou seja, as decisões dessas empresas vão a reboque do que decidem os respectivos governos em relação ao mercado internacional”, pontua o gerente executivo.
“A redução da oferta mundial de fertilizantes certamente vai nos afetar”, comenta. A falta de produto e o aumento de preço, segundo ele, serão os principais efeitos do conflito que gera impacto, também, nas demais atividades, incluindo a agricultura e o consumo final no país.
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Dificuldade logística
Dificilmente os portos do Paraná recebem navios com bandeiras desses países (Rússia, Ucrânia ou Belarus). Segundo o presidente do Sindicato das Agências de Navegação Marítima do Estado do Paraná (Sindapar), Argyris Ikonomou, a preocupação não é tanto com a mão-de-obra, no caso, das tripulações.
“A possibilidade de impacto negativo que eu consigo enxergar, no momento, seria a dificuldade, alto risco e o aumento do valor dos fretes para navios que, a partir de agora, vão escalar em portos da Rússia para carregamento de fertilizantes, por exemplo”, comenta.
No entanto, segundo Argyris, é preciso aguardar a evolução desse conflito. “Ainda é muito cedo para saber o que vai acontecer nos próximos dias”, completa o representante das agências marítimas no Paraná.