Crise hídrica: “Eu liguei para São Pedro”, diz Bolsonaro

O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta segunda-feira que não dá para fazer milagre, mas em tom de brincadeira disse que ligou para São Pedro.

O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta 2ª feira (11.out.2021) que a crise hídrica no país “acabou praticamente ”. Questionado sobre medidas do governo para controlar o problema, o chefe do Executivo disse que ligou “para São Pedro” para mandar chuva ao Brasil.

O presidente, ainda na entrevista, firmou nesta segunda-feira que não dá para fazer milagre no enfrentamento aos atuais problemas do país, como a crise hídrica e a inflação, mas em tom de brincadeira disse que ligou para São Pedro.

O presidente está em Guarujá (SP), onde passa o feriado prolongado. O local está com tempo chuvoso. Bolsonaro comemorou a vinda da chuva e afirmou que o país estava “ sofrendo ” com uma crise de escassez de água somada à informação, que impactou o preço da energia elétrica.

“ Nós estamos na maior crise – quer dizer acabou praticamente. A maior crise hidrológica dos últimos 90 anos. Todo mundo estava sofrendo com isso, afirmação de energia cara ”, afirmou.

Em setembro, o governo implementou uma nova bandeira tarifária , em caráter excepcional, até abril de 2022, o que encareceu a conta de energia ao consumidor.

O chefe do Executivo disse que a consequência da política de fechamento adotada para frear a contaminação pelo novo coronavírus. Contrário às medidas de restrição, culpou governadores e prefeitos por “ quebrarem ” a economia.

Segundo Bolsonaro, muita gente apoiou essa política. “Não dá para fazer milagre”, emendou.

Questionado para falar sobre a crise hídrica, o presidente respondeu, sob risos dos apoiadores: “Eu liguei para São Pedro”.

“ Agora, isso tudo política política, que vocês apoiaram da imprensa, ‘fica em casa que a economia a gente vê depois’. Muita gente apoiou isso daí, estão pagando conta ”, disse.

Como é o cenário brasileiro em relação às crises hídricas?

Quando falamos em crise hídrica no Brasil, o desmatamento é um assunto em pauta. Afinal, com o desmatamento da Amazônia, parte da evapotranspiração da floresta deixa de ocorrer, impedindo a precipitação em outras partes do território brasileiro e, consequentemente, a chegada da água. Isso, por fim, contribui para o aumento das temperaturas e diminuição do nível da água em reservatórios de usinas e cidades.

Em 2021, com notícias que anunciam a gravidade da crise hídrica nacional, o desmatamento também aparece como causa na visão dos especialistas. O professor do Instituto de Energia e Ambiente da USP, Pedro Jacobi, por exemplo, em entrevista a CNN, “afirmou que a baixa histórica do nível dos reservatórios das hidrelétricas está associada à questão concreta do desmatamento da Amazônia.” De acordo também com Paulo Artaxo, professor titular do Departamento de Física Aplicada da USP e membro do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC).

“Nós estamos alterando o fluxo do vapor de água para o restante do país. Portanto, um dos componentes da seca no brasil central, sem dúvida nenhuma, pode ser o desmatamento na Amazônia aliado às mudanças climáticas globais”

Conforme dados do Monitor de Secas do Governo Brasileiro, no início do segundo semestre de 2021, por exemplo, nas regiões do Centro-Oeste e Sudeste, tem-se o avanço da seca excepcional.   

seca no rio parana
Foto: Divulgação

Assim, com os reservatórios das regiões em níveis muito baixos, poderá ocorrer desde o aumento de preços dos alimentos a cortes planejados de água. Além disso, outro reflexo da pior crise hídrica dos últimos 91 poderá ser a falta de energia – o famoso blecaute.

Contudo, se engana quem pensa que as crises hídricas são uma nova realidade no país. Desde o início do século XXI, esse já é um problema para os brasileiros. Vale mencionar que em 2001, por exemplo, como grande parte da energia utilizada dependia das hidrelétricas, quando chegou o período da seca e os reservatórios foram atingidos, o país começou a enfrentar blecautes. Em 2014, novamente pela falta de chuvas, o Sistema Cantareira (responsável pela captação e tratamento de água da Grande São Paulo) enfrentou uma árdua seca.

Por fim, quando falamos em crises hídricas, outro fator crucial no cenário brasileiro são os aquíferos. O aquífero guarani, por exemplo, é o maior manancial de água doce subterrâneo transfronteiriço do mundo e está localizado no Brasil. Em uma tentativa de obter mais água potável, o uso de água dos aquíferos para a agricultura pode levar a sérios prejuízos para o meio ambiente, como a contaminação dos mesmos – por conta de fertilizantes e pesticidas em atividades agrícolas – e ao esgotamento deles. 

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